por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 26/01/2010, às 16h01 - Atualizado em 09/02/2010, às 12h15
Arrastão: de arrasto, que se formou de rastro, pela variante rasto, com o prefixo "a" e o sufixo "ão". A origem remota é o latim rasum, particípio de radere, rapar, raspar, com influência de rastrum, espécie de enxada com dentes, usada na pecuária e na lavoura, também conhecida como restelo e ancinho, este vindo do latim uncinus, já que uncus é grampo em latim. Utilizado para juntar feno ou palha e também no preparo da terra para o plantio, por metáfora veio a designar rede que apanha peixes de todos os tamanhos. Na capoeira, designa o golpe aplicado em partes vulneráveis do adversário, semelhando o pontapé. Com este nome há também meia longa feminina, por dupla metáfora: semelha a rede para pescar e o fetiche que pesca, isto é, seduz o homem. Mas na mídia a palavra tem sido mais frequente para designar ação de assaltantes em grupo, atacando diversas pessoas e roubando tudo que têm consigo.
Discotecar: de disco, do grego diskós, prato e objeto redondo lançado em arremesso, pelo latim discus, disco, e teca, elemento de composição de palavras, do grego theke, caixa, presente em biblioteca, formaram-se discoteca e discotecar. O verbo designa ato de selecionar as músicas para uma festa, baile ou outro evento festivo. Aparece no insolente, divertido e bem escrito conto O Segredo ou Como Pensar Positivo após um Desastre Aéreo, do livro Novos Monstros: Histórias do Mundo Atual, do escritor, roteirista e diretor de televisão Newton Cannito (36): "As luzes foram apagadas. Pelo microfone, Alberto nos convocou para ir até a pista. Nosso jovem presidente também era meio artista, hiperligado em música eletrônica, e iria discotecar para nós naquela noite. Lá do bar eu pude ver as menininas se levantando dos sofás e correndo animadas para dançar".
Espião: do italiano spione, espião, mas provavelmente influenciado pelo francês spion, ambos radicados em spëho, olhar com alguma intenção, tal como encontrado na língua dos antigos francos, que trouxeram o étimo do antigo germânico. A origem remota pode ter sido o latim specere, guardar, observar, cuidar. O gótico spahía, sentinela, deu spia no italiano, de onde veio ao português espia. Talvez espião tenha nascido para designar quem espia mais do que deve, intrometendo-se na vida dos outros, já que todos precisamos observar, até por delicadeza, a existência do outro. No plural, dá título ao romance Os Espiões, de Luis Fernando Verissimo (73), que tem abertura antológica: "Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer. Mas só bebo nos fins de semana. De segunda a sexta trabalho numa editora, onde uma de minhas funções é examinar os originais que chegam pelo correio, entram pela janela, caem do teto ou são atirados na minha mesa pelo Marcito, dono da editora, com a frase 'vê se isso presta'. A enxurrada de autores querendo ser publicados começou depois que um livrinho nosso chamado Astrologia e Amor - Um Guia Sideral para Namorados fez tanto sucesso que permitiu ao Marcito comprar duas motos novas para sua coleção".
Naufragar: do latim naufragare, naufragar, isto é, frangere, quebrar, o navio, navis, palavra do mesmo étimo de náufrago, pela variante fragus, do particípio deste verbo latino irregular, que é fractum. Diz-se que o maior naufrágio do mundo foi o do Titanic, em 1912, mas houve outro, muito maior, equivalente ao de seis Titanics, quando os soviéticos afundaram no Mar Báltico um transatlântico alemão, em 30 de janeiro de 1945, que levava cerca de 10000 alemães, na maioria militares, fugitivos da II Guerra Mundial.
Riacho: do espanhol riacho, riacho, rio pequeno, de poucas águas, mais volumoso do que o regato e menos do que a ribeira. O espanhol tem também riachuelo, mas esta palavra não veio para a língua portuguesa, sendo, porém, muito conhecida por dar nome à batalha naval decisiva, travada entre a Marinha do Brasil e a do Paraguai, no Rio Paraná. Um detalhe impediu a vitória paraguaia. Foi planejada para ocorrer na madrugada de domingo, 11 de junho de 1865, quando seria denso o nevoeiro, mas um dos navios paraguaios quebrou e o ataque começou às 9h00. Foi nesse combate que o almirante Francisco Manuel Barroso da Silva (1804-1882) consagrou esta máxima: "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever". E foi nela que tiveram morte heroica, entre centenas de brasileiros, o carioca João Guilherme Greenhalgh (1845-1865), de 20 anos, e o gaúcho Marcílio Dias (1838-1865), que se enrolou na bandeira do Brasil antes de receber dezenas de cutiladas. Morreu no dia seguinte.
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