Atriz britânica confessa não ter medo algum da solidão e se define: 'Eu sou um mix de timidez, rebeldia e provocação'
Aos 65 anos, a atriz britânica Charlotte Rampling ainda mantém o mesmo olhar enigmático que a tornou musa do cinema europeu nos anos 70. Mas em entrevista na Ilha de CARAS, confessou não se importar com o rótulo de mulher misteriosa. Ao contrário, disse até entender. "Eu semeio mesmo a dúvida, a instabilidade. Acredito que isso provavelmente se deve por uma mistura de voz, trajetória, timidez, provocação e rebeldia...", avaliou. A atriz, estrela de filmes como Swimming Pool - À Beira da Piscina (2003) e A Bossa da Conquista (1964), ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, revelou também que seu jeito introspectivo já a fez pensar em desistir da carreira. "Me questionei se poderia continuar na profissão com meus pudores. Mas percebi que esse combate é importante. Às vezes, é necessário vencer obstáculos. É justamente nessas horas que fazemos belas coisas", afirmou Charlotte, que ano passado filmou no Brasil Rio Sex Comedy, de Jonathan Nossiter (48), ainda sem data de estreia.
Mesmo tendo aprendido a conviver com a superexposição, ela contou sentir necessidade de ficar reclusa em alguns momentos. E é em Londres, onde mora com o empresário francês Jean Noël Tassez (54), com quem se relaciona há 13 anos, que encontra refúgio. "Amo contemplar e para isso preciso estar bastante focada e em silêncio. Estar comigo, no meu próprio universo. Dessa forma, construo o meu ser para ter coragem de desbravar o mundo", exaltou. Os ensinamentos foram passados para Barnaby Southcombe (36) e David Jarre (33), seus filhos dos casamentos com o ator Bryan Southcombe (1937-2007) e o compositor Jean-Michel Jarre (62). "Desde a infância deles, ensinei valores fortes, dei educação e um bom senso de disciplina. Assim, sinto que os preparei para lidar com todos os aspectos do nosso cotidiano, até as injustiças. Afinal, a vida é feita também de grandes sofrimentos", filosofou a atriz, que também criou a enteada, Emily Jarre (34), herdeira de Jean-Michel.
- Você uma vez disse que a vida é feita de altos e baixos. Quando esteve no topo?
- Quando dei à luz meus meninos. Provavelmente, esse é o ponto mais alto da vida de qualquer mulher. E, claro, toda vez que nos apaixonamos. Até agora, isso só me aconteceu três vezes.
- Já sofreu por amar?
- Claro. O amor é lindo mas, ao mesmo tempo, perigoso e ardiloso. Mesmo assim, estar sob esse estado é extremamente válido. Quando estou apaixonada, sou capaz de fazer qualquer coisa. Sinto que o mundo me pertence e eu pertenço ao mundo.
- O que costuma fazer quando está em casa?
- Gosto de ficar com meus livros, televisão, DVDs, gato, meu homem e filhos. Mas, como disse, também passo bastante tempo sozinha. Não tenho medo da solidão. Posso ficar dias e mais dias assim, pensando, lendo, escrevendo e sendo bastante feliz dessa forma. Sou antissocial, não sinto necessidade de sair para conhecer outras pessoas. As que conheço através do meu trabalho já são totalmente suficientes para mim.
- O passar dos anos é uma preocupação para você?
- Não. É claro que às vezes vejo que estou envelhecendo e fico devastada (risos). Percebo que estou mais perto do fim da vida do que do início. E há muitas coisas sobre esse tópico que trazem pensamentos não muito positivos. Logo vêm à mente palavras como doenças, dificuldades, morte... O melhor a fazer é não pensar muito sobre isso. Afinal, ainda estou bem. Me prendo no presente.
- Mas há também a parte boa de envelhecer, não?
- Sim. A casca envelhece, mas muita coisa incrível acontece no seu interior. E se você começa a compreender a vida e digeri-la, consegue se sentir bastante em paz nessa idade.