Etimologia
Redação Publicado em 13/10/2009, às 11h07
Cretino: do francês crétin, cretino, imbecil, formado a partir de chrétien, cristão, mas designando o falso devoto, posto sob a proteção da Igreja no cantão de Valais, na Suíça, por volta de 1720. No século II, na Roma antiga, os cristãos, inicialmente perseguidos por recusarem os deuses pagãos, chegando a ser martirizados por isso, foram em seguida apenas desprezados como bobos. Os falsos devotos, tidos por cretinos, dezesseis séculos depois recebiam denominação que se radicava remotamente no conceito de que os cristãos eram idiotas. Eles só podiam exercer duas profissões, carpinteiro ou serrador, e "deviam usar uma pata de ganso presa a um tecido vermelho que se cosia às roupas, de modo que as outras pessoas pudessem evitá-los", segundo nos informa Orlando de Rudder (59), escritor e pesquisador francês, de etnia negra, doutor em História da Idade Média, em In Vino Veritas: Dictionnaire Commenté des Expressions D'Origine Latine, publicado também em Portugal, com tradução de Tiago Marques, com o título mudado para Cogito Ergo Sum. In Vino Veritas quer dizer No Vinho, a Verdade, e Cogito Ergo Sum, também expressão latina, significa Penso, Logo Existo, e foi usada pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650) em Discurso do Método, obra escrita originalmente em francês e anos mais tarde traduzida para o latim.
Figurino: do italiano figurino, figura pequena, desenho de uma pessoa ou mais precisamente nos tempos modernos do como ela se veste, da roupa que usa, da moda, figurino. Uma das leis da moda é que o que está na moda está saindo de moda, já que a essência da moda é ser efêmera, passar logo. Mas há uma exceção. As ilustrações de antigos catecismos da doutrina cristã mostram Deus como um senhor severo, há tempos sem visitar o barbeiro, sentado num trono de nuvens. Barbas, cabelos, roupas, tudo nele é comprido e inteiramente branco. O modelo, criado na Idade Média, jamais foi atualizado. A calça jeans tornou-se universal, mas Deus continuou vestido do mesmo modo. O figurinista do céu abomina as novidades. Lá a moda é sempre a mesma. Faça frio ou calor, as figuras celestiais vestem uma leve roupa branca. Conclusão: o céu sempre teve ar condicionado.
Revogar: do latim revocare, chamar de novo, dizer que volte. Em latim, vocare é chamar, verbo do mesmo étimo de vox, voz. Passou a ter o sentido de anular, tornar sem efeito. Houve mudança na pronúncia, de "c" para "g", comum na língua portuguesa. O latim cattus virou gato. O verbo esteve nas primeiras páginas dos jornais na última semana de setembro, quando o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti (65), admitiu revogar o estado de sítio, que ele baixou, restringindo as liberdades individuais e fechando emissoras de rádio e televisão que tomaram o partido de Manuel Zelaya (57), o presidente anterior, afastado pela Suprema Corte por violar a Constituição, segundo seus adversários, e deposto por golpe de Estado, segundo seus seguidores.
Sorbonista: de Sorbonne, designando quem estudou, lecionou ou de alguma forma está ligado à faculdade e depois universidade francesa, que se tornaria uma das mais famosas do mundo, fundada pelo cônego Robert de Sorbon (1201-1274), confessor e conselheiro do rei Luís IX (1214-1270). Vários intelectuais brasileiros estudaram na Sorbonne, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (78). Nascido numa família rural muito pobre, Sorbon soube valorizar o saber, o ensino, a pesquisa e fundou uma das primeiras universidades do mundo. Foi com ele que a universidade ganhou prestígio, influiu no reino, nas coisas públicas, apoiando o talento, sobretudo aquele que vicejava nos meios pobres.
Videocassetada: de vídeo, do latim video, eu vejo, do verbo videre, ver, pelo inglês video, e cassete, do latim capsa, caixa, pelo francês cassette, caixinha, ao inglês cassette, palavra adotada na Inglaterra e nos Estados Unidos sem modificação do modo de escrevê-la. É do mesmo étimo de cápsula, caixinha, do latim capsula, diminutivo de capsa. Videocassetada é neologismo criado na televisão para designar o vídeo, geralmente caseiro, que atinge um fim inesperado, em que as pessoas filmadas se dão mal. Houve influência de cacetada, de cacete, do francês casse-tête, pedaço de madeira que, como a etimologia indica, atinge a cabeça. Mas no francês, originalmente, casse-tête designava problema de difícil solução, o conhecido quebra-cabeça. Nas mãos da polícia, cassetete veio a designar bastão, com alça na ponta, usado para dispersar aglomerações e garantir a ordem pública.