Márcia Cabrita: 'Tive medo, mas encarei'

Retornando aos palcos, Márcia Cabrita fala ao Portal CARAS da satisfação que é voltar ao trabalho no teatro – paixão da qual teve que se afastar após descoberta de um câncer no ovário. Agora, os momentos de dor e sofrimento são apenas lembranças

<i>por Karen Lemos</i><br><br> Publicado em 20/01/2011, às 19h37 - Atualizado em 15/02/2011, às 16h44

Márcia Cabrita e Rosamaria Murtinho - Alex Palarea / AgNews
Um susto quase interrompeu a trajetória brilhante de Márcia Cabrita, que trilhava seu caminho no palco dos teatros brasileiros. Teve que se afastar da peça Tango, Bolero e Cha Cha Cha quando começou a sentir fortes dores abdominais. Diagnosticada com câncer no ovário, a atriz provou - principalmente a si mesma - que era capaz de superar a dor e o sofrimento de uma grave doença, e ainda dar a volta por cima e reestrear no teatro em grande estilo. Oito meses de quimioterapia dolorida, queda de cabelo e uma cirurgia para retirada de ovários e útero enfraqueceu Márcia, mas não tirou dela a vontade de viver e brilhar novamente no teatro. Após vencer a batalha contra o câncer, a atriz sobe novamente ao palco com a peça que deixou no caminho e uma nova versão de um grande sucesso de sua carreira: o cultuado Subversões, em sua quinta edição. Em conversa ao Portal CARAS, Cabrita contou detalhes da superação da doença, da felicidade em retornar ao trabalho, dos momentos delicados ao lado da filha, Manuela, e de como dividir suas dores com o público a fez crescer e encarar o câncer de frente. - Está feliz com o retorno ao trabalho? - Sempre, muito feliz! Tenho muito trabalho, ainda bem. Estou na peça Subversões 21, que está completando 21 anos de sucesso e pelo qual tenho um carinho muito especial e também em Tango, Bolero e Chá Chá Chá que eu estava ensaiando na época em que fiquei doente e agora retomei. - Como você está? - Estou ótima, um pouco anêmica ainda, mas super feliz, principalmente porque estou trabalhando muito. - Que Márcia o público pode esperar no retorno à peça? - A mesma Márcia. Não acho que mudou nada. As pessoas ficam um pouco comovidas ao me verem, porque passei por uma doença muito grave, mas há muito carinho do público ainda e meu trabalho é o mesmo. - E volta à TV? Não sente falta? - Sinto muita falta, claro! Às vezes acho que vou ser chamada para alguma produção, mas até agora ninguém me ligou. O último trabalho que fiz foi na última temporada de Aline, estava iniciando meu tratamento de quimioterapia na época. - No que você se apoiou? - Na família, amigos e meus médicos. Me ajudou muito também eu ter um blog e poder compartilhar o que estava sentindo nele. Fiquei impressionada que o blog teve mais de 70 mil acessos e muitas pessoas me agradecendo. Jamais poderia imaginar que isso fosse acontecer. Ajudei muitas pessoas com isso, foi maravilhoso. - Você se considera um exemplo? - Não me considero exemplo de nada. O que fiz foi contar minha experiência na internet. Falei na maior sinceridade, fui muito honesta e é por isso que cativei as pessoas. Admiti meus sofrimentos, minhas tristezas e acho que o público se identificou com os conselhos que eu dei se nem ao menos alguém pedir (risos). - O que tirou de lição de tudo isso? - É difícil responder essa pergunta. Acho que descobri que sou capaz de suportar coisas que não achava que pudesse enfrentar. Eu fui - apesar das dificuldades do tratamento, que é muito difícil, sofrido, doloroso. Sem contar que meu tratamento foi longo, foram oito meses de quimioterapia. - A cirurgia foi muito difícil também? - Tudo foi uma dificuldade, a cirurgia também. Foi uma cirurgia de grande porte, pirei quando eu soube disso, fiquei com medo. - E como foi superar esse medo? - Não sou daquelas pessoas que dizem 'encarei, fui à luta', não! Eu encarei da forma que pude encarar, fui porque tinha que ir. Ia sem coragem, mas ia porque era assim que deveria ser. Tinha medo, mas tinha que ser feito. Me entreguei à medicina. - O fato de usar peruca durante o período de quimioterapia te incomodou muito? - Peruca esquenta a cabeça demais. Estou acostumada a usar peruca no teatro [na peça Subversões 21 Márcia veste várias perucas em cena], mas nunca tive que usar na vida real, né. Agora já faz um bom tempo que não uso peruca, desde dezembro, porque já estou com cabelinho. Isso me incomodou muito no começo porque eu estava horrível, careca é horrível! Agora minha sobrancelha cresceu, meus cílios cresceram e o cabelo aos poucos cresce. Não me incomoda mais. - Como a Manuela [filha de Márcia com o psicanalista Ricardo Parente] lidou com essa situação? - Da forma que uma criança lidaria. Eu sempre falei a verdade para ela e ela acompanhou isso como uma menina de 10 anos. Foi muito solidária, mas da maneira dela. Sempre me perguntava quando todo aquele sofrimento iria acabar, quando o cabelo ia crescer, tadinha! Muitas vezes ela queria que eu levantasse da cama para brincar, mas eu não tinha forças (risos). - E quais são os planos agora? - Vou para Disney no carnaval com a Manuela. Ela, que nunca foi para lá, está super contente e ansiosa. Depois devo continuar com Subversões, mas ainda estamos fechando isso. Já Tango vou parar assim que a peça for para São Paulo. Não suporto mais tem que ficar pegando avião para viajar.
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