Lília Cabral, intensa e inteira para Tereza

Até fazer parte do elenco da novela Páginas da Vida, Lília Cabral era mais conhecida por seus personagens no teatro do que na TV. Nas novelas, a atriz paulistana de 52 anos, que começou a carreira no final da década de 1970, quase sempre era designada a papéis de pouca relevância. Porém, depois do ano de 2006, quando Manoel Carlos lhe deu a missão de viver Marta, a relação de Lília com a telinha mudou. Tanto que a personagem, uma mulher amargurada, com muitas ambições de ascensão social e que enxergava como sinal de fracasso até o fato de ter uma neta com síndrome de Down, lhe rendeu a indicação ao Emmy 2007. "Marta foi um personagem rico, que existia não somente para fazer a vilania, mas para questionar os valores da sociedade. Eu me sentia muito confortável porque era um personagem muito bem escrito, muito bem delineado, não tinha truque, era verdadeiro", disse ao Portal CARAS, no final de 2007, quando recebeu a notícia de que estava entre as cinco indicadas a Melhor Atriz no Emmy Internacional, o Oscar da TV mundial. Em 2008, Lília Cabral recebeu, do autor da novela A Favorita, João Emanuel Carneiro, Catarina, uma dona de casa com autoestima baixa e com a vida anulada por um marido castrador e violento. E mais uma vez mostrou, da forma mais verdadeira possível, a infelicidade feminina, que tem se tornado sua marca a cada novo trabalho na televisão. De volta ao horário nobre da TV Globo em Viver a Vida, provando que a parceria com Maneco deu mais do que certo, Lília tem tudo para roubar a cena com Tereza, uma ex-modelo elegante e mãe exemplar. "Acho que os outros personagens que fiz até então são muito tristes. Não que a Tereza não vá sofrer, mas acredito que existe um comportamento diferente, um comportamento de uma mulher que vive uma vida com regalias e aí olha para mundo de maneira diferente", disse Lília ao Portal CARAS. Recém-separada de Marcos, personagem de José Mayer, Tereza ainda não se acostumou com a ideia de ser divorciada. Apesar da corajosa decisão de colocar um ponto final no casamento, carrega uma certa amargura por ter abandonado a vida de modelo e as passarelas no auge de sua carreira para se dedicar ao marido. A sua infelicidade de vem à tona quando o ex-marido se envolve e casa com Helena (Taís Araújo), uma mulher 20 anos mais nova que ele e modelo bem-sucedida. Mas, apesar de tudo, ela tenta levar a vida com bom humor e otimismo ao lado das três filhas, Luciana, Isabel e Mia, personagens de Alinne Moraes, Adriana Birolli e Paloma Bernardi, respectivamente. Confira abaixo a conversa de Lília Cabral com o Portal CARAS: - Em Viver a Vida, você vive a Tereza, uma ex-modelo elegante e mãe exemplar, que abandonou a vida de modelo e as passarelas no auge de sua carreira para se dedicar ao marido, e que divorciada, não consegue conviver com o novo casamento do ex-marido com uma mulher mais jovem e bem-sucedida na carreira de modelo. O que essa personagem tem de diferente de Marta, de Páginas da Vida, e da Catarina, de A Favorita? - Acho que os outros personagens que fiz até então são muito tristes. Não que a Tereza não vá sofrer, mas acredito que existe um comportamento diferente, um comportamento de uma mulher que vive uma vida com regalias e aí o olhar dela para mundo é diferente. Isso não significa que eu mudei o meu jeito de me preparar para a personagem. - Então a maneira como você incorpora o papel é a mesma que usou para as outras personagens que já fez? - Como a Tereza é uma mulher elegante, acabo me preocupando mais. Fiz dieta, fechei a boca, fiquei sem comer, e acabei perdendo 5 quilos. Não malho, não dá tempo, só ando. Quando você faz um personagem meio desleixado, sem vaidade, abusa e acaba engordando. Como agora ela é chique, uma mulher que já foi modelo, então eu tenho que ficar seca, né? - Desde que a novela estreou, no dia 14 de setembro, a Tereza já conquistou os telespectadores. Qual é a sua expectativa? - A expectativa é sempre a melhor porque a gente quer acertar, a gente quer que o público goste. É sempre bom sentir esse movimento de estreia porque quando nós, atores, acertamos é muito gostoso e prazeroso. - Você sempre se mostra muito dedicada ao trabalho. O estresse é inevitável? O que você faz para evitá-lo? - Não adianta, a gente se estressa. Mas eu gosto tanto do que faço que paro para pensar: 'quando vou estar novamente passando por esses momentos que passo e que são tão significativos na minha vida?'. É isso que me desestressa. O fato de olhar e ver que faço o que eu gosto e que, junto de mim, tenho muitos companheiros bacanas, muitos amigos, pessoas importantes e a minha família é fundamental para eu fuja do estresse. Aliás, minha família também me desestressa. - Você fez A Favorita em 2008 e, no início do ano, começou o lançamento do filme Divã. Antes de começar a se preparar para Viver a Vida, conseguiu tirar férias? - Assim que A Favorita acabou, fui para Nova York, mas só. Voltei para o Brasil, lancei o filme e comecei a trabalhar. Não tive férias. - Maneco trabalha com a superação humana. Você já passou por algum momento de superação? - A gente se supera todos os dias, as frustrações profissionais, as perdas de gente querida. Vivemos essas situações todos os dias. - O que é viver a vida para você? - O que eu faço para viver a vida? Eu vivo a vida todos os segundos que posso. A cada dia que passa, dou mais valor às coisas que conquistei e a tudo que ainda quero conquistar. Acredito que é dessa forma que conseguirmos olhar para nós mesmos, para os outros e para o mundo sem ter um lado egoísta. Quanto mais generoso a gente é com a gente e com a vida, mais a vida nos proporciona. Quanto mais a gente vive intensamente, melhor.