...de nobre, do latim nobilis, radicado no verbo noscere, que significa conhecer. Durante muito tempo os nobres se disseram possuidores de sangue azul, cuja origem possivelmente seja o árabe lazurd.
Azul: de origem controversa, talvez de
lazurd, palavra do árabe vulgar para designar esta cor, que no árabe culto é
lazaward. Variantes dessa língua foram faladas na Península Ibérica durante os sete séculos em que os mouros permaneceram na Espanha e em Portugal, entre os séculos VIII e XV. O provençal azur, o francês azur, o espanhol azul e o italiano
azzurro apresentam as mesmas semelhanças, mas pode ter havido influência do latim medieval
azurium. No latim, a referência da cor é o céu, caelum, e, como toda cor, presta-se a vários simbolismos. No inglês,
blue (azul) indica melancolia, como atestam os
blues musicais, nesse caso talvez radicados na expressão
blue devils (demônios azuis), já que a cor designa tanto o céu, no alto, quanto o mar, nas profundezas, onde vivem os monstros, associados à depressão.
Brecha: do antigo alto-alemão brecha, fratura, do verbo
brechen, quebrar, romper e vomitar, pelo francês
breche, fenda. Passou a designar rachadura, não apenas no sentido denotativo, de que é exemplo a greta numa rocha, mas também a lacuna num texto legal, ensejando interpretação diversa da que quis o legislador. A origem remota é a raiz indoeuropéia
bhreg, base de
brake, na língua germânica dos francos, alterada para
breke, no holandês medieval, com o mesmo significado. Manteve-se no inglês
break, quebrar, do qual se originaram também
breakfast, primeira refeição do dia, e
broken, quebrado, no sentido de falido, insolvente. No português e no espanhol os primeiros registros de brecha designam pequena abertura nas muralhas, equivalente ao postigo das casas, do latim
posticum, formado a partir de post, depois, na parte posterior, e
ostium, porta. Brecha aparece em sentido metafórico no livro A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, do teórico alemão
Friedrich Engels (1820-1895):
"Outro fator que exerceu importante influência sobre o caráter dos trabalhadores ingleses foi a imigração irlandesa. É certo que ela degradou os trabalhadores ingleses, privando-os dos benefícios da civilização e agravando sua situação, mas por outra parte contribuiu para abrir uma brecha entre os trabalhadores e a burguesia, acelerando a aproximação da crise."
Cerúleo: do latim
caeruleum, da cor do céu. Os poetas preferiam a forma caeruleus, variante de caelestis.
Caelum é céu em latim, sendo aceitas também as formas
caelus e
coelum.
Virgílio (70-19 a.C.), na Eneida, diz que o herói Enéias pede aos deuses que o sangue derramado nos ferimentos da guerra seja azul para que ele não seja devorado pelos leões. Os faraós já diziam ter sangueazul como as águas do Rio Nilo, contrapondo-o ao vermelho do sangue dos súditos. Quando os navegadores europeus chegaramà China, depararam-se com a expressão
"o sangue azul da espiritualidade", surgida no contexto da alquimia chinesa e mesclada a um termo taoísta. Assim como a pureza seria obtida num componente azul de processos químicos, também a alma se purificaria para alcançar o azul do céu. E eles a adaptaram às crenças cristãs. O russo tem a expressão
golubaia krov (sangue azul).
Marasmo: do grego
marasmos, fraqueza extrema, melancolia, cansaço, inatividade, paralisação, pelo francês
marasme, apatia. Na Medicina, designa atrofia progressiva dos órgãos e magreza excessiva, decorrentes de longa enfermidade, associadas a estado de apatia, abatimento moral, falta de coragem e prostração. Marasmo designa também período de inatividade, ausência de realizações ou de acontecimentos dignos de nota, estagnação, paralisação.
Nobreza: de nobre, do latim
nobilis, nobre, conhecido, radicado no verbo noscere, conhecer, do qual veio o antônimo
ignobilis, desconhecido, ignóbil. Nem sempre a palavra teve o sentido positivo com que se consagrou (o conjunto de famílias possuidoras de títulos nobiliárquicos ou grandeza de caráter). No latim designava apenas alguém ou algo muito conhecido, existindo a expressão
nobilissima inimicitia, inimizade muito conhecida. A expressão sangue azul para designar a nobreza surgiu no reino de Castela, na Espanha, num contexto de preconceito étnico, religioso, cultural. Os nobres invocavam a cor clara da pele sob a qual se destacavam veias azuis, quase invisíveis na pele de mouros e judeus, mais expostos ao sol por muito trabalharem, enquanto os nobres ficavam na sombra dos palácios. Da Espanha, por força da aliança dos reis católicos com o Vaticano, a expressão ganhou o mundo. Entretanto, outras línguas têm registrado a expressão sangue azul e alguns dicionários, como o prestigioso
The Oxford Dictionary of Etymology, assim explicam a expressão blue blood (sangue azul):
"Tradução do espanhol sangre azul, sangue, blood, mais azul, blue, provavelmente das veias visíveis na compleição dos aristocratas."