Relação plena é possível, mas só para quem admite correr riscos

por <b>Rosa Avello</b>* Publicado em 02/09/2009, às 13h29 - Atualizado às 13h33

Eu já perdi a conta das vezes em que ouvi frases como: "Relacionamentos não dão mesmo certo, é melhor viver sozinho" ou "Só é feliz quem tem alguém para amar e ser amado". São generalizações, escapatórias fáceis para quem não quer pensar de verdade em um assunto, prefere desistir dele. Ora, uma pessoa que gosta de viajar não deixa de fazê-lo só porque a última experiência foi ruim. Viaja, de um modo ou de outro, pois aprende com os erros, supera seus limites, se aperfeiçoa. Pois as relações afetivas são como as viagens. Se a pessoa começa uma pensando que vai ser bárbara e não se prepara para o que pode dar errado, tem grande chance de se arrepender. Já quem não gosta de viajar, por mais planejada que tenha sido a jornada, sempre encontrará motivos para lamentar-se, dizer que está com saudade de casa, de sua cama, de seu chuveiro. Muitos me perguntam: Você conhece algum casal que "deu certo"? Alguns esperam minha resposta para acreditar que é possível ser feliz no amor. Outros querem ouvir algo que justifique seus fracassos de relacionamento. Todos buscam certezas. Querem alguém que diga: "Vai firme, que é sucesso garantido" ou "Não entra nessa, que é fria". Eu costumo frustrar os dois lados. Não há casais que "dão certo". Há casais que se apoiam no sentimento que nutrem um pelo outro para criar saídas para os problemas de cada um e dos dois; que apostam na força de crescer junto e se divertem com as possibilidades que um oferece ao outro; que acreditam que a individualidade temperada com companheirismo cria surpresas e afasta o tédio. Eu não diria que "dão certo". Diria que, enquanto há entrega e ambos se permitem ser transformados um pelo outro, eles "estão dando certo e tendo momentos felizes juntos". E se agem de modo a criar soluções próprias, construídas a partir do que têm de melhor, e evitam fazer o que todo mundo faz só porque "é assim que se faz", é grande a probabilidade de continuarem "dando certo" pela vida afora. Mas adotar tal postura dá um trabalhão! É mais fácil rotular as relações, dizendo que são "difíceis" ou "deliciosas", para não ter de refletir sobre expectativas e frustrações. Por esse caminho chega-se onde está a maioria: a idealização das relações, acreditando que "o amor é lindo" ou "uma grande roubada" e negando-se a descobrir o que é a entrega afetiva. Na verdade, é comum que idealizemos tudo que estamos prestes a experimentar. Fantasiamos que será maravilhoso ou vislumbramos negras possibilidades. Idealizar é a estratégia que a natureza nos deu para que nos preparemos e não nos acovardemos diante do desconhecido. Portanto, idealizar é bom. Mas até certo ponto. Idealizando ou não, sempre haverá momentos maravilhosos e obstáculos na conquista do que nos é caro. Viagens, assim como relações, são trabalhosas, mas podem trazer prazer. Capacitam-nos a enfrentar dificuldades com coragem, nos ensinam a ser pacientes e bem-humorados diante das diferenças e nos fazem evoluir ao refinar o caráter. É claro, sempre vai ter quem não esteja disposto enfrentar os desafios, que ache que nasceu sabendo tudo. Para estes, o melhor é ficar em casa, evitando riscos e, muitas vezes, mantendo-se na mediocridade.
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