Cerclagem significa sutura (costura) em forma de bolsa. Usada em outras áreas da Medicina, foi introduzida na Ginecologia e aperfeiçoado em países como França e Estados Unidos a partir de 1953. Consiste em "costurar" o colo do útero - em sua porção vaginal, que contém a entrada para a cavidade uterina - da grávida para impedir que se abra, a bolsa fetal desça, se rompa e o feto nasça prematuro, o que coloca sua vida em risco.
A gestação ideal, vale relembrar, é de 40 semanas. Bebês que nascem mais ou menos nesse período em geral já se desenvolveram bem e estão aptos a viver no mundo externo. Os riscos para a vida dos que nascem prematuros - portanto, ainda não totalmente desenvolvidos - é tanto maior quanto menor o número de semanas no útero materno.
"E quais são as grávidas às quais se vem indicando a cerclagem?", você deve estar se perguntando. O primeiro grupo constitui-se das portadoras de insuficiência istmocervical. Esse fenômeno, descrito por pesquisadores franceses em 1948 e por americanos em 1950, se caracteriza quando a grávida apresenta várias perdas de gestação na forma de abortos tardios e/ou partos prematuros iniciados por dilatação do colo do útero, sem que tenha havido contrações uterinas.
As perdas de gestação, nesse caso, devem-se ao fato de tais grávidas terem o colo do útero curto. No passado havia controvérsias no meio médico sobre o comprimento que o colo precisava ter para suportar bem o peso da bolsa fetal. Atualmente existe consenso de que deve estar com 20 milímetros entre a 22a e a 24a semanas. O segundo grupo de mulheres que têm recebido a indicação de cerclagem são as grávidas de múltiplos.
A cerclagem é realizada entre a 14a e a 16a semanas da gestação. A técnica usada hoje foi criada em 1957 pelo médico americano I. A. McDonald. Trata-se de uma cirurgia que é feita em hospital sob anestesia raquidiana. Introduz-se um espéculo na vagina da paciente, instrumento que permite abrir o conduto para visualizar o colo do útero. "Costura-se", então, o colo circularmente em dois locais com agulha e fio inabsorvível, que é retirado no momento em que a gravidez se completa e o bebê já pode nascer. Mulheres que fazem cerclagem devem ficar internadas por 24 horas em observação, pois pode causar contrações uterinas, pelo fato de se interferir na região, e até infecções no local dos pontos. Os dois fenômenos são combatidos com remédios. A retirada do fio, ao final da gravidez, é feita no próprio consultório. Em geral se conseguem bons resultados com a cerclagem, evitando a perda de muitos fetos. O objetivo, nas gestações comuns, é se aproximar o máximo possível de 37 semanas. No caso das gestações múltiplas, é difícil chegar a isso por causa do próprio peso dos bebês. Nas de trigêmeos, por exemplo, consegue-se levar até 33 ou 34 semanas; nas de quadrigêmeos, até 32 ou 33. Os melhores resultados na verdade são conseguidos com a associação de cerclagem e repouso. Há até pesquisadores que apuraram, a partir de pequenos estudos mundo afora, que o repouso puro e simples teria o mesmo efeito da cerclagem na manutenção da gravidez. Mas o assunto, como reconhecem os próprios pesquisadores, ainda carece de uma grande pesquisa, realizada ao mesmo tempo em países diversos e envolvendo um número realmente representativo de gestantes.