...No Brasil, muita gente morre vítima de balas perdidas, pois, nos confrontos, bandidos e policiais atiram a esmo, expressão que vem do latim aestimare, estimar, e significa "sem rumo".
Conspiração: do latim
conspiratione, declinação de
conspiratio (nos dois casos o "t" tem som de "s"), conspiração, originalmente designando ação de respirar em conjunto (
con mais
spirare), exalar sopro ou odor, mas em ações que envolvam várias pessoas. Músicos de um conjunto conspiravam ao soprar, juntos, instrumentos como trombetas. Nasceu daí o significado de concordar. Mais tarde a palavra mudou de sentido e passou a designar acordo secreto, conluio, trama. São situações em que grupos de pessoas descontentes fazem entendimentos entre si, mas para discordar de algo conjuntamente. A professora
Maria Tereza de Queiroz Piacentini (56), que fez a revisão da Constituição do Estado de Santa Catarina, o que lhe garantiu concisão, clareza, harmonia e originalidade no estilo, qualidades infelizmente raras em Constituições de outros Estados, ensina:
"De 'tramar, planejar ou concorrer para uma conspiração', o verbo conspirar passou a designar também 'concorrer para algum fim' ou, em outros termos, 'tender ao mesmo objetivo', enfim, 'contribuir'".
Esmo: de esmar, do latim
aestimare, estimar, calcular, avaliar, orçar. Estimar ainda mantém o sentido de orçar, ao lado do mais comum, que é querer bem, apreciar. Mas apreciar, além de ter o sentido de aprovar, também é dar preço, examinar, julgar. O verbo esmar aparece neste trecho de
À margem da História, do escritor carioca
Euclides da Cunha (1866-1909), cujos livros estão repletos de palavras que já eram de uso raro quando ele os escreveu:
"Ele vacila um momento no seu pedestal flutuante, fustigado a tiros, indeciso, como a esmar um rumo, durante alguns minutos, até se reaviar ao sentido geral da correnteza.". Já a expressão "a esmo" significa sem rumo definido, como em
Contos em Verso, do maranhense
Artur Azevedo (1855-1908):
"E eu penso em tudo e em nada/ Todas as vezes que passeio a esmo,/ Por dar alívio à mente atribulada".
Falecido: de falecer, do latim vulgar
fallescere, falecer, faltar, que consolidou o sentido de morrer. Derivou de outro verbo,
fallere, enganar, da mesma raiz de
fallacia, falácia, engano, e de
fallax, falaz, enganoso, que tem também o sentido de ilusório, como em
Contrastes e Confrontos, de Euclides da Cunha:
"Será o eterno tactear entre as miragens de um processo falaz e duvidoso". A idéia de engano está presente também em outras línguas que produziram palavras a partir da mesma raiz latina, como no inglês
fall, cachoeira, queda d'água. É como se águas fossem enganadas pelo leito do rio, que as conduz a um precipício. Também o pecado original, ao qual
Santo Agostinho (354-430) sempre se refere como "a queda", é
"the fall", em inglês. Note-se que está presente a idéia de falecer, pois, expulsos do Paraíso e caídos na Terra, Adão e Eva perderam a imortalidade:
"No dia em que comerdes do fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, neste dia morrereis". O dia dos mortos, celebrado desde o século XIII em 2 de novembro, antes não tinha um dia fixo. Como nem todos os mortos fossem conhecidos, a Igreja passou a dedicar um dia do ano a todos os mortos, a partir do século V, mas esse dia era qualquer dia, de livre escolha da comunidade. A tristeza, característica da data, no México cede lugar à alegria e a deboches da morte. Caveiras de açúcar, pãezinhos com esqueletos desenhados, além de frutas e doces, todo um conjunto de insólitas lembranças é colocado em altares dedicados aos mortos, montados nas casas. Os visitantes levam também vasilhas com água, para o morto banhar-se depois de fazer a longa viagem do reino dos mortos ao reino dos vivos.
Todos-os-dias: do plural de todo e de dia, respectivamente do latim
totu e
dia, para designar o dia-a-dia, o cotidiano. A Igreja indica um ou mais santos para cada dia do ano, mas escolhe um dia, 1º de novembro, para homenagear todos os santos. Depois das perseguições do imperador
Diocleciano (c.236-305), os mártires cristãos aumentaram tanto em número que foi necessário instituir o Dia de Todos os Santos. A celebração nasceu em Antióquia, no século IV, tendo sido regulamentada no século seguinte, pois os santos dos primeiros séculos foram elevados à honra dos altares por aclamação das comunidades cristãs. Só muito mais tarde, com a institucionalização e unificação das diversas dioceses sob o comando do papa é que os santos foram reconhecidos oficialmente como tais. Quem promete fazer alguma coisa no "dia de são Nunca", expressão luso-brasileira de forte presença católica, deve lembrar-se que, por metáfora, o dia do santo das postergações, assim como o de todos os demais, cai em 1º de novembro.