No Festival Internacional de Cinema, escritor lança A Bruxa Experimental , feito pelos leitores
Na capital italiana para o lançamento no Festival Internacional de Cinema de Roma do filme A Bruxa Experimental, Paulo Coelho (61) mostrou mais uma vez que é o mago do carisma. Na première de seu projeto coletivo, em que 14 cineastas ou aspirantes, atores e roteiristas produziram curtas-metragens baseados num dos 15 personagens de seu romance A Bruxa de Portobello (2007) e condensados num longa de 110 minutos, o escritor monopolizou as atenções. Sua passagem pelo tapete vermelho foi um acontecimento digno das grandes estrelas, que ele, modestamente, resume a um "agradável contato pessoal". Habituado à fama proporcionada por seus números extraordinários - 130 milhões de livros vendidos, publicados em 160 países -, Paulo Coelho decidiu dar a oportunidade a seus leitores, filtrados entre 6000 concorrentes, de também mostrarem seus talentos. A julgar pela ótima receptividade ao filme, a ideia foi bem-sucedida. Em Roma, desta vez sem a companhia da mulher, a artista plástica Christina Oiticica (57), o escritor fala sobre sua atuação no festival, cujo brilho equivale ao de estrelas como Meryl Streep (60), que, assim como o autor brasileiro, participou de encontro com seu público, ao debater Julie & Julia.
- Por que adaptar uma obra sua para o cinema a partir da colaboração de internautas?
- Como todo escritor, eu gostaria de saber como os leitores veem os personagens, e o único livro que permitia isso era A Bruxa de Portobello, já que é o mesmo personagem visto por diferentes olhos. Em segundo lugar, achei - e consegui - que a fama pode dar visibilidade a outras pessoas que têm um trabalho para mostrar, como os cineastas deste projeto.
- Transformada por meio da interferência dos internautas a obra ainda mantém a essência?
- É uma leitura completamente diferente, visual. A história mantém o seu fio condutor, mas a visão de cada um é que é importante.
- Como é ver um livro seu ser apropriado pelo leitor?
- Quando começaram a chegar os primeiros vídeos, eu fiquei interessadíssimo em ver todos. Mas, cada vez que assistia um, pensava: 'Meu Deus, investiram muito mais dinheiro do que o prêmio que podem eventualmente ganhar (3000 euros), e só 15 serão classificados.' Parei de ver, porque isso me deixava um pouco ansioso. Ao assistir ao resultado final posso afirmar que fiquei muito contente com o trabalho feito por profissionais.
- Você é um frequentador assíduo de mostras de cinema. Desta vez, você participa com um filme próprio. Como é a sensação?
- Na verdade o filme não é meu, é de meus leitores. E a sensação de vê-los no tapete vermelho, orgulhosos com o trabalho, é absolutamente gratificante.
- O que você achou do trabalho da diretora Betty Wrong?
- Betty tinha tarefa dificílima: selecionar os finalistas, com os jurados, entre 6000 inscrições, cortar o filme e manter um fio condutor com qualidade técnica. O resultado não podia ser melhor.
- De que forma vê o compartilhamento de livros pela web?
- Todos os meus livros estão disponíveis gratuitamente na Internet. Colecionei os links de 'pirataria' e coloquei no meu blog, http://paulocoelhoblog.com. O sonho de qualquer escritor é ser lido. Se tivesse que escolher entre 3 milhões de dólares e 3 leitores, ou 3 milhões de leitores e 3 dólares, com certeza escolheria a segunda opção. Nao é porque hoje ganhei dinheiro com literatura que estou dizendo isso; sempre foi meu objetivo a leitura dos livros. No começo investia muito mais do que ganhava, e estava satisfeitíssimo com isso.
- Como foi a receptividade ao filme em Roma?
- Foi ótima. Foi muitíssimo aplaudido. Mas meu objetivo não é uma distribuição normal; estou em conversa com grandes portais para colocar o filme na Internet.
- Qual a sensação de ser assediado por tantos fãs?
- Este contato pessoal traz sempre muita alegria.