por Deonísio da Silva* Publicado em 13/12/2010, às 16h55
Agito: de agitar, do latim agitare, agitar, levar adiante, excitar, fazer muitas vezes. É do mesmo étimo de agitação e designa evento festivo e animado, na linguagem dos jovens das classes médias. O Aurélio ainda o registra como gíria e dá como sinônimo de ouriço, abonando-o assim: "A festa de ontem foi o maior ouriço". Mas ouriço agora é agito. A metáfora é semelhante. Com os espinhos levantados, o animal, embora furioso, aparenta estar apenas excitado, como se arrepiasse os pelos por alegria, excitação ou animação, como os humanos. Nas revoluções e movimentos sociais, agito é substituído por agitação. Em muitos livros de História, a palavra agitação é usada sem cuidados, como no caso do México, quando se designa por agitação a Revolução de 1910, que durou 10 anos e fez 1 milhão de vítimas num país de 15 milhões de habitantes. Os agitos festivos, ao contrário, só excepcionalmente terminam com mortos e feridos. Em Ubatuba (SP), há um jornal chamado Agito que já tem 25 anos.
Caixeiro-viajante: de caixa, do latim capsa, acrescido do sufixo "eiro", comum para designar ofícios (marceneiro, ferreiro, carpinteiro), e viajante, de viajar, vinculado a viagem, do provençal viatge. Designa profissional de importância decisiva para a expansão do comércio. Primeiramente no lombo de cavalos e burros, depois em trens e barcos, e por fim em veículos da empresa à qual servia ou em carro próprio, o caixeiro-viajante levou os produtos a lugares distantes das praças onde o comércio estava sediado.
Mascate: do árabe Masqat, capital do sultanato de Omã, no leste da Península Arábica. Mascate é cidade portuária do golfo de mesmo nome e dividida em três territórios: Masqat, a cidade amuralhada, onde estão os palácios reais; Matrah, a vila de pescadores; e Ruwi, o centro comercial e diplomático. No Brasil, mascate tornou-se substantivo masculino para designar a profissão de caixeiro-viajante porque esse trabalho foi exercido preferencial e copiosamente por imigrantes árabes vindos da cidade de Mascate, que foi tomada pelos portugueses em 1507, cujas tropas eram comandadas pelo célebre Afonso de Albuquerque (1453-1515), competente, feroz e terribilíssimo, cognado também "O Terríbil" e "O Leão dos Mares". Foi um gênio militar. Suas memórias foram preservadas pelo filho bastardo, Brás de Albuquerque (1500-1580), legitimado pelo próprio rei. Devemos ao rebento nascido e criado fora do leito conjugal oficial os registros dos trabalhos do pai e do que pensava sobre a vida. Mascate tornou-se sinônimo de mulato, moreno e trigueiro pela cor dos antigos vendedores ambulantes, que descendiam de árabes ou de negros, ou de mistura de raças que os amorenaram. O Brasil deve muito aos mascates. A cidade de onde vieram esses imigrantes existia em 6000 anos a.C. e é posta como uma das mais antigas do mundo, ao lado de Damasco, Jericó e Jerusalém. Há vestígios de enterros rituais de pescadores datados daqueles tempos. Hoje, em Mascate como em todo o pequeno reino, o petróleo e o turismo são as fontes principais da riqueza.
Ouriço: do latim hericius, escrito também ericius, designando animal de mais ou menos 40 centímetros de comprimento, com o dorso coberto de espinhos curtos e lisos e as partes inferiores por pelos. No latim, a mesma palavra aplicada ao bicho designava trave com pregos para servir de obstáculo aos assaltantes. Servia de proteção a casas e propriedades, à semelhança dos arranjos com pregos e cacos de vidro postos hoje em muros de residências. Há cerca de 14 espécies de ouriço no Brasil. O bichinho é conhecido também como porco-espinho e ouriço-cacheiro, mas ele não vende nada. Quem vende e viaja para fazer isso é o caixeiro-viajante.
Tacar: de atacar, com aférese, isto é, exclusão do "a" inicial, vindo do italiano atacare, palavra formada do germânico taikka, rastro, sinal, vestígio. É do mesmo étimo de ataque, mas no Brasil o verbo tem essas duas formas, atacar e tacar, este último dito e escrito às vezes como sinônimo de tocar. Exemplos: "Os bandidos tacaram fogo nos ônibus", ação frequente no Rio de Janeiro quando os traficantes, desesperados e perdendo terreno para a polícia nos morros, dali descem e apelam a um modo simples de assustar a população, queimando veículos de transporte coletivo, como ônibus e vans.
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