Tradição e luxo no lar de Elie Saab

Em Beirute, no Líbano, o estilista Elie Saab revela onde nascem suas criações

Redação Publicado em 19/06/2012, às 13h30 - Atualizado em 20/06/2012, às 22h00

O designer, que virou sinônimo de glamour no red carpet, aconselha as mulheres a serem autênticas para se sentirem lindas e brilharem ainda mais. - cadu pilotto

Em 1982, o Líbano já estava há sete anos em guerra civil. No mesmo ano, Israel havia invadido o país e a capital, Beirute, estava sitiada. Elie Saab (48) tinha 18 anos e um sonho: se tornar estilista. Aos nove anos, já usava toalhas e cortinas da mãe para criar vestidos para as irmãs. Ao longo dos anos, as vizinhas passaram a encomendar suas criações, mas para se consolidar entre a alta sociedade local, o jovem precisaria desfilar seus vestidos como faziam os grandes estilistas na Europa e EUA. “A maior dificuldade era encontrar modelos”, lembra Saab. “Não havia desfiles e muitas mulheres tinham deixado o país por causa da guerra.” E a falta de manequins não era o único obstáculo. As entregas de tecido às vezes não aconteciam por causa dos bombardeios, tiroteios impediam as pessoas de ir trabalhar e era comum faltar água e eletricidade. “É curioso, mas nunca pensei em deixar o meu país e sempre acreditei que poderia realizar meu sonho aqui.”

Mas o desfile aconteceu. E antes mesmo de completar 19 anos, Saab já era um ícone no Líbano. Logo, conquistou compradoras fiéis entre a realeza do Oriente Médio. Foi com um vestido seu que a rainha Rânia (41), da Jordânia, foi coroada em 1999. A peça, adornada com diamantes e esmeraldas, teria custado mais de 5 milhões de reais. Em 1997, Saab foi convidado para desfilar a linha couture em Roma. Em 2000, o Chambre Syndicale de la Haute Couture, entidade francesa que reúne os estilistas de alta-costura, o convidou para se apresentar em Paris. Em 2006, ele se tornou um Membre Correspondant, o que lhe garante o direito de dizer que faz alta-costura. Antes de Saab, somente dois estilistas não franceses receberam a honra: os italianos Valentino (80) e Armani (77).

Recentemente Saab lançou seu primeiro perfume. “Elie é apaixonado por fragrâncias, se empenhou muito nesse projeto”, diz Claudine, casada com o estilista há 20 anos e mãe de seus três filhos. Saab se diz estreitamente ligado ao Líbano e suas origens. “Talvez isso torne essa casa especial para mim, por toda a tradição e história que traz”, diz o estilista sobre sua mansão com inspiração otomana, situada no distrito Gemmayzeh, uma das áreas mais tradicionais de Beirute. “É uma casa com quase 100 anos. Quando a comprei, fiz reforma e ampliação, mas mantive o estilo original”, conta. Nesse cenário  sofisticado e exótico, o estilista recebeu CARAS com exclusividade e relembrou sua trajetória de sucesso.

Você é um dos designers mais prestigiados de Hollywood. Um vestido alta costura seu pode custar mais de 200000 reais. O que torna suas criações tão especiais?

– Homens pagam milhões por obras de arte. Colocam um quadro em seu escritório para ser visto, olham para a obra e lembram coisas boas do status que tem. Acredito que a alta-costura também seja obra de arte. E quando essas pessoas dizem ‘Uau’ para uma mulher, a sensação é única. Para a mulher, é um momento especial. Toda vez que ela for ao armário, verá aquela obra de arte e relembrará o que conquistou com ela. Toda mulher quer ser única. Pode ser uma atriz de Hollywood, uma rainha ou dona de casa, não importa; ela quer se sentir linda.

– O que a mulher deve fazer para ser mais glamourosa?

– Não gosto quando uma mulher se esforça para ser o que não é. A partir daí, sinto que a tarefa não vale a pena. Quando é preciso se esforçar para ser mais glamourosa ou fashion, soa falso. Isso destrói cada peça que ela pagou. Você deve ser você mesma. Você conhece a si mesma. Quando uma mulher chega com essa mentalidade, sou direto. Porque não sou mágico. Faço uma moldura para a mulher. Não a construo; destaco o que ela tem de melhor.

– Você cresceu em uma família tradicional que preferia um filho advogado. Quando começou a desfilar, o país estava em guerra e nem mesmo existiam modelos. O que o torna tão obstinado?

– Sofri com meus pais para ser estilista; um homem na indústria da moda não era bem visto. Mas acredito no que faço, no que amo. Minha meta é concretizar meu sonho, desde os nove anos sonho ser estilista. Por acreditar nisso, montei minha loja, fiz um desfile com 18 anos e sigo criando.

– Como define seu perfume?

– Busquei uma memória de infância. Morava em uma casa onde havia laranjeiras e jasmineiros. Na primavera, esta mistura ficava ‘presa’ na minha mente. Quis este ‘espírito.’

– Gostaria que seus filhos fossem estilistas?

– Tenho três meninos e nunca vou ‘empurrá-los’ para nada. Não acredito que você deva querer que seus filhos sejam como você. No ano que vem, meu filho vai estar conosco, mas porque quis. Estou imensamente feliz, mas nunca o forcei. Você deve amar o que você faz, ou melhor não fazê-lo.
 

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