A triste história recente do Camboja, marcada por guerras e por um período de genocídios na década de 70, durante o governo do ditador Pol Pot (1928-1998), desafiou a dupla Rodrigo Jorge (37) e Fábio Bouillet (35). Na busca de uma referência em especial para decorar o bangalô 5, eles apostaram no colorido. "As pessoas lá foram praticamente dizimadas durante 30 anos. A nossa dúvida era como a gente poderia traduzir esse povo do jeito que ele realmente merece. De repente, através de alguma expressão. E nas nossas pesquisas, tudo o que víamos de beleza tinha relação com as cores. Isso nos pareceu ser a válvula de escape para eles", contou Fábio. O ar quiteto chegou a fazer uma comparação com o Brasil. "Talvez seja a mesma situação que se vê no carnaval do Rio de Janeiro. O povo oprimido da favela faz aquela festa maravilhosa durante cinco dias, mesmo vivendo quase no inferno durante outros 360 dias", exemplificou ele.
Partindo dessa premissa, a dupla, que costuma trabalhar com tons mais escuros, como cinza, marrom e preto, se permitiu ousar. A parede da sala, por exemplo, é rosa, e a do quarto, verde turquesa. "Esperamos que os hóspedes sintam na chegada essa energia, essa alegria com a explosão de cores. E, no quarto, percebam já algo muito mais ameno, de tranqüilidade. Nossa ideia foi justamente brincar com a sensação das pessoas, saindo de um tom muito chamativo para um mais abaixo", explicou Rodrigo. "São menos cores na parte de repouso, onde se vê o linho, a transparência. E, na sala, a coisa mais da informação mesmo", completou.
Outro elemento usado em abundância nos dois ambientes foi a seda. "Lá, eles têm o bichoda-seda. Então, enquanto no Brasil é um tecido extremamente caro, para eles, não. Por isso, é muito usado", lembrou Fábio. A forte religiosidade também aparece em elementos como o rosto de um Buda em um enorme quadro e em duas esculturas em formato de deusas na sala. "Acho que um povo que passa por inúmeras dificuldades, acaba também se apegando muito à fé. E lá, eles têm a influência do budismo tibetano, sempre representado com o dourado. Inclusive as máscaras e os chapéus utilizados por eles são quase sempre nesse tom", emendou o profissional.
Os dois arquitetos, que estrearam na decoração da Ilha de CARAS na temporada de 2010, quando foram responsáveis pelos banheiros da sauna, ressaltam que a proposta, desde o início, os instigou a fazer um trabalho diferente do usual. "Fomos brifados. Se a gente tivesse uma certa liberdade, provavelmente não interpretaria dessa mesma forma. Nossa escola é um pouco diferente, tentaríamos fazer algo mais no nosso estilo", disse Rodrigo, apesar de ter adorado o resultado final. "Aceitamos mesmo como um desafio de traduzir a cultura deles. Dessa vez, a gente não tentou fazer o tema a partir de um conceito nosso. Nós preferimos fazer como os cambojanos fariam", completou ele.