Não se engane. Aquele que fala mal do parceiro, fala mal também de si
por <b>Rosa Avello</b>* Publicado em 05/10/2009, às 20h50
As relações afetivas são bem variadas hoje. No passado, havia paquera, namoro, noivado e casamento. Agora, dependendo do grau de compromisso, da qualidade do vínculo e da frequência e intensidade dos encontros, as uniões assumem caráter diferente. A quantidade de modos de "ficar" atordoa quem se disponha a entender o que isso significa.
Até aí, tudo bem. O problema é que outras coisas também parecem estar mudando. Um princípio que sempre regeu as relações é o de que, quanto maior o grau de compromisso, maior a cumplicidade. Mas tenho visto casais envolvidos em relações de muito compromisso que agem como se fossem "ficantes". Um exemplo disso é o hábito de usar o cônjuge como assunto em conversas com amigos e até com estranhos.
Recentemente observei, na porta de uma escola, à espera dos filhos, um grupo de quatro mulheres. Aparentemente faltava assunto - até que uma resolveu falar do marido. Quer dizer, resolveu falar mal do marido. Começou por descrever os modos rudes dele no trânsito e logo passou ao comportamento agressivo que tinha com ela e com os filhos. Ela até encontrava justificativas para ele ser assim. Dizia que a agressividade era fruto dos problemas que tivera com a mãe alcoólatra.
Orgulhosa do seu "Freud de bolso", narrava os detalhes da infância miserável do marido. Assumindo atitude ostensivamente superior, garantia que na família dela jamais aconteceram coisas semelhantes. Ora, e o que é o marido se não integrante da família dela?
As outras acrescentavam à conversa exemplos de como as sogras haviam "estragado" os respectivos maridos. Nenhuma se deu conta de que, ao criticar e desqualificar o parceiro, desqualificava e aniquilava a si mesma! Isso não parece óbvio para a maioria as pessoas. Homens e mulheres criticam o comportamento dos cônjuges como se não compartilhassem a vida com os mesmos.
Em tempos de "reality shows", perdemos a noção de discrição, de intimidade e de companheirismo. Privacidade está fora de moda. Falar mal do companheiro é habitual em cabeleireiros, no trabalho, na roda de amigos e até mesmo nos encontros com vizinhos.
Mas, parodiando o ditado, dize-me com quem estás casado ou casada e te direi quem és. Casais que vivem juntos completam-se. Isso é inquestionável! Daí ser impossível identificar de quem é a culpa quando a relação vai mal. Se um é ruim, é pouco provável que o outro seja melhor. Ao longo da vida em comum, o casal se adapta para viabilizar a relação. Se uma pessoa compartilha a vida com outra, mesmo que isso seja ruim, já desenvolveu mecanismos para a manutenção do vínculo. Isso as equipara.
Além do mais, cônjuges são escolhas. É verdade que, ao menos no início, nossas idealizações distorcem os escolhidos. Mas essas idealizações não se sustentam com a convivência. As pessoas se revelam nas relações. Ao continuar ao lado de alguém, confirmamos a escolha que fizemos. Se nos desagrada e prejudica, sempre existe a alternativa saudável da separação.
Se ficamos, seja por qual motivo for, devemos ser discretos e reservados, sob o risco de passarmos por incoerentes e incompetentes em fazer escolhas. Expor os defeitos de nosso cônjuge é expor em dobro os nossos.