O rei enterra a mãe, eternizada por ele em canção, no dia do seu aniversário de 69 anos
Diante do silêncio consternado de parentes e fãs, Roberto Carlos prestou uma homenagem à mãe, Laura Moreira Braga (1914-2010), em seu adeus a ela no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste do Rio, na segunda-feira, 19, dia em que completou 69 anos de idade. Bastante abalado com a grande perda, ele cantou baixinho os versos de Lady Laura, música que compôs para ela em 1976. "Minha mãe está indo embora no dia em que me colocou no mundo", desabafou o Rei com seu empresário Dody Sirena (48). Laura morreu no sábado, após passar 18 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Copa D'Or, em Copacabana, devido a uma infecção respiratória.
O cantor chorou muito enquanto o padre Antônio Maria (64) rezou uma Ave-Maria e entoou a música Nossa Senhora, do próprio Roberto, acompanhado em coro por cerca de 500 admiradores do artista. Amparado pelos irmãos, Norma (74), Carlos Alberto (76) e Lauro (78), e os filhos Dudu Braga (42), Luciana (39) e Rafael Braga (45), o Rei não conseguiu nem mesmo olhar para o caixão no momento em que o desceram à sepultura. "É difícil para nós, mas temos que pegar o exemplo que ela nos deu e seguir em frente", comentou o neto Dudu, ao lado da mulher, Valeska Sostenes (29). "Minha avó era uma mulher extremamente forte. Durante sua internação, chegou a falar com a gente em alguns momentos e nós não achávamos que ela fosse falecer agora, como aconteceu. Isso tudo é uma coisa bastante chata", acrescentou Luciana, que recentemente deu à luz Ava (2 meses). Fiéis amigos da Jovem Guarda, Erasmo Carlos (68), Wanderléa (63), Jerry Adriani (63) e Rosemary (64) também foram ao cemitério dar apoio a ele, assim como os fãs, que logo após o enterro cantaram em coro Parabéns a Você e gritaram "Eu te amo, Roberto". Comovido com a manifestação carinhosa, o astro respondeu: "Eu também amo vocês. Obrigado". Depois que o Rei deixou o cemitério e seguiu para seu apartamento, na Urca, seus admiradores ainda permaneceram no local durante algum tempo.
Internada no dia 31 de março, Lady Laura, como era carinhosamente chamada a mãe de Roberto, contou com a presença do filho famoso a maior parte do tempo em que esteve no hospital. Preocupado com ela, o cantor cancelou uma ida ao México, onde faria o primeiro show da turnê internacional em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Poucos dias depois, dona Laura chegou a apresentar melhoras e, pela primeira vez no hospital, passou a respirar sem a ajuda de aparelhos. Com o quadro de saúde da matriarca da família evoluindo bem, o músico viajou para os Estados Unidos e recebeu uma homenagem da Sony Music pelos 100 milhões de discos vendidos em todo o mundo. No dia do aniversário da mãe, 10, ele se apresentou em Miami. Na noite do último sábado, Roberto subiu ao palco do Radio City Music Hall, em Nova York, e cantou, emocionado, Lady Laura. Ele havia sido informado pouco antes de o show começar que o estado de saúde da mãe tinha piorado e que ela estava sedada. A notícia da morte só foi dada no fim da apresentação. Transtornado, não voltou para o bis. Coube ao maestro Eduardo Lages (62) avisar ao público que o cantor não retornaria para concluir o show.
Com muitas lágrimas no rosto, o artista deixou a casa de espetáculos e acenou para os fãs, que o aguardavam para dar seu apoio. Roberto só conseguiu deixar Nova York em avião fretado no domingo, às 9 da manhã, horário de Brasília, aterrissando no Rio às 21h30. Do Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, foi direto para o hospital, onde chegou às 22h42, com os olhos vermelhos. Segundo Dody Sirena, Roberto não conseguiu dormir durante todo o tempo do voo para o Brasil. "Ele está bastante triste por não ter chegado a tempo de dar um último beijo na mãe", explicou Dody. O empresário garantiu ainda que Roberto cumprirá o restante da turnê. O próximo show está marcado para 4 de maio, em Lima, no Peru. Depois, ele voltará para os Estados Unidos e fará apresentações ainda no México, Canadá, Colômbia e Costa Rica.
Roberto passou quase toda a madrugada no Copa D'Or, deixando o local somente às 3h30 para ir em casa tomar um banho, e retornou às 6h. Antes de o cortejo sair em direção ao cemitério, os padres Jorjão (48) e Antonio José de Moraes (58), pároco da Igreja Nossa Senhora do Brasil, na Urca - onde são celebradas as missas em homenagem à última mulher de Roberto, Maria Rita (1961-1999) -, fizeram uma oração por Lady Laura. "Ela era uma fortaleza, falava que queria sair logo do hospital, nunca desistiu, mas a força de seus 96 anos acabou falando mais alto", declarou Milton Kazuo Yoshino, um dos médicos que assinou o óbito e que a acompanhava há 20 anos.
A mãe de Roberto foi a grande incentivadora da carreira artística do Rei. Apesar da vontade dela e da família de que ele fizesse Medicina, Laura o apoiou quando o músico, ainda menino, disse que queria ser cantor após se apresentar na Rádio Cachoeiro de Itapemirim ZYL9. Foi ela, inclusive, que lhe ensinou os primeiros acordes no violão. Mineira da cidade de Mimoso, era devota de Nossa Senhora, de São Judas Tadeu e de Cosme e Damião e transmitiu essa religiosidade ao filho, que usou o nome dela para batizar quatro dos seus barcos e uma de suas canções mais famosas. "A criação dessa música foi demais. Sinto-me envaidecida de ser a Lady Laura. Depois que a lançou, ela pertence a todos, mas todas às vezes em que ele a canta, eu sinto como se a tivesse interpretando somente para mim. Não bastassem todos os presentes que meu filho me deu, ainda teve esse", comentou certa vez Laura. Durante seu enterro, amigos falaram que os restos mortais de Robertino Braga - pai do cantor, que morreu em 1980 -, que está enterrado no Cemitério São João Batista, vão ser transferidos para o jazigo da família onde a matriarca foi sepultada.