Compromisso não é obrigação, é uma escolha baseada em valores
por Rosa Avello* Publicado em 14/02/2011, às 17h30
Ouvi recentemente alguns rapazes conversando sobre compromissos afetivos. Um deles dizia que a namorada o acusava de ser incapaz de assumi-los. O outro foi enfático no conselho: "Olha, assuma qualquer coisa, menos compromisso. Quem cobra compromisso quer ver a gente perder a liberdade e se encher de obrigações". O exemplo serve para uma reflexão sobre o modo como se interpreta hoje o "assumir compromissos". Assumir não é uma ação imposta por outro. Quem assume toma para si, é agente da ação. Ao assumir o que quer que seja se faz uma escolha, age-se por opção. E compromisso? O senso comum entende que também é sinônimo de obrigação. Mas o que caracteriza compromisso é a atitude de agir de acordo com os próprios valores e princípios. Pessoa de compromisso é aquela que cumpre o que promete porque por princípio só promete o que pode cumprir. Em resumo, assumir compromisso afetivo é tomar para si um acordo feito com o outro porque tem por princípio honrá-lo, não porque está obrigado a fazê-lo. Infelizmente, é difícil ter plena consciência dos princípios e dos valores recebidos ao longo da vida.
Por serem transmitidos pela educação e pela cultura, é comum que algumas vezes tenhamos nossas escolhas orientadas por valores e princípios conflitantes. É o que ocorre no caso do rapaz que namora a moça e, embora esteja apaixonado, não quer se casar. Após algum tempo, sente-se pressionado, a família dela espera que ele "assuma o compromisso". Ele resiste o quanto pode mas, então, mais por culpa do que por convicção, propõe casamento. Para ele isso é "assumir um compromisso afetivo". Meses depois decide separar-se. Age igualmente sem convicção, porque ainda gosta da moça, mas se sente sufocado e se arrepende de ter se casado.
Casos como esse, em que aparentemente nos sentimos empurrados a agir em desacordo com o que pensamos ser nossa vontade, são comuns e servem para cristalizar a ideia de que compromissos são obrigações. Uma análise mais apurada revelaria que esse moço tem valores conflitantes, portanto vontades conflitantes. Por um lado, herdou princípios tradicionais, para ele as expectativas da moça e da família são razoáveis e válidas. Também sente paixão pela moça e deseja viver ao seu lado. Isso faz com que em alguns momentos casar pareça ótima ideia.
Por outro lado, o moço criou-se numa época em que homens e mulheres são independentes, escolhem viver como e com quem desejam, sem a necessidade de um contrato formal como o casamento e sem que a família tenha de se envolver no assunto.
Por viver numa sociedade individualista, ele pode ter desenvolvido princípios egoístas e aprendido a valorizar liberdade e independência acima das relações afetivas. Por isso, ao se casar não consegue construir com a esposa um relacionamento que preserve o espaço para a autonomia e a individualidade de ambos, o que seria possível caso se comprometessem a isso.
De um modo ou de outro, o rapaz de nosso exemplo sempre verá compromissos afetivos como obrigações impostas pelos outros e será visto como alguém incapaz de assumi-los.
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