Não há 'pessoa certa'. Procurá-la só provoca ansiedade e frustração

Redação Publicado em 07/05/2013, às 11h56 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Um paciente me falou outro dia sobre uma briga violenta que teve com a namorada. Ao fim do relato, abatido, disse: “Eu não sou a pessoa certa pra ela...”

Muitos parceiros reagem assim quando a relação não vai bem. Concluem que os desentendimentos acontecem porque estão com a pessoa errada, ou, como disse meu paciente, porque eles é que não são os “certos”. Tal atitude revela a crença de que em algum lugar existe uma única pessoa que nos fará feliz e com a qual a relação será fácil e sem problemas. Essa maneira romântica de pensar é nutrida pelas novelas, livros e filmes, que não mostram o dia a dia das relações nem o trabalho diário de construir e reconstruir as relacionamentos para que eles sejam duradouros.

Muitos são os efeitos indesejados desse modo de pensar. O primeiro é a ilusão de que basta procurar bem que em algum momento vamos dar de cara com a tal “pessoa certa”. Quem pensa assim desenvolve ansiedade em conhecer parceiros, envolve-se com muitos, mas as relações são superficiais, porque assim que os problemas aparecem se frustra, entende que está perdendo tempo com a “pessoa errada” e rompe a relação. Parte logo em seguida para uma nova conquista, à procura da cara-metade ideal. Vive numa rotina de ansiedade e frustração.

O segundo efeito colateral decorre do primeiro. Trata-se de acreditar que as dificuldades naturais que surgem nas relações são insuperáveis porque decorrentes de diferenças entre pessoas que não deveriam se relacionar, já que são “erradas” uma para a outra. 

Essa crença dá origem ao terceiro efeito danoso, que é empenhar-se menos em resolver as diferenças que dificultam a relação. Quando se acredita que existe a “pessoa certa”, com a qual se viverá feliz para sempre, tende-se a ver o parceiro que desafia seu modo de ser e seus hábitos como “errado” e não apenas como diferente. O resultado é que a pessoa rompe a relação antes de se permitir conviver com as diferenças de hábitos e costumes e buscar alternativas de solução para os impasses. Como o rompimento vem antes que ela conheça bem o parceiro, não tem a convicção de que ele seja mesmo a “pessoa errada”, embora, paradoxalmente, nutra a certeza de que não é a “certa”. Essa condição paradoxal impede que a pessoa mantenha o rompimento e com frequência o casal retoma a relação para algum tempo depois romper de novo, e assim sucessivamente.

O quarto efeito que desejo comentar é o sentimento de baixa autoestima decorrente da ideia de que não se é o “certo” para quem se ama. Isso é o mesmo que acreditar que há alguém mais merecedor de nosso parceiro do que nós.

O paciente citado no início deste texto entendia que as brigas com a amada eram indício de que ele deveria deixar a moça livre para que pudesse encontrar a pessoa certa e ser feliz. É um pensamento doloroso para alguém que está apaixonado, mas pior que ele era a culpa que sentia por não conseguir romper e libertar a moça.

Quando brigas são frequentes há que se analisar o modo como o casal faz concessões, como administra os limites de cada um e como resolve suas diferenças. O erro está por aí. A “pessoa certa” é aquela que se entrega e se empenha conosco em superar as dificuldades naturais da vida a dois. É aquela que se compromete conosco em fazer dar certo!

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