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ETIMOLOGIA

por <b>Deonísio da Silva</b>* Publicado em 17/08/2009, às 17h28

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Arame: do latim aeramen, fio elaborado de liga de metais, em geral bronze, cobre e zinco. Uma variante, alambre, do espanhol alambre, está presente em alambrado, isto é, terreno cercado com arame. Arame, assim como cobre, foi gíria de dinheiro. Usa-se arame liso nas cercas, especialmente para conter o gado, mas também arame farpado, que se tornou tristemente famoso nas guerras e nos campos de concentração para confinar ou deter soldados ou civis. Ele veio substituir em fazendas e casas a cerca-viva e a taipa, muito utilizadas até o século XX, menos nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul, onde os animais eram contidos por hábeis cavaleiros. O arame farpado - em inglês, barbed wire - foi inventado em Illinois, Estados Unidos, pelo ex-seminarista e ex-professor Joseph Farwell Glidden (1813-1906), quando voltou para a fazenda do pai, depois de uma tragédia familiar: seus dois filhos morreram durante uma epidemia, e a esposa e o terceiro, então nascituro, morreram nos trabalhos de parto. Casou de novo e com o invento se tornou um dos homens mais ricos do mundo. Benfazejo: de benfazer, do latim bene, bem, e facere, fazer. É adjetivo que qualifica o que é bom, útil, generoso. Aparece em Solar das Almas, divertida peça de teatro de Wander Lourenço de Oliveira (40): "Deixa-me ficar em tua benfazeja companhia, ao menos por esta trágica noite de velório ilustre". Cerca-viva: do latim circa, cerca, ao redor, mais ou menos, e viva, viva, feminino de vivus, vivo. Até a invenção do arame, era muito utilizada para cercar propriedades, rivalizando com a taipa. Seu uso atual é mais de ornamentação. Com flores brancas, a cerca-viva, também conhecida como sansão-do-campo, tem espinhos, como as roseiras. Os troncos são grossos e o fechamento total: até pequenos animais têm dificuldade para passar ali e raramente conseguem fugir dos cercados. Indevassável desde o chão, tem o efeito de muro, com seus 3 metros de altura por 50 centímetros de largura. Dura meio século, não é tóxica, resiste ao fogo e, mesmo depois de queimada, brota de novo, refazendo-se. Guararapa: variação de guararape, do tupi wara'ra pe, nos tambores. Seu primeiro registro foi feito por frei Rafael de Jesus (1614-1693) em Castrioto ou História da Guerra entre o Brazil e a Holanda durante os anos de 1624 a 1654, terminada em gloriosa restauração de Pernambuco e das capitanias confinantes: "Guararapes, na língua do gentio, é o mesmo que estrondo ou estrépito, que causam os instrumentos de golpe, como o sino, o tambor, o atabale e tantos outros, e o rumor e as concavidades deles (montes) lhes deu o nome de Guararapes". Passou a designar o som da pancada e do golpe propriamente dito. Com tal sentido aparece em A Briga na Procissão da Via-Sacra, cordel de Chico Barbosa, em que, na celebração religiosa, com atores improvisados, um centurião romano bate em Jesus Cristo. Este reage, enfrentando o agressor: "Até mesmo São José/ Que não é de confusão,/ Na ânsia de defender/ O filho de criação/ Aproveitou a guararapa/ Pra dar um monte de tapa/ Na cara do bom ladrão./ A briga só terminou/ Quando o doutor delegado/ Interveio e separou/ Cada um pro seu lado!/ Desde que o mundo se fez/ Foi esta a primeira vez/ Que o Cristo foi pro xadrez/ Mas não foi crucificado". Peneirar: de peneira, do latim panaria, plural de panarium, cesta de pão. No gerúndio o verbo aparece em Farinhada, de José Dantas (1921-1962), gravada, entre outros, por Elba Ramalho (58), Luiz Gonzaga (1912- 1989) e Ivon Cury (1928-1995): "Eu tava na peneira, eu tava peneirando,/ Eu tava no namoro,/ Eu tava namorando". Os versos seguintes são menos conhecidos: " O vento dava,/ sacudia a cabilêra,/ Levantava a saia dela/ No balanço da peneira./ Fechei os óio/ e o vento foi soprando/ Quando deu um ridimuinho/ sem querer tava espiando". Foram usadas as variantes para olhos, cabeleira, redemoinho e estava, assim grafados na forma culta. Sassaricar: do português Arcaico sassar, peneirar, separar, dito e escrito também sessar, do francês sasser, peneirar e fazer passar um navio numa eclusa. Dado o movimento de quem sacode a peneira, tomou o sentido de rebolar, dançar, divertir-se. Está presente em Sassaricando, marchinha de carnaval de Luiz Antônio, pseudônimo de Antonio de Pádua Vieira da Costa (1921-1996), Oldemar Magalhães (1912-1990) e Zé Mário, pseudônimo de Joaquim Antônio Candeias Júnior (1923-2009), gravada, entre outros, por Virgínia Giaconi, mais conhecida por Virgínia Lane (89). Os versos dizem: "Sassaricando, todo mundo leva a vida no arame./ Sassaricando, a viúva, o brotinho e a madame./ O velho na porta da Colombo/ é um assombro, é um assombro, sassaricando./ Quem não tem seu sassarico/ Sassarica mesmo só/ Porque sem sassaricar/ Esta vida é um nó".