Ela assumiu o comando criativo da Gucci resgatando a tradição e a feminilidade da marca. No início, enfrentou críticas ferrenhas. Com o tempo, provou estar certa e as consumidoras amaram suas criações.
Frida Giannini aparece em todas as listas de estilistas mais sexy. Assim, seria natural esperar que suas criações fossem sensuais. Mas a diretora criativa da Gucci fez história ao resgatar a feminilidade e a tradição da marca, deixando a sensualidade em segundo plano.
Desde o começo na Fendi, em 1997, onde desenhou as coleções
ready-to-wear durante três emporadas, Frida se destacou por entender os desejos das consumidoras. Logo depois, foi promovida a designer de bolsas e artigos de couro da grife. Em 2002, mudou-se para a Gucci, onde assumiu como designer de bolsas na era
Tom Ford. Com a saída do estilista americano, ela comandou a linha feminina e, um ano depois, a área de criação masculina. E tinha a tarefa nada fácil de reinventar a Gucci. Seguir os passos de Ford seria inviável. A transição foi tempestuosa.
As comparações da crítica especializada foram duras. Os críticos torciam o nariz para a moda mais feminina e menos sexy, cheia de estampas florais, que em nada lembrava a provocação das peças de Ford. Mas se nas passarelas a designer estreou com poucos e nada efusivos aplausos à frente da Gucci, nas ruas o sucesso de suas coleções foi imediato. Os críticos só se renderiam a esse conceito de "sensualidade sofisticada" alguns desfiles depois. Essa definição, aliás, dá nome a sua mais recente coleção, apresentada na Semana de Moda de Milão.
CARAS FASHION - Houve críticas quando você assumiu a Gucci. Diziam ser "conservadora", mas os resultados das coleções foram positivos com as clientes. Como isso se reflete no seu processo de
criação para acessórios e roupas?
FRIDA GIANNINI - Os processos são diferentes, mas a base de inspiração vem do mesmo lugar para que se produza uma coleção coesa. A produção artesanal e a qualidade são o foco de todos os itens. Minha filosofia é desenhar peças que as pessoas possam usar e queiram comprar. Nunca fui uma estilista conceitual e não trabalho para uma marca conceitual. Acho que o correto é criar alguma coisa que seja exclusiva e na qual se leia "Gucci", mas, ao mesmo tempo, que possa ser usada.
CF - Em que direção caminha a moda? Podemos falar de uma tendência única?
FG - A expectativa dos consumidores dos produtos de luxo é alta. Produção artesanal, serviço, tradição, autenticidade e longevidade estão entre as novas prioridades. Tanto agora quanto nos próximos anos, quero me concentrar ainda mais nas técnicas de qualidade e inovação porque acho que hoje essas são as palavras-chaves ideais para uma marca de luxo. As pessoas sempre esperam novidades de nós. Precisamos ter um pensamento independente e lançar tendências na nossa moda e nos nossos acessórios - e também na nossa maneira de comunicar. É por isso que estou tão interessada em novas tecnologias e novas mídias, e planejo desenvolver isso ainda mais como forma de contato com a nova geração. No caso da Gucci, acho que seu sucesso contínuo tem muito a ver com o respeito que é destinado ao seu rico passado. Meu trabalho envolve constantemente inventar e criar tendências, mas sem sacrificar a história e o legado único da marca.
CF - O que a deixa mais orgulhosa em sua carreira e no que desenvolve?
FG - Este é o trabalho dos meus sonhos e sou muito orgulhosa de estar aqui. Tenho orgulho de poder levar o legado da Casa Gucci, construída por
Guccio e
Aldo Gucci, colaborar com muitos talentos individuais e trabalhar lado a lado com todos os 7 mil funcionários da empresa. Amo esta marca e as pessoas que trabalham aqui, porque acho que a empresa não é feita só por uma pessoa, mas sim por toda a equipe.
CF - O que torna um desfile único?
FG - Quando se está em um desfile é possível sentir a energia, a criatividade e o trabalho árduo ali realizado - é difícil ignorar isso. A cada temporada, fico ansiosa para ver a reação do público e apresentar a nova coleção na qual trabalhamos tanto. Sempre procuro, também, criar uma trilha sonora para os desfiles, já que a música tem sido uma parte muito importante da minha vida e fonte de inspiração.
CF - Quais são as suas principais referências? Como é o seu processo criativo?
FG - Encontro inspiração em muitas coisas: arte, cinema, viagens. Ela pode estar em qualquer lugar, mas você só a encontra quando é uma pessoa curiosa. Claro que sou uma pessoa de sorte porque também posso mergulhar nos ricos arquivos históricos da Gucci, que são uma fonte incrível de inspiração, mas o truque é inventar coisas novas. Novos materiais, novas técnicas e novas tecnologias são constantemente desenvolvidas. Tenho procurado métodos inovadores de design para manter a Gucci na vanguarda da moda. A cada estação, me inspiro em uma variedade de elementos.
CF - Quais elementos?
FG - Para o Outono 2010, por exemplo, minha inspiração foi o glamour de ícones fashions como
Tina Chow e
Jerry Hall. A coleção representa uma época em que sair era um estilo de vida e se vestir era um prazer. Segui uma direção mais limpa e sofisticada, propondo um novo senso de glamour elegante que é eterno. Uni símbolos icônicos da Gucci com sua produção artesanal impecável porque realmente queria mostrar nosso selo
"Made in Italy". Para essa coleção, me senti madura e liberada o suficiente para explorar mais o passado da marca. A alfaiataria e o glamour eram muito anos 1970, enquanto os looks reduzidos se apropriavam do minimalismo dos anos 1990. Cada temporada é uma evolução, uma jornada pessoal. Você sempre precisa oferecer novas coisas e novos sonhos aos consumidores, então é importante se reinventar. Eu não posso me repetir. Mas planejo manter a base desta coleção - a preciosidade, os detalhes, a qualidade e o trabalho artesanal, pois todos eles permanecerão no futuro.
CF - A crise econômica de 2008/2009 afetou a moda de que maneira?
FG - No caso da Gucci, o foco sempre foi ser uma marca fiel aos seus valores e tradições: uma produção artesanal, de alta qualidade, luxo e exclusividade. A marca nunca vai renunciar a essas qualidades. A empresa sempre fez, também, produtos únicos e criativos. E criatividade será sempre um valor de definição para qualquer marca de moda de luxo.
CF - Qual a impressão que você tem da moda no Brasil?
FG - Quando penso na moda e no estilo brasileiros, imagino uma mulher confiante que não tem medo de usar cor e emana uma certa aura. Gostaria de ir ao Brasil, mas ultimamente não tive tempo para viajar porque tenho trabalhado em várias coleções. O Brasil é um país tão atraente e com uma rica cultura. Se tivesse a oportunidade de visitá-lo, gostaria de ter tempo suficiente para explorar todas as atrações históricas para que eu pudesse experimentar o coração e o caráter do país.
CF - Por que você decidiu ser estilista?
FG - Meus pais me incentivaram a apreciar as artes. Como meu pai é arquiteto e minha mãe professora de História da Arte, fui exposta, desde cedo, ao design e a referências estéticas. Sempre soube que queria trabalhar no campo criativo e a direção artística que meus pais me deram definitivamente me influenciou.