Entrevista

A incansável batalha de Christiane Torloni pela Amazônia

No streaming, a atriz Christiane Torloni lança documentário sobre a necessidade de preservação da floresta: 'Temos as piores estatísticas de desmatamento dos últimos 15 anos'

por Tamara Gaspar Publicado em 09/09/2022, às 09h33

Christiane Torloni - FOTOS: Priscila Prade; Assistente: Miguel Caetano; Produção: Marley Galvão; Beleza: Robin Garcia e Elly Braga, do Marcos Proença Cabelereiros; Agradecimentos: Casa de Brígida, Feira na Rosenbaum, Flor Silva, Galeria Botânica, Luçana Mouco, Karin Matheus, S

Para Christiane Torloni (65), arte e engajamento sempre andaram lado a lado. Cerca de três décadas após sair às ruas para lutar pela democracia, ela segue fazendo de sua voz um instrumento, agora, em defesa da Amazônia. “O desmatamento é algo terrível, parece um campo de guerra. É impossível que aquilo não aja em você e, do mesmo jeito que tive o chamado para as Diretas Já, senti isso em relação à floresta”, diz a atriz, cujo primeiro contato com a devastação foi no Acre, em 2007, quando gravou a minissérie Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, para a Globo. “A floresta já havia me tocado, mas quando vi essa criatura tão feminina sendo estuprada... tem uma maldade masculina nessa história, do poder que derruba, que queima”, fala ela, em ensaio exclusivo à CARAS.

De lá para cá, Christiane não se calou e se tornou um símbolo de defesa da floresta. “Precisamos dar vários passos para poder continuar andando, porque chegar mesmo, ainda não chegamos a lugar nenhum. Infelizmente, hoje, temos as piores estatísticas de desmatamento dos últimos 15 anos”, lamenta. Só durante esta entrevista de uma hora com ela, cerca de 66000 árvores foram derrubadas na floresta, segundo dados do MapBiomas. “As estatísticas não deixam a gente dormir. E pensar que tem gente que não acredita! Não crer em uma coisa tão palpável como dados de um satélite não é uma questão de fé”, ressalta a estrela, que acaba de estrear no Globoplay o documentário Amazônia – O Despertar da Florestania, dirigido e produzido por ela.

– A arte ajuda no ativismo?
– Para mim, não existe arte sem comprometimento. Se você olhar, na ditadura houve manifestações importantes e corajosas do segmento artístico. Hoje, há pessoas dizendo que ditadura é lenda, não sei em que planeta elas moram, não sei em que país vivem.

– A questão ambiental está ligada à política?
– Tudo está ligado e tem que ser tratado como uma questão de Estado. Hoje, essa ausência do Estado o torna, literalmente, um coadjuvante dos assassinatos. Temos a pior estatística do mundo no que diz respeito ao assassinato de ativistas. É como se estivéssemos atrapalhando. 

– Você fez uma espécie de imersão pela floresta para fazer o documentário. Qual o maior aprendizado?
–  Tem o sentimento muito bonito que é o da admiração. É você encontrar outros ‘Brasis’ com muita sabedoria. Basta ver as peças que estou usando, é tudo muito sofisticado. Fiz muitos encontros e acabei convidada para conhecer unidades de conservação sob a ação da Fundação Amazônia Sustentável, da qual faço parte do conselho. A ideia não é paternalizar e educar, mas mostrar como a sabedoria dessas pessoas pode se tornar um meio de vida, é a tal da sustentabilidade. O ribeirinho não deixa de ser ribeirinho, o indígena não deixa de ser indígena, ninguém vai descaracterizá-los. Tenho orgulho desse trabalho.

– De onde vem sua força?
– Tive sorte de nascer em uma família de artistas, que me apresentou à política ainda jovem. Na verdade, a gente não está se doando, está trocando e crescendo. A gente precisa lembrar que nosso voto pode mudar tudo.

– Dá para ter esperança?
– Esperança a gente sempre tem, mas temos que trabalhar por ela. Tem que colocar a mão na massa e fazer nossa parte.

– Você tem mais de 50 anos de carreira. Que balanço faz?
– Estou preparando um livro de memórias, mas tive que fazer uma pausa por conta do ritmo da vida!  Esses dias achei meu primeiro recibo de trabalho, aos 13 anos! As coisas só não aconteceram de forma mais efetiva porque meus pais não deixaram, eles são de uma geração que sofreu muito. Na época em que minha mãe começou, por exemplo, atrizes e prostitutas tinham uma carteira tirada na delegacia, como prestação de serviço.

– Você mudou nesses anos?
– Eu me reconheço a mesma! E olha que raios e tsunamis já passaram pela minha vida. Nesse processo é importante a gente não se perder e não desistir de você. A gente pega caminhos errados, faz bobagens, mas se não morre com elas, ao menos, se fortalece.

– E como está o coração?
– Uma pessoa na minha idade não está solteira! É uma pessoa livre e independente.

– Como vê as relações?
– Somos como plantas, temos que crescer em direção à luz. Você vai conhecer pessoas que vai querer por perto pelo resto da vida e outras que precisa deixar ir, tem que desapegar. Como diz Frida Kahlo: “Onde não puderes amar, não te demores”.

FOTOS: Priscila Prade; Assistente: Miguel Caetano; Produção: Marley Galvão; Beleza: Robin Garcia e Elly Braga, do Marcos Proença Cabelereiros; Agradecimentos: Casa de Brígida, Feira na Rosenbaum, Flor Silva, Galeria Botânica, Luçana Mouco, Karin Matheus, Sérgio J. Matos e Wharehouse

Christiane Torloni

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