Em entrevista exclusiva a CARAS Brasil para o especial Mês da Mulher, a cantora Majur rebate o preconceito contra mulheres trans
No especial Mês da Mulher da CARAS Brasil, a cantora baiana Majur (28), símbolo da luta pela representatividade e inspiração não apenas para mulheres trans, falou sobre o que elas representam na sociedade hoje e criticou o preconceito no Brasil. "País que não aceita mulheres trans", dispara.
Logo no início, a artista falou da importância de celebrar o Dia da Mulher. "Para mim, é muito grande porque precisei conquistar, de fato, o que era ser eu. Desde que identifiquei, aos 4 anos, que era uma menina trans, tive a missão de tentar entender como esse corpo seria reconhecido na sociedade. Foi um processo de conquista, do meu ser, de quem eu sou, inclusive as cirurgias plásticas que a gente faz para se transformar e conseguir se ver, de fato, elas são importantes para a construção... Acho que também são consquistas. E de lá pra cá, conquistei quem eu sou de fato e estou muito feliz", diz.
Majur também falou sobre empoderamento por meio de suas músicas. "Percebi que minha imagem era representativa para outras pessoas quando comecei a cantar e aparecer na mídia. As pessoas começaram a se referenciar. Aí, entendi o que significava a representatividade, significava que o meu corpo era um corpo político. E fui pega porque queria ser (apenas) cantora, não ia falar do meu gênero, nada do tipo. Nenhuma mulher fica falando do seu gênero o dia inteiro. Mas quando percebi, em algum momento, que éramos minoria na sociedade, a necessidade de ter a minha imagem ali, era gigantesca. Em uma sociedade que tem estatística de morte de mulheres trans, é o País que mais mata mulheres trans no mundo, psicologicamente e fisicamente... Então foi um processo que eu trouxe para a música porque tinha que trazer, não tinha como. Nas canções, falo de mim, e a partir de mim, acaba referenciado outras meninas", explica.
Segundo a cantora, ser mulher na sociedade tem toda uma história, uma história de muita luta. "Elas lutam pelo espaço de estar no mercado de trabalho, de se acender socialmente... E hoje, na verdade, a gente tem um comando das mulheres e eu fico muito feliz que a gente está começando, de fato, um matriarcado, saindo desse patriarcado sujo, que nos aprisionou durante muito tempo. O que estou falando é que não só pessoas trans se referenciam, mas mulheres cis (cisgênero, usado para definir pessoas que se identificam com o gênero que é designado quando nasceram, o qual é associado socialmente ao sexo biológico) também, pela luta, pela conquista. Se para uma mulher cis é difícil, imagina para uma mulher trans? Se eu cheguei, é possível todas chegarem, todas vão chegar", ressalta.
Majur ainda pontuou os maiores desafios de ser mulher: "Para mim foi o início, quando eu precisava expressar de dentro para fora e eu não tinha acesso a dinheiro, a educação de qualidade. Tive um longo caminho a percorrer. Precisei estudar muito para acessar a minha área, a que eu gosto; primeiro, o designer. Depois, a música. Então tem todo um processo. Para mim, o grande desafio foi sair do zero, sem imaginar como seria possível. Está todo mundo contra você, como você vai conseguir fazer aquilo? Só que tem uma coisa que move tudo que é a fé. Enquanto eu estiver viva, posso tentar. Com essa fé, consegui ter coragem para tentar bater de frente com as portas, que várias vezes não consegui acessar, mas não desisti até de fato quebra-las", fala.
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