... alteração de hipster, pessoa atualizada, eram desleixados com a própria imagem. Talvez nem gostassem de duchar, do latim duceam, conduzir, origem de ducha, que é o banho com jato de água dirigido.
Botocar: de botoque, do gascão
bartoc, buraco nos tonéis de vinho ou pedaço de madeira para tapá-los, rolha. O gascão é um dialeto falado na Gascônia, região sudoeste da França. Vem do francês
gascon, alteração do latim
vasco, ou
wasco, no latim vulgar, por influência germânica. A palavra "vasco" não foi alterada apenas pela troca dessas consoantes, de "v" para "g" ou "w", mas também para "b", como em basco. Os romanos registraram "vasco" porque a pronúncia "eusko", palavra com que os habitantes denominavam o lugar, lhes soou assim. Botoque designa também uma peça arredondada de madeira, pedra, osso ou concha, que os índios sul-americanos, especialmente os botocudos, usam como enfeite, introduzindo-a em furos feitos no lábio inferior ou nos lóbulos das orelhas. Entretanto, depois que a bactéria que causa o botulismo passou a ser aplicada na correção ou eliminação das rugas, com finalidades estéticas, o inglês
botox, nome comercial da toxina por ela produzida, ensejou outro significado para botoque, resultando no verbo botocar. A origem remota de
botox é o latim botullus, tripa, de que se formou
botellus, tripinha. Botocar é aplicar botox para corrigir marcas de expressão, as populares rugas. O cronista
José Simão (64) registrou o novo verbo em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo: "
É que tem um boneco no Japão chamado KANSEI. Que faz mais de 35 expressões faciais. Mais que a Regina Duarte. Que só faz três. De tanto botox. Aliás, as mulheres estão tão botocadas, mas tão botocadas, que têm que andar com um crachá pendurado no pescoço: estou triste, estou alegre, estou emocionada. Vai virando as plaquinhas".
Duchar: do latim
duceam, do verbo
ducere, conduzir, pelo italiano
doccia e o francês
douche, veio ducha, banho de chuveiro em que o jato de água é lançado com força sobre a pessoa, com fins higiênicos ou terapêuticos. O verbo duchar ainda é muito pouco utilizado, tanto na fala coloquial quanto na escrita, no entanto está presente nos dicionários desde que esse tipo de banho se tornou usual no Brasil, na década de 1970. O substantivo ducha, porém, chegou à língua portuguesa ainda durante o século XVIII, conforme registro feito pelo
Dicionário Morais.
Hippie: do inglês norte-americano
hippie, designando pessoa que, rompendo com a sociedade tradicional, mostra que seus valores são outros, manifestando a inconformidade sobretudo na aparência pessoal - cabelos longos, barba por fazer, roupas desleixadas - e nos hábitos de vida diferenciados da norma geral. O movimento
hippie, que ganhou o mundo na década de 1960, teve seu apogeu nos anos 1970, entrando em declínio a partir de 1980. A palavra
hippie já estava no inglês norte-americano dos anos 1950, corruptela de
hipster, pessoa atenta às novidades, estilosa, mas que surgia com significado depreciativo. Em 1920, o escritor
Scott Fitzgerald (1896-1940) tinha usado a palavra
hip, do mesmo étimo, no livro
Este Lado do Paraíso, designando pessoa preocupada em estar sempre atualizada em tudo.
Tortilha: do espanhol
tortilla, torta pequena, derivado de torta, do latim
torta, pastelão, designando fritada de ovos batidos com a forma arredondada da torta. A tortilha espanhola teria sido servida pela primeira vez ao general
Tomás de Zumalacárregui (1788-1835). Faminto, depois de uma batalha, ele pediu a uma camponesa pobre que lhe desse de comer. Ela fritou batatas com ovos batidos, oferecendo o prato com desculpas por não ter mais do que aquilo. De família pobre, o militar era órfão desde os 4 anos e tinha muita experiência de passar fome. Comeu tudo que lhe foi oferecido, tornando desde então muito conhecido esse tipo de alimento. O general, monarquista, combateu os liberais e foi duro com os inimigos capturados, tendo fuzilado muitos deles. Seu sucesso militar deveu-se à guerrilha, que realizou com enorme apoio popular. Ferido por um tiro na perna, exigiu que fosse levado a seu curandeiro predileto, aos cuidados do qual morreu de infecção generalizada. Para associar sua heróica existência à invenção da tortilha, os espanhóis criaram a lenda de que o prato foi também sua última refeição. A culinária moderna acrescentou vários ingredientes à tortilha clássica: cebola, pimentão, aspargos verdes, ervilha ou feijão, chouriço. Com o tempo, a receita desdobrou-se em tortilha paisana, murciana, catalana, à caçadora e outras, variando os condimentos de acordo com a região em que é feito o prato famoso. No México também há tortilhas, porém são feitas de farinha de milho ou de trigo e recheadas com carne.