Ela estreia como romancista, diz que mudou os valores, mas não alteraria nada em sua historia
Mesmo se pudesse reescrever sua história, Vera Fischer (59) ainda assim assegura que não mudaria nada. E até momentos turbulentos, como o período de dependência química e a perda da guarda do caçula, Gabriel (18), do casamento com Felipe Camargo (50), em 1997, são vistos hoje como um grande aprendizado. "Sei que cometi muitos erros, mas não sou de olhar para trás. Afinal, se alterasse uma vírgula, não seria quem sou hoje. O que fiz está feito. É página virada", ratifica ela, que há dez anos deixou de lado as noitadas e badalações. Vera define a última década como um longo capítulo de tranquilidade. Em sua cobertura no Leblon, Rio, a atriz passa a maior parte do tempo praticando seus hobbies: pintar e escrever. Só do ano passado para cá, diz ter concluído dez obras. Uma delas será lançada na segunda-feira, 20, na Livraria do Café, no Shopping da Gávea. Em seu primeiro romance, chamado Serena, Vera confessa que há pelo menos duas situações pelas quais ela mesma já passou, mas prefere não desvendá-las. "Deixo vocês imaginarem quais são", desvia ela, que não assume nenhum namoro desde o fim da relação com o diretor Marcos Paulo (59), há quase seis anos. "Isso não quer dizer que não tenha alguns casos. De vez em quando pinta e ninguém fica sabendo. Um 'ficante', uma coisa rápida (risos). Mas sentimento intenso mesmo, nunca mais rolou. Meus únicos amores foram Felipe Camargo e Perry", diz ela, referindo-se ao ator Perry Salles (1939-2009), com quem teve a primogênita, Rafaela (31).
- Acredita que seja mais fácil os outros se apaixonarem por você do que amar alguém?
- Nunca pensei nisso, não sei dizer... Posso não me apaixonar em cada esquina, mas estou longe de ser inabalável. Já sofri muito por amor e fui incompreendida.
- Então, o que está faltando para amar novamente?
- Na verdade, acredito que possa nem vir a acontecer. Vai ser difícil sentir essa sensação mais uma vez. Não é um sentimento fácil de experimentar e eu tive a sorte de já tê-lo provado duas vezes. A terceira, talvez, seja demais. Mas no futuro, quero, sim, alguém para cuidar de mim. Quem sabe quando eu estiver velhinha e a pessoa também? Tem que haver mais paz de espírito para esse encontro.
- E se isso vier a acontecer...
- Eu vou querer um companheiro. Não será nada sexual, mas alguém para viajar, conversar e com quem possa contar todas as horas. Hoje, não faço questão nem sinto falta de sexo, já tive tanto... Nos últimos tempos, estou com minha cabeça funcionando mais e não me sinto muito igual às outras mulheres. Tenho prioridades diferentes e quero um pouco de sossego. Adoro a vida que inventei para mim.
- E quais seriam suas prioridades ultimamente?
- Meus filhos. Eu estou de olho neles, apreciando como eles estão se desenvolvendo. Conversamos bastante. Isso tem sido muito importante, ser amiga deles, ver o que pensam e por qual caminho vão seguir. Qualquer dúvida, eu quero estar lá para auxiliar.
- De onde surgiu a inspiração para escrever Serena?
- Outra vez, não sei dizer. A minha cabeça funciona a mil por hora. Tenho tantas ideias, tanta criatividade... E só parei de escrever agora porque em novembro fiz a série da Globo Afinal, O Que Querem As Mulheres? Também porque tive uma tendinite na mão direita, de tanto escrever. Estou fazendo fisioterapia. Caso contrário, já emendaria em outro livro (risos). Ideias não faltam.
- Como foi fazer a série?
- Muito divertido. Já havia trabalhado com o diretor Luiz Fernando Carvalho em Riacho Doce e Rei do Gado. E ele é fora de série. Um cara muito meticuloso. E como faz tudo sozinho, Luiz exige que você também faça tudo à perfeição. Mas, ao mesmo tempo, consegue ser carinhoso.
- Quais os próximos projetos?
- Quero fazer a peça alemã As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, do Fassbinder, no ano que vem. Vou interpretar uma personagem que vai chorar, sofrer, gritar, me jogar no chão... Mas gosto disso. Sou uma atriz dramática.
- E na vida real?
- Não, no dia a dia sou uma brincalhona. Mas me levo a sério.
- Até hoje é vista como uma musa. Se considera assim?
- Não, sei que estou bem de cabeça e de corpo, mas já vou fazer 60 anos... Assumo todas as minhas rugas e aprendo cada vez mais com o tempo. Meu filho diz que a gente fica mais sábia. E é verdade. Tento só não engordar e 'embagulhar' porque tenho amor-próprio e um público que gosta de mim. Porém, mais do que continuar bonita, desejo fazer 100 anos com saúde.
- Como gosta muito de escrever, tem algum diário pessoal?
- Não, deposito meus sentimentos nos livros que faço. No fundo, há muito de mim neles. É tudo o que eu penso e sinto. Tudo de bom e de ruim. Não pense que sou só boazinha. Ninguém é 100% assim. As pessoas são boas e más. E eu externo tudo isso nas minhas escritas. É uma terapia.
- Você seria um livro aberto?
- Demais. Peco pelo excesso de sinceridade (risos). Sou transparente e tenho noção de que isso pode se transformar em uma faca de dois gumes. Confio demais nas pessoas e, às vezes, essa postura me traz certas dores de cabeça. Mas o que posso fazer? Eu sou assim.