NO CASTELO DE CARAS, CLAUDIA CARDINALE REVÊ A ITÁLIA

NASCIDA NA TUNÍSIA E RADICADA EM PARIS, A MUSA DO CINEMA RELEMBRA SUA VIDA CHEIA DE GLAMOUR E EMOÇÕES

Redação Publicado em 04/12/2007, às 16h50

Nos vinhedos da propriedade do século X e sentada em frente ao Castelo, Claudia Cardinale mostra bom humor e simplicidade. -
por Marcia Villanova Diva do cinema e embaixadora da Boa Vontade da UNESCO, a atriz Claudia Cardinale (69) tem na ponta da língua a explicação para definir sua complexa nacionalidade. "Nasci na Tunísia, tenho pais italianos e me sinto italiana. Há 18 anos moro em Paris, mas sou muito ligada à África, onde estão as minhas raízes. Como diz Jacques Chirac (ex-presidente francês), sou multicultural. Pertenço a todas as regiões, a todas as raças", afirmou ela, durante a 1a Temporada de CARAS no Castello Santa Maria Novella, na região da Toscana. À vontade entre os convidados, a musa de Federico Fellini (1920- 1993), que a dirigiu no filme 8 fi, e vencedora de 13 prêmios pelos seus trabalhos no cinema - incluindo o Leão de Ouro do Festival de Veneza - fez uma retrospectiva de sua vida. "Lembro que meu primeiro teste para o cinema foi um desastre. Fiquei muda, olhando a comissão julgadora. Eles me aceitaram por conta do meu forte temperamento e me deram uma bolsa de estudos na Cinecittà (local onde se concentravam os estúdios do cinema italiano)", contou. "Depois de dois meses de curso, fui embora, batendo a porta. Não queria filmar. Cinema é como um homem, você deve rejeitálo para ser desejada", completou. De fato, depois de impor seu talento no meio cinematográfico, Claudia ganhou um enorme clube de admiradores. "Pier Paolo Pasolini (cineasta) fez uma descrição do meu olhar; Alberto Moravia (escritor) me chamou de um objeto no espaço; e Peter Sellers (ator) dizia que, depois do espaguete, na Itália, eu era a melhor invenção", revelou a atriz, que deu à luz ao seu primeiro filho, Patrick (52), aos 17 anos - o pai, um francês casado, nunca o reconheceu. Pouco tempo depois, ela casou-se com o produtor monegasco Franco Cristaldi (1924-1992). Em 1975, começou a namorar o diretor italiano Pasquale Squitieri (69), com quem tem uma filha também chamada Claudia (28). Hoje, o romance continua, mas ele vive na Itália e ela, na França. "Pasquale é louco e inteligente. Não me apaixono por gente muito normal, gosto de pessoas divertidas. Ele compreende meu ritmo de vida, e eu, o dele", explicou. Os dois trabalham juntos na minissérie Viaggio di un'italiana, escrita por Giordano Bruno Guerri e dirigida por Pasquale para a Odeon TV. O programa contará sua vida privada e sua carreira. "Sempre digo, sou La Ragazza con la Valigia (A Moça com a Valise, filme de 1961, de Valerio Zurlini). Tenho muita energia para gastar ainda", avisa. - Foi bom retornar à Itália? - Sempre me senti italiana. Meu pai nunca se naturalizou na Tunísia. Estou sempre conectada com este país. Aqui no Castelo, tive a companhia de pessoas muito amáveis. A propriedade medieval e a paisagem de olivas e vinhas fizeram com que eu voltasse no tempo. Entre os obras que vi aqui, me impressionou o quadro de São Jorge, do Fábio Balen (artista plástico gaúcho). É interessante como os brasileiros adoram este santo, que tem uma energia maravilhosa. Ele usou cores incríveis. - Como consegue conciliar a carreira com a família? - Consigo separar minha vida pessoal do meu trabalho. Quero ser comentada por minhas interpretações. Sempre tive os paparazzi à volta, mas eles me respeitam. As pessoas gostam muito de mim, talvez porque eu seja normal (risos). Existem artistas que se acham divas e saem sempre com guardacostas. Eu, não. Nos meus filmes, nunca usei dublês e na vida real sempre me defendi sozinha. - Como se transformou na musa de Federico Fellini? - Fellini vinha todos os dias à minha casa. Eu ficava totalmente muda. E ele falava, falava... Dizia que eu lhe dava inspiração. Fellini me via como uma aparição. - E o seu trabalho nos estúdios de Hollywood? - Depois que assinei um contrato com a Universal, me deram o camarim que fora de Marilyn Monroe. Quando abri a gaveta, encontrei todas suas coisas, maquiagem, fotos, bilhetes, foi muito emocionante. Lá na Universal realizei meu sonho de conhecer Alfred Hitchcock. - Consegue separar a Claudia Cardinale atriz da mãe, mulher e militante? - Para as câmeras, sou Claudia. Atrás delas, sou Claude (Claude Josephine Rose Cardinale), que é o meu verdadeiro nome. Separo muito bem quando vivo um personagem e quando sou eu mesma. Interpretei, de princesa a prostituta, quase todos os papéis da literatura italiana. Normalmente, se vive uma vida só, mas eu vivi 130 vidas, pois foram 130 filmes. Atuar serviu para abrir minha mente. O importante é ter força interior porque, se você é frágil, perde a essência. - Como é ser embaixadora da UNESCO? - É um enorme orgulho. Trabalhei a favor das mulheres islâmicas e também pela liberdade de homens e mulheres. Ultimamente, venho me empenhando pela preservação da ecologia. Lutei muito por Amina Lawal, a nigeriana condenada a apedrejamento, em 2002, por adultério. Fiz um abaixo-assinado para salvá-la. - Quais são seus truques para se manter bonita? - Eu não sou bonita. Minha juventude está na mente, me sinto com 20 anos. Nunca fiz lifting porque é um sinal de fragilidade. Me cuido bastante com cremes, mas tenho rugas. Cada idade tem sua beleza. Me incomoda as mulheres todas refeitas, de bocas com silicone, são todas iguais, uns robôs. O que tenho é o rosto fotogênico, com as maçãs altas e o olhar sempre penetrante. Beleza não tem importância. O que vale é o que se consegue transmitir. Não exterior, e sim, interior.
Castelo de CARAS

Leia também

Frederico Lapenda: “O cinema é meu trabalho e minha paixão"

Top gaúcha Cintia Dicker comemora 11 anos de carreira

10 produtos que não podem faltar na sua necessaire

Requinte pontua baile de máscaras

O estilo único de Leila Schuster

Christiane Torloni: "Com preparação podemos dizer sim aos desafios"