Raphael Logam, Lorena Comparato e Cyria Coentro abriram o jogo sobre os conflitos que moldam a trama de 'Impuros'
O Star+ acaba de chegar ao Brasil e com ele a mais nova temporada da série Impuros.
Após dois anos de muito sucesso e celebrando a estreia da 3ª temporada, a CARAS Digital bateu um papo com os protagonistas Raphael Logam (35), Lorena Comparato (31) e Cyria Coentro (55), que falaram um pouco mais sobre todos esses conflitos que moldam a nova trama de Impuros.
A trama conta o embate de Evandro, interpretado por Raphael, que se envolve no tráfico de drogas em pleno anos 1990 e Victor Morello, feito por Rui Ricardo Diaz (43), um policial que segue incansavelmente em busca desse traficante. Além disso, Evandro tenta reconquistar a atenção da mãe, Arlete, de Cyria, enquanto tenta manter a esposa, Geise, feita por Lorena, e seus filhos por perto em segurança.
E esses conflitos familiares acabam se tornando um dos principais pilares da série, que não são exclusividade da nova temporada, como reforça Lorena: "A nossa família começa muito complexa desde todas as raízes. Eu acho que são raízes múltiplas.".
Ela ainda fala que a série é, na verdade, um reflexo da realidade: "A gente tem aí um problema social muito sério que acontece nas estruturas sociais da nossa cidade, do nosso mundo, do nosso país. E eu sinto que Impuros é uma costura de tudo isso. A gente tem uma mãe que criou dois filhos sozinha, a gente tem dois meninos com a mesma criação e um foi para o tráfico de drogas, o outro não, queria muito estudar e só depois foi para o tráfico de drogas também. A gente tem a minha personagem que é mãe solteira e a gente não sabe quem é esse pai do Airton. Eu sinto que são raízes que se unem, raízes que vem de muita dor, de muita necessidade, mas também de muita garra, muita força, muito amor. Eu acho que Impuros é muito sobre isso, esse seres humanos tentando sobreviver."
Cyria segue, completando a fala da colega: "São questões muito profundas. São conflitos internos e externos imensos, porque tem abismos entre esses personagens, universo de cada um. O universo da Arlete não tem absolutamente nada a ver com o universo da Geise, que a princípio não tinha nada a ver com o do Evandro e ela abra mão de muitas coisas da vida dela para ter esse casamento, para criar esses filhos. Assim como há um abismo imenso entre mãe e filho, Arlete e Evandro."
Apesar de sua personagem estar do lado oposto dos outros dois protagonistas, Cyria acredita que o que une todos eles, é justamente o amor incondicional que todos sentem pela família: "O que une eles é um amor incondicional. O amor de mãe pelo filho a gente já conhece, que é um amor incondicional, que não desiste. A realidade desses personagens é tão árida, que o elo que se cria de amor entre eles é praticamente indestrutível. Esse amor que Evandro estabelece por Geisa e vice e versa, é uma coisa que passa por cima de paus e pedras, e um não desiste do outro e ainda se liga nos filhos, que só reforça esse elo. Essa mãe que não desiste desse filho, por mais que o caminho dela seja Deus, então ela não consegue nem compreender que realidade é essa que o filho dela inventou... "
"Enfim, são conflitos muito profundos, que causam muito sofrimento e, ao mesmo tempo, é o que sustenta a série. O sofrimento dessas pessoas que é tão profundo que causa tanta identificação. Impuros é uma série que liga as pessoas, cada um se olha em uma tábua: 'Ai eu me identifico com o Evandro, eu me identifico com a Arlete, eu me identifico com a Geise, eu me identifico com o policial, com a adolescente filha do policial', então são personagens que estão despencando de um abismo sabe? Onde eles vão chegar eu não sei, tomara que seja confortável. Haja coração!", completa ela, falando um pouco sobre o que o público pode esperar das novas tramas.
Outro conflito que permeia a série é justamente entre Arlete e Geise, mulheres fortes que fazem tudo pela família, mas que, por inúmeras questões, se veem como 'inimigas': "É um embate! É um embate violento entre essas duas. Elas não abaixam a guarda, nenhuma das duas. Elas têm certezas opostas, elas não fazem parte do mesmo planeta, nem do mesmo universo. Elas são de mundos completamente diferentes. Mas elas comungam muito na dedicação aos filhos, no instinto materno, que é por isso que elas não se matam…", confessa Cyria.
