É com leveza e extremo bom humor que o ator paranaense
Ary Fontoura (78) procura conduzir sua vida. No trabalho, realiza-se interpretando personagens cômicos, como o prefeito Isaías, de
Morde & Assopra, a 48a novela da qual participa e que acontece em um momento comemorativo de sua trajetória: 50 anos de televisão - Ary estreou, em 1961, na direção de teledramaturgia da TV Paraná.
"Meu temperamento é altamente ligado à comédia, às coisas engraçadas que acontecem no cotidiano. Sou um cara espontâneo e procuro fugir das energias negativas para não me transformar em uma pessoa amarga ou coisa parecida", assegurou ele, que, para investir na profissão, abdicou da vida afetiva.
"Quando saí de Curitiba, onde nasci, aos 31 anos de idade, deixei para trás até mesmo um noivado. Pensei: 'Se a pessoa gostar vai me seguir'. Mas isso não aconteceu. É sinal de que eu ia entrar em uma fria (risos). Nem mesmo depois de ter a vida estabelecida, ninguém veio para cá".
- Você é um workaholic?
- Não, mas não consigo ficar sem fazer nada, tenho sempre disponibilidade para realizar o que a emissora necessita. Enquanto puder, quero continuar atuando. E isso pode ser um hobby também, porque se você está se divertindo, é uma maravilha. Agora, o tempo passa para mim como para todo mundo. Atualmente, já quero trabalhar um pouquinho menos, porque já tenho 78 anos. Preciso cuidar mais de mim para continuar mantendo meu espírito de vida.
- Sente-se solitário?
- Não tenho família no Rio, meus irmãos, Estela e Ivan, e meus sobrinhos estão no Paraná. Mas aqui tive uma vida afetiva muito grande. Os amores foram, voltaram, foram, voltaram e não ficaram, porque a vida é assim, não é verdade? E porque, talvez, tenha um temperamento de não querer me amarrar a ninguém. Para mim, não aconteceu verdadeiramente de ter uma ligação que durasse muito tempo. Em cada uma, fui feliz durante um determinado tempo, mas ponto, acabou. Quando jovem, eu acreditava que uma relação mais duradoura fosse o ideal. Já não penso assim. Seja um dia, um ano ou dez anos, o importante é conviver com uma pessoa que queira estar com você. Hoje, estou sozinho. Aproveito minha aparência saudável e os recursos que a medicina oferece, e, esporadicamente, ainda conquisto alguém.
- Você não teve filhos. Se arrepende de não ter sido pai?
- Não me arrependo de nada na vida. Eu até tentei, mas, na nossa profissão, isso também é difícil. Por exemplo, no início da carreira, tinha anos em que eu trabalhava muito e outros, nem tanto. Em algumas épocas, estava morando bem e em outras, não. Levei quase 20 anos ou mais para começar a ter as minhas coisas, para me estabilizar e ter uma casa como tenho agora. Hoje, a realidade é outra. Minha compensação veio através de bastante trabalho e me sinto bem recompensado com o que tenho. Fiz tudo muito certinho, como deveria ser, sem ter a necessidade de passar por cima de ninguém. Considero, inclusive, muito ruim este tipo de atitude.
- Nesses 50 anos de muito trabalho na TV, o que destaca?
- Hoje em dia, tenho um 'casamento' interessante com o Walcyr Carrasco, o autor de Morde & Assopra, com quem já trabalhei também nas novelas Chocolate Com Pimenta, Sete Pecados e Caras & Bocas. Lá atrás, durante uns dez anos, trabalhei com o Dias Gomes. Ele achava que eu tinha um temperamento muito criativo, adorava os tipos que eu interpretava nos anos 1970. Dessa época, foram Bandeira 2, O Espigão, Saramandaia, Verão Vermelho e Assim na Terra Como no Céu. Mas não posso deixar de ter um carinho especial pelo seu Nonô, um personagem de trezentos e tantos anos, baseado em O Avarento, de Molière. Foi na novela Amor Com Amor Se Paga, em 1984, da saudosa Ivani Ribeiro, e me projetou verdadeiramente dentro da televisão. Se tivesse que mudar de nome, me chamaria Nonô Correia. Até hoje os telespectadores mais velhos costumam me parar na rua para falar desse trabalho, que ia ao ar às seis da tarde e tinha uma audiência que equivale hoje à do horário nobre. A partir daí, minha profissão, que já ia bem, acabou se alavancando muito mais dentro da televisão.
- Seu personagem de Morde & Assopra é um bom presente de meio século na TV?
- Estou adorando fazer a novela das sete, que já é considerada um sucesso. Tenho uma parceria divertidíssima com a Elizabeth Savalla. Ela interpreta a mulher do meu personagem, Isaías, que me dá uma possibilidade muito grande de brincar com as situações do cotidiano da política brasileira. E venho me dedicando integralmente a essa novela. Já não tenho uma memória tão privilegiada assim, necessito desesperadamente de entrar no estúdio com o roteiro na mão e fico lendo e relendo para conseguir gravar as cenas de primeira.
- Como você se mantém tão disposto para encarar esses inúmeros trabalhos?
- Para mim, tudo é energia positiva e negativa. A toda hora, o mundo apresenta motivações diversas e a maldade e a bondade estão sempre se chocando. Há acontecimentos que você gostaria que não tivessem ocorrido, mas que não dá para burlar e evitar, tem que encarar mesmo. O que você não pode é ficar ruminando as histórias na sua cabeça, porque isso vai congestionar sua saúde e você vai se tornar uma pessoa problemática. Então, procuro canalizar somente as energias positivas. E junto a isso, cuido também do outro aspecto que é o lado físico.
- E o que costuma fazer?
- Tenho um personal trainer. É ele que me orienta. Sigo tudo o que é determinado e nunca estou no estaleiro. Malho, mas não com o intuito de ficar bombado, porque não tenho mais essa pretensão (risos), nem sequer essa possibilidade. Agora, não custa enrijecer um pouco os músculos, não deixar que caiam. Faço umas abdominais, para que a barriga permaneça razoavelmente tapeável, musculação, muita esteira, também pratico natação e, no restante, oito horas diárias de sono e alimentação saudável. Basicamente, pratos à base de legumes e verduras. É a tal comida mediterrânea. Como frango, carne bovina uma vez por semana e peixe, sempre que é possível. À noite, tiro todos os carboidratos. A opção é salada e proteína. E, como em tudo que faço, não perco o humor com a dieta.
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