Mulher perdoa marido traidor e culpa a outra por seu sofrimento
por <b>Leniza Castello Branco</b>* Publicado em 30/03/2010, às 09h07 - Atualizado em 09/08/2012, às 18h35
Depois de uma série de escândalos sexuais, o golfista americano Tiger Woods (34) internou-se numa clínica que trata de sexo compulsivo e se desculpou publicamente por ter sido infiel à mulher. Louvável. Só que traição não é doença. Não tem nada a ver com clínicas ou vício. Ter amantes pode ser um problema ético, uma forma de encarar o casamento, até um acordo do casal, mas não é patológico. Quem trai sabe muito bem o que está fazendo.
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), os presidentes americanos John F. Kennedy (1917-1963) e Bill Clinton (64), o presidente francês François Mitterrand (1916-1996), o psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), o príncipe Charles (61) e muitos outros tiveram amantes e nem por isso eram doentes. Quando o presidente da África do Sul, Jacob Zuma (68), casou-se pela terceira vez, lhe perguntaram como se sentia por ter três mulheres ao mesmo tempo. Ele disse: "Eu só não sou hipócrita; na Europa todos fazem a mesma coisa mas não contam".
Zuma não deixa de ter razão. A outra é uma instituição tão antiga quanto o casamento. Apesar disso, continua na marginalidade, é vista como destruidora de lares, interesseira.
O homem que tem um relacionamento extraconjugal diz que não pode se separar por causa dos filhos, ou porque a mulher é doente, dependente dele, louca, pode se matar e por aí vai. Alguns são mais sinceros e admitem que gostam da esposa, mas alegam que a rotina do casamento matou a paixão. A relação com a outra conta com a surpresa, com a clandestinidade, o que parece aumentar o desejo.
Na maioria das vezes ela não tem nada de "destruidora de lares". Apenas se apaixonou por um homem que sabe ser impossível, que, ao contrário do que se pensa, lhe dá muito menos do que dá à esposa e nunca será inteiramente seu. Carente, está sempre disponível para ele e até o ajuda profissionalmente, como secretária, assessora ou com ideias, sugestões. É sua musa inspiradora.
Essa relação em geral não tem nada de interesseira. Entre outras perdas, ela aceita passar os fins de semana e todas as datas importantes sozinha. Só uma psicoterapia para descobrir o que a leva a aceitar tão pouco. Claro que existem algumas que entram na relação para tirar proveito, do mesmo modo como há mulheres que continuam casadas só por interesse. "Não sou feliz, mas tenho marido", elas dizem.
Frequentemente o triângulo marido-esposaamante encontra um equilíbrio, e, assim como o casamento, pode durar anos. A esposa parece ser uma parente da "outra", que aconselha o amante quando ele lhe traz os problemas com a mulher - embora a odeie, ache que é uma bruxa e que não gosta do marido. Se o casamento termina, é comum que o caso também chegue ao fim.
Não sei dizer se ele gosta das duas ou de nenhuma. Elas não o condenam. A esposa culpa a "piranha" que quer lhe roubar o marido, mas prefere ser traída e não perder o "estado marital". A amante tem pena dele, porque é "obrigado a aguentar aquela chata" e, querendo ser amada, tenta ser compreensiva. Ele só se dá bem, e não se entrega totalmente a nenhuma. Tem sempre alguma teoria biológica ou sociológica para se justificar e, se puder, ainda trai as duas. Afinal, como na fábula do escorpião e do sapo, "está na sua natureza".
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