O priapismo se caracteriza por ereção peniana por mais de 6 horas, dolorosa, independentemente de desejo sexual. Pode manifestar-se em qualquer um, mesmo em crianças. A incidência anual, de acordo com a revista médica americana
Urology, é de um caso em cada grupo de 100 mil homens de até 40 anos. Depois dessa idade, registram-se anualmente três casos em cada grupo de 100 mil homens.
Existem dois tipos de priapismo: o isquêmico ou de baixo fluxo sanguíneo e o de alto fluxo de sangue ou arterial. O priapismo de baixo fluxo é o mais comum. O mecanismo é o seguinte: o sangue chega pelas artérias ao corpo cavernoso do pênis e produz a ereção. Mas uma obstrução das veias no órgão não permite que se escoe e ainda impede a entrada de sangue arterial, tornando o fluido isquêmico (carente de oxigênio). A pressão sanguínea no interior do pênis aumenta e falta oxigênio, o que gera dor intensa. Já no priapismo de alto fluxo sanguíneo, por uma comunicação anormal de duas ou mais artérias (fístula), o sangue passa a chegar em grande volume e de forma rápida ao pênis, o que leva a um estado de ereção prolongada.
O priapismo de baixo fluxo sanguíneo pode resultar do consumo de drogas, em especial cocaína; de doenças do sangue como a anemia falciforme (alteração na molécula de hemoglobina, substância presente nos glóbulos vermelhos) e leucemia (proliferação anormal dos leucócitos, células de defesa orgânica). Causa importante, sobretudo em homens com mais de 40 anos, são as injeções de drogas vasodilatadoras (papavarina, prostaglandina e fentolamina) aplicadas no pênis seja para o diagnóstico de disfunção erétil, seja no tratamento do problema. O tipo de alto fluxo sanguíneo, de outro lado, resulta de lesão traumática peniana ou na região do períneo.
O priapismo isquêmico pode levar à dilatação dos corpos cavernosos, obstrução da saída do sangue vesoso (impuro) e da entrada do sangue arterial (oxigenado) e má oxigenação das células dos corpos cavernosos, com a morte de tecidos. Em geral, se não é tratado com sucesso, em cinco dias o homem pode ficar impotente. A alternativa, nesse caso, é a colocação de uma prótese peniana.
O ideal é que o homem que desconfie que está tendo priapismo consulte os serviços de urgência de um hospital logo nas primeiras horas. Embora as normas determinem que o fenômeno se caracteriza só quando a ereção persiste por pelo menos 6 horas, o paciente não deve esperar tanto. Quanto mais cedo o priapismo é diagnosticado e tratado, maior a chance de reversão e menor o risco de impotência.
O diagnóstico é clínico: o urologista conversa com o paciente para estabelecer um histórico do caso. Se necessário, o passo seguinte é realizar um exame conhecido como gasometria peniana: retira-se uma amostra de sangue do corpo peniano e se analisa o nível de oxigenação para determinar se é priapismo de alto fluxo sanguíneo ou de baixo fluxo. No caso do priapismo de alto fluxo, a fístula é corrigida por meio de cirurgia. Já o tratamento inicial do priapismo de baixo fluxo consiste em, sob anestesia local, introduzir uma agulha no corpo cavernoso e drenar o sangue até que o pênis relaxe. Completa-se o tratamento fazendo lavagem com um líquido composto de soro fisiológico e remédios adrenérgicos (fenilefrina), com monitorização cardíaca. Se essas formas de tratamento não dão resultado, faz-se cirurgia. O procedimento mais utilizado é o de Winter: consiste em criar um canal de comunicação da glande com a porção final do corpo cavernoso por meio de punções com uma agulha grossa. O objetivo, também nesse caso, é escoar o sangue e "desmontar" a ereção. Para que o priapismo não ocorra outras vezes, é fundamental que o homem afaste as principais causas, como o consumo de cocaína, trate as doenças do sangue e, finalmente, não use mais as injeções vasodilatadoras penianas.