O relax de Kenzo Takada no Nordeste brasileiro

Uma viagem pelas cores, sabores e memórias do Brasil. Foi assim o passeio que o renomado estilista, designer e empresário Kenzo Takada (71), criador da Coleção CARAS Sonho Oriental, que chega às bancas a partir de 9 de fevereiro, fez pelo País em suas férias no início deste ano. Uma das passagens mais encantadoras, segundo ele próprio, foi sua estada no paradisíaco Nannai Beach Resort Hotel, em Porto de Galinhas, litoral sul de Pernambuco, onde se hospedou logo após fotografar e filmar a campanha da coleção de 2011. Sempre bem-humorado e disposto, Kenzo fez questão de conhecer cada pedacinho do resort, cercado por belíssima paisagem e banhado pelas águas cristalinas do mar pernambucano. Em entrevista, conta que a viagem ao Brasil trouxe à tona memórias da infância e fala também sobre o seu atual momento profissional. - O que mais chamou sua atenção na visita a Pernambuco? - Primeiramente, achei um lugar estupendo, maravilhoso, lindo... E somente aqui consegui descansar mesmo, venho de um pique de trabalho em grandes metrópoles. O hotel preparou um jantar em um ambiente totalmente exclusivo e único, com decoração de flores e plantas, tudo muito detalhado e elegante. Tudo estava muito bem feito, desde a comida até o atendimento, a hospitalidade dos brasileiros, a elegância da mesa, os músicos e cantores que se apresentaram para mim. Aquele momento foi muito forte e ficou marcado na minha cabeça. - Quais as sensações? - Tive sensações muito diferentes ao ver como vocês têm um País de diversidades, de paisagens que a gente só vê em filmes, de cores e de sabores variados. Revisitei os sabores da minha infância, apesar das diferenças, mas veio à tona a lembrança da minha mãe. Isso tudo me emocionou muito. - Porque sua viagem se estendeu ao Nordeste? - Estive na Bahia há 25 anos e fiquei muito impressionado com o lugar. Lembro que me hospedei em um local que era um convento. Percebi a união entre preservação histórica e natureza. Isso me impressionou muito, assim como as pessoas, que são mais alegres. Em Pernambuco é a primeira vez e estou impressionado com a beleza das praias. Até então, vim muito ao Rio, mas quando conheci o Nordeste, senti um impacto positivo e fiquei curioso para saber mais dessa região. Aqui a natureza é exuberante. É um privilégio estar em meio a essas belezas naturais com essa modernidade que temos em qualquer lugar do mundo. Já fiquei impressionado com o que vi do avião, a paisagem é linda. - Seu país é muito diferente? - O Japão é 23 vezes menor que o Brasil e o território é 80% de montanha. Não há essa natureza plana como aqui. Isso é um diferencial. O Japão também tem sua beleza, mas é diferente. Adoro mergulhar, caminhar na praia e tomar banho na água quentinha. - Tem vontade de prosseguir para mais lugares? - Sim, pois estar em meio à natureza me fortalece física e mentalmente. Esta preservação me traz paz para a alma e bem-estar para o corpo também. Esta é uma viagem de lazer. Faço de tudo para não pensar em trabalho, mas, lá no fundo, acabo armazenando todas as informações do que vejo e as sensações que tenho. Quando eu paro, começo a resgatar na minha memória esses momentos e esse choque de beleza. Tudo faz parte da criação. - Está em busca de negócios inovadores e revolucionários? - Estou em uma fase de buscar relacionamentos e o que é bom para as partes. O meu foco é a criação. Gosto de tudo que é criação, mas ainda não posso revelar muito. Posso dizer que o Brasil é um país de muitas oportunidades. Os brasileiros têm grande privilégio de viver em uma terra com fauna e flora tão diversificadas e o povo é muito sensível a isso. Vejo a preservação e a minha ideia é fazer algo usando a natureza do Brasil, sempre com a mente voltada para esse tema. O Brasil tem muita energia e um belo futuro pela frente. Logicamente, minha inspiração vai ser essa natureza. - Como vê a moda brasileira? - Tenho certeza que o Brasil pode ser ainda neste século um lançador de moda mundial, no setor de tecidos também. Tenho bastante convicção disso. As mulheres jovens brasileiras são muito fashion, de uma forma solta, são muito bem vestidas, não existe diferença de classe social e todas se vestem muito bem. A mulher brasileira sabe se posicionar, se produzir. A Gisele Bündchen, por exemplo, é uma mulher única. Além da beleza física, ela tem beleza interior, é uma modelo perfeita. Além disso, o Brasil é um país que tem matéria-prima abundante e que pode transformar tudo em produto de valor agregado. - O que esperar desta imersão no Brasil? - Na minha cabeça, as idéias estão fervendo. Com certeza, vou levar muita coisa daqui para criações futuras. Como vocês sabem, não estou fazendo moda, estou criando móveis. Sou um criador nato e este local é muito inspirador. Há 25 anos, quando estive na Bahia, tomei um choque de cultura baiana e introduzi muita coisa daquilo que vi na minha coleção. Vamos aguardar. Teremos muitas surpresas. Meu foco é o Brasil neste momento. Cada vinda a este belo País é uma surpresa agradável; nunca me arrependo, pois sempre vejo coisas que me surpreendem profundamente. A cor do mar aqui fascina os olhos de qualquer um. Eu, que gosto muito de mar e tenho um barco em Mônaco, adoraria passar uma temporada mais longa aqui. Com certeza, tudo o que vivi aqui nesta visita vai um dia servir de inspiração para um próximo trabalho. - Você pretende voltar a fazer desfiles um dia? - É necessário muito investimento para fazer um desfile, tanto pessoal quanto financeiro. Neste momento, não penso ainda nisso, mas não descarto tal possibilidade. Em vez de desfile, penso em outras coisas mais surpreendentes. Se for contar minha carreira no universo da moda, já fiz uns 150 desfiles. Desfile com música foi criação minha. Não tinha dinheiro para contratar modelos para os desfiles, então, contratava mulheres bonitas, mas elas não sabiam caminhar na passarela: a solução foi dar champanhe e colocar música. Aí 'pegou' no mundo.