Pra que rimar amor e dor?”, indaga o refrão da música do compositor e cantor baiano Caetano Veloso (70) Mora na Filosofia. A pergunta deve vir com frequência à mente daquelas pessoas que se relacionam com parceiros depressivos. Essa situação em geral requer carinho e solidariedade, mas não só. É fundamental estar atento ao comportamento de ambos os envolvidos para que a convivência não se torne intolerável.
É importante esclarecer que não estou falando de pessoas que ficaram meio “pra baixo” por uns tempos em função de algum revés que sofreram, mas daqueles que estão sempre desanimados e sem energia. Digo isso porque hoje em dia quase todos os estados tristonhos tendem a ser rotulados como “depressão”. As pessoas não têm mais o direito de estar justificadamente desanimadas ou recolhidas em função de coisas concretas ou subjetivas pelas quais atravessam. Se bobearem, lhes dão um remédio para o problema “passarlogo”. Um absurdo! O parceiro ou a parceira solidários e sintonizados com a cara-metade devem ser capazes, neste momento, de perceber o que está acontecendo e compreender a momentânea situação.
Agora, quando o outro se mostra continuamente depressivo, como conviver com ele? Inicialmente, é necessário distinguir que não se trata má vontade, desamor ou infelicidade na relação. Aqueles que têm aversão à própria depressão e ficam com raiva da depressão alheia, porque ela atrapalha o andar da carruagem da satisfação, são os que sofrem mais. Nesses casos, a pessoa terá de avaliar se é capaz de tolerar a situação, manter certa autonomia e não deixar de fazer as coisas de que gosta, mesmo quando o parceiro não se sente animado para fazê-las conjuntamente — e cuidar-se para não se deprimir junto, pois o desânimo é realmente contagiante.
Outra armadilha a ser evitada é pensar que só pelo fato de estar junto de si o parceiro não teria por que estar deprimido. Ora, ninguém é tão poderoso a ponto de remover as montanhas psíquicas e até biológicas que estruturam uma depressão. Melhor passar a tarefa a um psicanalista — que, aliás, poderá ajudar os dois. Enquanto mantém a esperança de que os humores melhorem, pode-se ir desfrutando a relação, que sempre preserva algumas alegrias. Ninguém, afinal de contas, se esgota no rótulo de “deprimido” e, além do mais, existe até um certo charme na profundidade, na atmosfera noturna de quem vaga pelos subterrâneos da alma e parece deter o monopólio do peso da existência. Ao mesmo tempo, porém, é muito desagradável conviver com a pessoa deprimida que adota uma postura de superioridade moral e se enche de convicção de que é ela que está certa e o mundo todo perdido.
O termo “depressão” é cercado por uma significação sombria, pesada — não bastasse o triste estado de ânimo que indica. Numa sociedade voltada para a alegria, o entusiasmo e a satisfação — e na qual os olhos se inebriam para os assim chamados “vencedores” —, mencionar que alguém está ou é deprimido torna-se quase um estigma. Mas a verdade é que poucos escapam de sentir-se vez por outra com a moral abatida, cansados sem motivo aparente, olhando de forma pessimista para o futuro, como se o presente adverso tivesse que ser eternizado. Talvez por ser um estado tão penoso é que a aversão à depressão alheia é severa e, certamente, injusta.
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