Nos casos mais graves, pancreatite pode até levar o paciente à morte

Elesiário Marques Caetano Junior Publicado em 17/08/2006, às 14h17 - Atualizado em 20/01/2013, às 21h36

Elesiário Marques Caetano Junior -
O primeiro sintoma da pancreatite aguda, inflamação do pâncreas, é uma fortíssima dor no abdome, mais especificamente em sua porção superior. A dor irradia-se para os lados e pode se estender até as costas. Às vezes, há náuseas e vômitos. A evolução da doença é imprevisível: pode tanto ser leve e limitada ao pâncreas (cerca de 80% dos pacientes), quanto grave, comprometendo outros órgãos (20%), situação em que a taxa de mortalidade atinge 5% a 10%. Na maioria dos casos, portanto, a enfermidade é controlada, como aconteceu com a apresentadora de TV Glória Maria (56). O quadro do ator Irving São Paulo (41) situava-se entre os mais graves. O pâncreas é uma glândula (órgão que produz substâncias) longa, com 12 a 20 centímetros de comprimento, localizada atrás do estômago. Diz-se que é uma glândula mista, porque produz tanto substâncias que vão para o sangue (como a insulina, que controla o nível de açúcar no organismo e o mantém livre do diabetes) como substâncias que seguem para o intestino (como as enzimas amilase e lipase, que atuam no processo digestivo). A sua inflamação aguda pode ter várias causas: doenças genéticas, uso de determinados medicamentos, entre eles diuréticos e antiinflamatórios, picada de escorpião e outras. As mais comuns, porém, são a ingestão freqüente e excessiva de bebidas alcoólicas, que lesa diretamente as células do pâncreas, ou a presença de cálculos biliares, as populares pedras da vesícula - como as mulheres são mais suscetíveis a ter cálculos, elas também estão mais sujeitas à pancreatite. O cálculos tornam-se perigososquando se deslocam e obstruem o canal que liga o pâncreas ao intestino, deixando represadas as enzimas produzidas pela glândula. Elas passam então a corroer o próprio pâncreas. O processo é extremamente rápido e exige atenção imediata. Como a dor é forte, em geral os pacientes chegam logo ao hospital. Uma vez diagnosticada a doença - por meio de exame de sangue e de ultra-som -, a primeira providência é interromper a alimentação. Assim, deixa-se o órgão em repouso, inativo. Ele pára de produzir as enzimas. O exame endoscópico - introdução por via oral de um tubo que ilumina, filma e manipula as cavidades do organismo - pode não só detectar a presença dos cálculos como retirar aqueles que causam a obstrução, se ainda estiverem por lá, pois às vezes eles escapam sozinhos. Feito isso, o paciente recebeantiinflamatórios, antibióticos e analgésicos, além de hidratação endovenosa, até que a crise seja controlada, o que em geral ocorre em dois a quatro dias. Após a recuperação, o paciente é submetido a uma cirurgia para a retirada da vesícula - pela técnica tradicional, com corte no abdome, ou por laparoscopia, que exige apenas três ou quatro pequenas incisões. Assim, evitam-se novas crises. Quando os exames iniciais não detectam cálculos biliares, o procedimento é o mesmo, apenas não se faz a cirurgia. Após o controle da crise, investigam-se as causas para, se possível, eliminálas, seja por mudança de hábitos, como no caso das bebidas alcoólicas, seja pela troca de remédios, se são eles que provocam o problema, por exemplo. Muito mais grave é a situação dos cerca de 20% dos pacientes que apresentam necrose (morte) de células do pâncreas e grande liberação das enzimas - que são tóxicas - para o organismo, comprometendo a função renal, a respiratória e a cardíaca, o que pode levar à falência dos órgãos e à morte. Esses casos pedem internação em terapia intensiva e equipe mutidisciplinar, para controlar cada problema na tentativa de salvar o paciente. A metade não sobrevive. Por todos os riscos apresentados, não resta dúvida de que o melhor é prevenir a doença. Exames de ultra-som periódicos são indicados para todos os adultos, especialmente as mulheres. Se houver cálculos, eles devem ser retirados. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, claro, também precisa ser evitado.
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