Madonna recebeu prêmio de 'Mulher do Ano' no Billboard's Women In Music 2016, que aconteceu na semana passada e foi transmitido na televisão americana nesta segunda-feira, 12
Eleita a Mulher do Ano pela Billboard, principal revista de música dos Estados Unidos, a cantora Madonna, de 58 anos, emocionou a plateia com seu discurso de agradecimento. Considerada uma das artistas mais controversas de sua época e a eterna 'rainha do pop', a artista falou sobre o preconceito que sofreu no início de sua carreira, deu um recado para todas as mulheres e criticou a cultura do machismo.
"Estou aqui, diante de vocês, como um capacho. Quer dizer, como uma artista feminina", disse ela, causando reações de aprovação da plateia. "Obrigada por reconhecerem a minha habilidade de dar continuidade à minha carreira por 34 anos diante do sexismo e da misoginia gritante, e do constante bullying e incansável abuso", disse ela.
Início
"Quando eu comecei, não tinha internet. Então, as pessoas tinham que dizer na minha cara. Existiam apenas algumas pessoas que eu tinha que mandar calar a boca, porque a vida era mais simples naquela época", lembrou Madonna, que nasceu em Michigan, mas se mudou para Nova York para tentar a carreira como artista, ainda na adolescência. "Era 1979 e Nova York era um lugar muito assustador. No meu primeiro ano, eu fiquei sob a mira de uma arma de fogo, fui estuprada num terraço com uma faca na minha garganta e eu tive meu apartamento invadido e roubado tantas vezes que eu apenas parei de trancar as portas. Nos anos seguintes, eu perdi quase todos os amigos que eu tinha para a AIDS ou para as drogas ou para as armas. Como vocês podem imaginar, todos esses eventos inesperados não apenas me ajudaram a me tornar a mulher ousada que está aqui hoje, mas também me lembraram que sou vulnerável, e que na vida não há segurança verdadeira exceto sua autoconfiança. E um entendimento de que eu não sou a dona dos meus talentos. Eu não sou dona de nada. Tudo que eu tenho é um presente de Deus. Mesmo as coisas f... que aconteceram comigo também foram um presente, elas aconteceram comigo para me ensinar e me fazer mais forte", disse.
Jogo dos homens
"Estou recebendo um prêmio por ser a mulher do ano, então eu me perguntei: 'O que eu posso dizer sobre ser uma mulher na inúdstria musical?', 'O que eu posso dizer sobre ser uma mulher?'. Quando eu comecei a escrever músicas, eu não pensei em um gênero específico. Eu não pensei sobre feminismo, eu só pensei que queria ser uma artista. Eu me inspirei, é claro, em Debbie Harry e Chrissie Hynde e Aretha Franklin, mas meu muso verdadeiro era David Bowie", falou. "Ele personificava o espírito masculino e feminino e isso me servia bem. Ele me fez pensar que não havia regras. Mas eu estava errada. Não há regras, se você é um garoto. Se você é uma garota, você tem que jogar o jogo. O que é esse jogo? Você tem permissão para ser bonita, fofa e sexy. Mas não pareça muito esperta. Não tenha uma opnião. Não tenha uma opinião fora da linha ou do status quo. Você pode ser objetificada pelos homens e pode se vestir como uma vadia, mas não assuma e se orgulhe da vadia em você. E não, eu repito, não compartilhe suas próprias fantasias sexuais com o mundo. Seja o que homens querem que você seja, e mais importante, seja alguém com quem as mulheres se sintam confortáveis por você estar perto de outros homens. E por fim, não envelheça. Porque envelhecer é um pecado. Você vai ser criticada, você vai ser humilhada e definitivamente não tocará nas rádios".
Feminista má
"Quando eu me tornei famosa, surgiram fotos minhas que eu tinha tirado na escola de arte para fazer dinheiro. Elas não eram muito sexy, na verdade eu pareço entediada. Eu estava. Mas esperavam que eu sentisse vergonha quando as fotos fossem divulgadas, mas eu não senti. Eventualmente, fui deixada em paz porque me casei com Sean Penn e, não só ele iria enfiar um chapéu na sua bunda, mas eu estava fora do mercado. Por um tempo, eu não fui considerada uma ameaça. Anos depois, divorciada e solteira - Me desculpa, Sean - eu fiz meu álbum 'Erotica' e meu livro 'Sex'. Eu me lembro de ser a manchete de cada jornal e revista. Tudo que eu lia sobre mim era ruim. Eu era chamada de vagabunda e de bruxa. Uma das manchetes me comparava ao demônio. Eu disse ‘Espera aí, o Prince não está correndo por aí usando meia-calça, salto alto, batom e mostrando a bunda?’ Sim, ele estava. Mas ele era um homem. Essa foi a primeira vez que eu realmente entendi que mulheres não têm a mesma liberdade dos homens", contou. Madonna disse que buscou conforto nas músicas de Nina Simone e nas poesias da escritora feminista Maya Angelou. "Eu me lembro de me sentir paralizada, demorou um tempo para conseguir me reerguer e seguir com a minha vida criativa, e seguir com a minha vida. Eu me lembro de desejar ter uma mulher para me apoiar", falou. "Camille Paglia, a famosa escritora feminista, disse que eu fiz as mulheres retrocederem ao me objetificar sexualmente. Então eu pensei, ‘Se você é uma feminista, você não tem sexualidade, você a nega’. E eu disse ‘F...-se. Eu sou um tipo diferente de feminista. Sou uma feminista má’".
Controversa
"As pessoas falam que eu sou tão controversa. Eu acho que a coisa mais controversa que eu já fiz foi ficar aqui. Michael se foi. Tupac se foi. Prince se foi. Whitney Houston se foi. Amy Winehouse se foi. David Bowie se foi. Mas eu continuo aqui. Eu sou uma das sortudas e todo dia eu agradeço por isso", afirmou.
Recado para as mulheres
"O que eu gostaria de dizer para todas as mulheres que estão aqui hoje é: Mulheres têm sido oprimidas por tanto tempo que elas acreditam no que os homens falam sobre elas. Elas acreditam que elas precisam apoiar um homem. E há alguns homens bons e dignos de serem apoiados, mas não por serem homens, mas porque eles valem a pena. Como mulheres, nós temos que começar a apreciar nosso próprio mérito. Procurem mulheres fortes para serem amigas, para serem aliadas, para aprenderem com elas, para serem inspiradas, para serem apoiadas e para serem instruídas".
Agradecimento
"Estou recebendo este prêmio, mas estou aqui para realmente dizer: obrigada - como uma mulher, como uma artista, como um ser humano. Agradecer não apenas a todos que me amaram e me apoiaram ao longo do caminho - tantos de vocês que estão sentados na minha frente agora. Vocês não têm ideia do quanto o apoio de vocês significa para mim", disse ela, contendo o choro. "Mas quero agradecer também aqueles que duvidaram e a todos que me disseram que eu não poderia, que eu não iria e que eu não deveria. Sua resistência me fez mais forte, me fez insistir ainda mais, me fez a lutadora que sou hoje. Me fez a mulher que sou hoje. Então, obrigada.”
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