Pierre Cardin deu uma aula sobre sua trajetória de vida e dedicação ao trabalho, em palestra realizada no Shopping Iguatemi, em São Paulo
"Levei toda a minha vida para vocês me conhecerem ainda mais" - é assim que
Pierre Cardin, aos 88 anos, começou sua palestra, mostrando logo no primeiro parágrafo de sua fala a vontade que tinha de ser conhecido em todo mundo. O estilista se reuniu com a imprensa, admiradores e amigos, nesta sexta-feira, 29, no Shopping Iguatemi, em São Paulo, para marcar a abertura da exposição dos seus 60 anos de carreira,
Pierre Cardin - Criando Moda, Revolucionando Costumes.
A palestra com Cardin aconteceu em uma sala de cinema, que desta vez não exibiu nenhum filme, mas conseguiu fazer o público se encantar com a história do estilista. O italiano, criado na França desde os 2 anos, começa falando sobre a eterna vontade de se misturar com a arte.
"Eu sempre quis ser ator. Comecei trabalhando como manequim na moda, pois precisava de dinheiro para pagar os cursos de teatro", conta.
Cardin foi o primeiro manequim masculino no mundo. A partir daí, ele conseguiu se infiltrar no mundo da moda, conheceu nomes importantes do mercado, trabalhou com
Christian Dior, fez figurinos para cinema, viajou o mundo e começou a se destacar como um estilista contestador.
"Eu trabalhei na alta-costura, mas era um pouco socialista. Como todo jovem, era um contestador", diz.
Querendo uma alternativa aos preços caríssimos da alta-costura, Cardin se orgulha de ter sido o pioneiro no
Prêt-a-Porter, produzindo roupas de qualidade em escalas industriais.
"Eu fiz minha fortuna graças ao Prêt-a-Porter. Se fosse só pela alta-costura, com certeza não exisitiria hoje", resume.
A marca do trabalho
Pierre Cardin também foi pioneiro ao transformar seu nome em uma marcar.
"Passei a vida inteira viajando o mundo para conhecer as pessoas, pois eu tinha a pretensão de vestir o mundo todo. Hoje tenho licenças em 140 países", declara, com orgulho do feito.
Em seu discurso, Cardin defende a dedicação ao trabalho e a importância de se fazer aquilo que traz prazer para alcançar o sucesso.
"Eu não dancei nas boates, meu prazer sempre foi o trabalho. Eu fecho os olhos e vejo cores, texturas", conta o estilista, fazendo uma pergunta para platéia:
"Gostaria que vocês me imitassem e realizassem tudo o que querem. Mas o que vocês preferem? Viver a juventude ou ter tudo na minha idade?"
Cardin explicou que sempre foi ambicioso e queria criar.
"Criar, sem imitar. Hoje eu sou o mais antigo costureiro, mas quando comecei era o mais jovem. Sempre olhei pra frente. É claro que olhei os museus, mas não para copiá-los. Um criador não copia, mas é copiado", explica.
Outro segredo apontado por Cardin para o seu sucesso é a simpatia.
"Existe a sorte na vida, temos que conhecer as pessoas, servir para ser servido e sempre ser simpático. É uma diplomacia", declara.
Moda universal
Perguntado sobre uma sugestão para vestir as brasileiras, Cardin é direto: "As brasileiras são mulheres internacionais. Não existe um brasileiro, existe espanhóis, italianos... É uma mistura de identidade. Hoje em dia a moda é mundial, não tem segmentos étnicos. O Brasil é internacional. Eu acho muito bonita essa vontade de vocês existirem, são um exemplo pra mim."
Para aqueles que questionam a existência da moda, Cardin também deixa seu recado: "Imagine um homem nu no deserto. Se ele não for asiático ou negro, você não vai saber de onde ele veio. A moda situa a gente no tempo, no espaço, na profissão, em classe social. As máquinas, computadores... tudo é moda. A moda é uma análise psicológica."
A exposição Pierre Cardin - Criando Moda, Revolucionando Costumes estará aberta ao público até 29 de maio, com 70 looks, acessórios, croquis, fotos e toda a trajetória de vida do estilista.