Bia acaba de enviar 150 esculturas para um museu de Portugal e já recebeu a encomenda de mais 50 peças para março
Natural da região oeste de Santa Catarina, dominada pelas matas de araucárias, a artista plástica Bia Doria (49) cresceu cercada pela natureza. Os anos passaram e ela redescobriu sua paixão de infância, a madeira. “Uso somente matéria-prima descartada. Viajo o Brasil em busca de raízes mortas para trabalhar”, conta ela. Casada com o empresário João Doria Jr. (55), Bia concilia as atividades de esposa, mãe de três filhos, Johnny (19), Felipe (12) e Carolina (11), com suas esculturas. “Mulher tem dessas coisas de dar conta de tudo. Sou assim. Minha rotina é puxada, mas sou muito feliz”, diz ela. Em seu ateliê, instalado em um galpão no Itaim Bibi, na capital paulista, Bia coloca a mão na massa e se realiza. “Vou completar dez anos de carreira em fevereiro. Tenho muito o que realizar ainda. Digo que teria que ter mais 200 anos para fazer tudo o que eu quero”, comenta ela, que acaba de enviar 150 esculturas para um museu de Portugal e já recebeu a encomenda de mais 50 peças para março. “Não posso me dar ao luxo de ficar doente”, entrega ela, sempre bem-humorada.
– Como é seu trabalho?
– A coisa mais difícil não é fazer a escultura, é conseguir o material. Não posso pegar qualquer coisa, tem que ser um material completamente descartado, que realmente ia ser jogado fora. E é tudo muito longe. Já fui para o Amazonas, Mato Grosso do Sul e muitos outros lugares em busca de matéria-prima, que são troncos descartáveis. Fazer a escultura, eu faço rapidinho. O mais difícil é o transporte, a burocracia para eu legalizar tudo para trazer. Não tem uma casquinha ou uma raiz que não seja com autorização dos ambientalistas, do Ibama.
– É fácil conciliar a maternidade com a carreira?
– É complicado, mas eu dou um jeito. Minha rotina de mãe continua, não deixo de lado de jeito nenhum. Meus filhos vêm em primeiro lugar e o resto vem depois. Deixo as crianças todos os dias na escola e as busco. Venho para cá e mergulho no trabalho. No início, meu marido ficava chateado e me cobrava muito, mas nós, mulheres, conseguimos fazer tudo, só não consigo cuidar muito da aparência. Não dá para fazer ginástica e dieta, por exemplo.
– Você está completando dez anos de carreira. Terá alguma comemoração especial?
– Sim. Em fevereiro farei o lançamento de um documentário sobre a minha arte e busca da matéria-prima, uma exposição com esculturas abstratas e lançarei o meu segundo livro.
– Se sente realizada?
– Ainda não porque falta muito a ser feito em relação à cultura e às artes no Brasil. Os museus estão abandonados, os parques e as reservas ecológicas também. Temos lugares lindos que poderiam ser explorados com o turismo. Nas minhas andanças pelo País, percebo que estamos deixando passar fatos importantes da história relacionada à geografia. Me sinto resgatando a história do Brasil através das raízes das árvores.
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