Para ela, as duas vão se separando ainda mais justamente pelas escolhas que Evandro faz para sua vida: "O negócio vai degringolando, porque Geise vai ficando cada vez mais fechada no Evandro e a mãe, pelo contrário, vai cada vez se afastando mais do filho, porque ela vai tetando salvar os netos e vai vendo que o filho ela não está mais conseguindo controlar. Então ela rejeita muito esse caminho e a Geise vai, cada vez mais, sendo conivente com isso, então isso afasta muito elas. [...] A Arlete também tem uma esperança de que através da Geisa ela vai poder controlar o filho. Ela vai perdendo essa esperança com o passar do tempo, porque Geise vai se enrolando na família. E elas vão se afastando. E aí vai virando esse embate muito violento, são duas mulheres que não vão ceder nas suas vidas."
"Eu sinto que essas duas, como a Cyria falou, elas começaram ali com uma cumplicidade muito grande. E eu sou muito a favor da sororidade, da união das mulheres, não da divisão das mulheres. Mas essa competição feminina existe, infelizmente. E eu sinto que a gente tem que lutar muito contra ela. Eu sinto que essas personagens estão completamente opostas, mas elas são muito semelhantes. Como a Cyria falou, principalmente nessa questão do amor, da guerra, de fazer tudo pela família. Eu acho que essas energias são realmente... Tem esse embate muito forte, mas elas tem uma semelhança muito aparente.", completa Lorena.
Ela ainda revela que, na verdade, queria muito que as duas se tornassem amigas até o fim da série: "Meu sonho, se eu pudesse chutar, eu adoraria que elas fossem amigas para sempre. Essa ideia da sogra ser ruim e essa ideia da nora ser ruim, é uma ideia que a gente tem que acabar. As relações humanas são muito melhores se a gente se unir, se a gente se amra muito mais." e finaliza fazendo muitos elogios a amiga: "Eu e Cyria não nos identificamos muito com essas personagens, porque a gente se ama demais, se admira mutuamente"
E apesar de a história ser contextualizada durante os anos 1990, ela segue muito atual. Para Raphael, apesar de épocas diferentes, elas não estão tão distantes: "É uma coisa que parece que está distante, se você for olhar o ano... A gente está em 1992, 1994 (na série) e a gente está agora em 2021 e parece que foi ontem, é absurdo. Eu acho que fica mais difícil para a pós mudar a palheta de cores dos anos 90 pra cá, do que a gente. Porque a gente não está fazendo uma série de época, com cavalo e carroça, a gente fazendo uma coisa que é aqui. É a mesma gíria quase ainda, são os mesmo problemas ainda... Eu acho que o tráfico ficou muito mais organizado, a coisa está muito maior, mas o problema é o mesmo, se você for ver, a tecla é a mesma."
Lorena concorda com o amigo, elogiando o grande trabalho feita pela equipe técnica para contar essa história ficcional, mas que ainda é tão real: "Eu sinto que tem um cuidado muito grande dos roteirista e nosso também em cena, da responsabilidade da gente estar fazendo o audiovisual em 2021, independente se haviam coisas que aconteciam. Na minha relação com o Raphel, por exemplo, a gente não sabe como era uma relação, entre quatro paredes, de um casal no início dos anos 1990, se era muito violento ou alguma coisa assim. E a gente sempre tem o cuidado de falar: 'Não, gente não vai fazer, porque a gente não vai colocar isso em uma tela em 2021, se isso não foi o tema'"
"A personagem da Fernanda (Machado) é uma delegada no início dos anos 1990, isso não existia! E esse é o lugar de você fazer arte, é de você poder brincar com a realidade e colocar uma mulher em uma situação de poder que ela não tinha. Não é uma série histórica, não é uma série documental, é ficção! Então a gente tem essa responsabilidade de dar essas miseras alinhadas na história pra poder ter a responsabilidade de contar ela agora.", continuou ela até ser interrompida por Raphael que completou: "Falar dessa série, se a gente for comparar, a gente vai ficar aqui falando 10min, 15, 20, porque tem muita coisa, obviamente internas, que gente tenta respeitar muito. A gente tenta não botar porque não cabe isso hoje, até porque não tem pra que ficar puxando isso de novo."
Por fim, Cyria afirma que com todos esses contextos, a série se tornou atemporal: "Os conflitos eles são internos e não tem tempo nem espaço. Em qualuqer lugar, seja na favela, seja no universo de outra realidade financeira. Seja em 1990, seja em 2000, as relações são compostas dos mesmos sentimentos. Então se a gente for falar de conflito, de polícia, ladrão, de tráfico, de relação do policial com sua filha, relação do bandido em casa criando seus filhos..."
"Então não tem tempo. Isso realmente é atemporal. E Impuros tem essa pegada de focar nessas relações, nesses conflitos familiares e pessoais. Isso é totalmente atemporal. Então, a temporalidade está situada em outros acontecimentos e não esses das relações.", finaliza ela.
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