Recuperada!

Otimismo que conduz Simone Zucato

Já recuperada da Covid-19, ela reflete sobre rumo da arte no país

Tamara Gaspar Publicado em 08/05/2020, às 09h00 - Atualizado em 15/05/2020, às 17h02

Antes de testar positivo para o coronavírus, a atriz aterrissou na Ilha de CARAS, em Ilhabela, SP - Martin Gurfein

Quando desembarcou na Ilha de CARAS, em Ilhabela, no litoral de SP, Simone Zucato (44) não imaginava que, após renovar as energias em meio ao paradisíaco cenário do arquipélago, entraria para as estatísticas como mais uma pessoa a ser contaminada com a temida Covid-19. “Fiquei bastante preocupada, pois é uma doença que não tem um tratamento definido e não se conhecem os mecanismos de ação do nosso organismo. Você vê o mundo inteiro em quarentena... Por aí, você já tem ideia de que é algo grave e isso gera medo”, explica a atriz, que hoje celebra a recuperação da doença. “Tive febre alta, dores no corpo, falta de olfato e paladar, tosse e fortes dores de cabeça”, relembra ela, reclusa em seu lar paulistano com o eleito, Victor Fioravanti (41), e com os cuidados redobrados. “Saio somente a cada dez dias para ir ao mercado e à farmácia. Uso máscara, luvas, roupas com manga comprida, prendo o meu cabelo e mantenho distância das pessoas”, elenca a artista.

Consagrada por sua dedicação ao teatro — tanto em cena como nos bastidores, afinal, ela também é produtora —, Simone tem uma faceta que poucos conhecem: ela também é médica. O curso foi feito por influência do pai, mas o amor pela atuação falou mais alto. “Cheguei a trabalhar na área! A medicina me ensinou muita coisa e foi por meio dela que pude comprar os direitos de peças que produzi”, conta a beldade. Por falar em produção, Simone precisou pausar alguns projetos por conta da pandemia. “Estava tentando trazer Sylvia novamente aos palcos. Teremos todos que ter paciência e dar tempo ao tempo”, fala ela, citando a comédia romântica na qual atua e produz. Além da peça, outras duas produções teatrais em fase de captação  de recursos precisaram ser adiadas. Entre elas, a montagem Uma História de Todos, que aborda a temática do autismo. “Já comprei os direitos dessa peça, mas tenho dificuldade porque as empresas têm um certo bloqueio com dramas. É drama, mas existe um alívio cômico e meu objetivo é discutir o autismo e levar entretenimento e serviço às pessoas”, conta ela, com olhar otimista para as artes. “A cultura, infelizmente, é sempre colocada em último na lista de prioridades das famílias. Passada a pandemia, a classe artística vai precisar muito do apoio do público, pois a arte faz diferença na vida das pessoas. Apesar de tudo, estou otimista”, reflete.

– Teve medo quando testou positivo para a Covid-19?

– O fato de as pessoas contaminadas com gravidade precisarem de respiradores assusta! Graças a Deus, não precisei de internação e me cuidei em casa.

– Tem ideia de como pegou?

– Não tenho como falar como, nem onde peguei. Tenho sido cuidadosa desde que foi anunciado o vírus. Ele é nocivo e se espalha rapidamente, então, acredito que possa ter pegado ao menor descuido. Eu me assusto quando saio, as pessoas não estão tomando cuidado. Não sou neurótica, mas tenho conhecimento que estamos lidando com um vírus que mata e tenho receio de a pandemia se disseminar ainda mais. Não podemos ser egoístas, precisamos pensar no outro.

– Como médica, como vê a situação dos profissionais da saúde?

– A vida das pessoas está em risco, agora, imagina a de médicos, enfermeiros... Infelizmente, há locais com estrutura precária e a exposição ao risco é ainda maior. Sem falar que muitos adoecem e as equipes ficam reduzidas. Isso leva ao estresse e, por isso, a importância do isolamento. Não podemos esquecer de ser gratos também aos policiais, motoristas, lixeiros e todos aqueles que precisam sair de casa para prestar serviços fundamentais. Admiro meus colegas da saúde e, se houver uma convocação do CRM, irei ajudar.

– Passada a quarentena, quais seus próximos passos?

– Pretendo seguir as produções de teatro. Torço para que, com o tempo, o teatro retome sua importância e voltemos a trabalhar. Além dos palcos, tenho o projeto de um curta que farei fora do Brasil e quero me dedicar ao cinema em outras línguas. Não podemos esperar que as coisas caiam do céu. Eu sempre fui atrás do que quis e não será diferente agora.

– No papel de produtora, como pensa em superar tudo isso?

– Não sabemos quando tudo voltará ao normal, mas precisamos ter muita perseverança e não desistir. Desistir da arte significa desistir de educação de um país.

– Tem conversado com colegas sobre o momento? Qual o sentimento entre a classe artística?

– Estão todos preocupados, mas otimistas. A pandemia veio para nos ensinar algo. Estaremos mais unidos e ajudando um ao outro e esse sentimento já está fluindo entre nós, artistas. É bonito ver esta onda de amor e solidariedade. O ser humano está vendo que, isolados, precisamos estar juntos.

Revista simone zucato

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