por Daniela Cardarello
Carla Camurati (45) sempre consegue surpreender com a energia e o entusiasmo que coloca em cada projeto de sua vida. O reflexo disso pode ser visto nos seus trabalhos, seja atuando, produzindo, escrevendo ou dirigindo; como também em situações pessoais: na criação de
Antônio (3), fruto do seu casamento com o diretor
João Jardim (41), com quem está há pouco mais de cinco anos.
"Meu filho foi muito desejado. Ele é uma delícia", derrete-se Carla, saudosa do menino, em viagem de trabalho aos Estados Unidos.
A breve separação, no entanto, foi provocada por uma nobre causa. Carla - que criou a produtora Copacabana Filmes - vem conquistando um público além das fronteiras brasileiras com sua arte. Diretora do filme
Irma Vap:
O Retorno, ela se emocionou com o reconhecimento que obteve na décima edição do Festival de Cinema Brasileiro em Miami, onde recebeu o prêmio de Melhor Filme pelo Voto Popular, além do de Melhor Direção de Arte, para
Marcos Flaksman (62), este selecionado pelo júri oficial. No Brasil, o longa já alcançou mais de 250 000 espectadores nas primeiras seis semanas de exibição.
- Como você consegue equilibrar a vida profissional com a maternidade do Antônio?
- Difícil é não perder seu desejo, "O que você quer fazer? Eu quero fazer tal coisa..." Isso faz com que não perca o seu caminho. E nós todos somos levados pelo caminho. O Antônio é muito importante para mim. Ele foi muito desejado.
- A gravidez foi planejada?
- É engraçado, quando fiquei grávida, já tinha feito quatro tentativas de inseminação e nenhuma delas havia funcionado. E o Antônio não é o resultado destas tentativas. Aconteceu. Por acaso mudei de médico, ele resolveu fazer uma operação e descobriu que eu tinha um pequeno quisto no endométrio. Tirei o quisto e o médico me disse ainda no hospital: "Olha, conto três meses para você ficar grávida". Dez dias depois, vamos lá (risos). Quatro meses depois, estava grávida.
- E como é a relação entre um casal de diretores?
- Fiz a distribuição do filme dele,
Janela da Alma. Claro que brigar faz parte de qualquer relacionamento, mas nos damos muito bem. João é meu companheiro e eu acho que eu sou a dele também. Nossa relação é muito legal porque ambos trabalhamos na mesma área, trocamos muitas idéias.
- E qual dos seus projetos te dá mais satisfação?
- Todos, sou muito mãezona dos meus filmes. Também me faz muito feliz o Festival Internacional de Cinema Infantil, que estamos realizando pelo quarto ano em todo o Brasil. Um dos meus próximos projetos é a produção do longa de animação
A Bruxinha Que Era Boa. Vamos trabalhar com um laboratório de desenho que ganhou o prêmio de melhor animação no Festival de Chicago do ano passado.
- E fora do trabalho, o que você gosta de fazer?
- Minha maior diversão é brincar com Antônio, que é muito engraçado. E ele tem a direção no DNA, já dirige a brincadeira. Ele diz o que quer que você faça:
"Mamãe, vou vir com o helicóptero, aí você pega o elefante e quando o helicóptero estiver chegando perto, o elefante vai fazer (Carla faz a onomatopéia de um elefante, sempre imitando o filho), aí o helicóptero vai voltar..." E ai de você se tentar inverter a brincadeira. Outro dia a minha irmã estava com ele e o cachorro. Ele falava:
"Taina, o cachorro vem e faz au au au." E minha irmã começou a fazer "Grrrr" e o Antônio disse:
"Não é assim" (risos). É o jeito dele. Não adianta rosnar se ele quiser que você lata.
- Qual é a melhor parte de trabalhar com cinema?
- Gosto muito de filmar, então me divirto em todos os momentos. É muito saboroso. Você desejou fazer aquilo e naquele momento você está ali para fazê-lo. Talvez a parte de fazer a organização financeira seja a mais dura. Mas também não posso dizer que não gosto.
- Você prefere trabalhar com o gênero comédia?
- Gosto sempre da comédia. A gente já vê muita coisa ruim, muita violência. A TV, que era uma forma de entretenimento, é obrigada a ser conectada com a realidade, então ela te joga um monte de tapas na cara. Eu às vezes estou assistindo a algo e sinto um murro. Temos que rir um pouco porque precisamos desligar a relação de tensão com as coisas e relaxar. Do mesmo jeito que a comunicação faz com que o mundo ande rápido, ela também atravessa tudo nessa rapidez. Nas coisas boas, ruins, péssimas. Nas coisas que você não precisava saber nunca.
- Você pensa em voltar à TV?
- Eu faria, gosto muito. Acontece que, para fazer, precisaria ser uma participação especial, não posso fazer a trama inteira. Isso, já fiz. No meu currículo há muitas novelas. A televisão absorve muito.
FOTOS: LUCIANA PREZIA