por Ana Ligia Sampaio
Arriscar, pra quê? Parece que as estrelas do
rock,
rap,
pop e
country se fizeram a mesma pergunta na hora de escolher seus
looks para a festa de entrega do Grammy, realizada no domingo, 11, em Los Angeles, Estados Unidos. Tida como premiação cujo tapete vermelho é sempre mais aberto a ousadias e irreverências - leia-se também deslizes -, a 49ª edição do mais importante prêmio da indústria fonográfica, o "Oscar" da música, contou com mais surpresas no palco do Wilshire Ebell Theater do que nos figurinos das celebridades.
Entre as beldades, longos de cores vibrantes e vestidinhos metalizados na altura dos joelhos foram maioria. Para eles, peças oversize e acessórios exagerados deram lugar a clássicos ternos. Neste ano, o mundo da música repetiu em afinado coro "menos é mais".
Conduzida pela primeira vez pelo cantor
Justin Timberlake (26) - que circulou sozinho, apesar da presença da atriz
Scarlett Johansson (22), tida como seu novo
affaire - a cerimônia foi aberta com show especialíssimo.
"Senhoras e senhores, nós somos o Police e estamos de volta", anunciou
Sting (55), em boa forma. Ele, o baterista
Stewart Copeland (55) e o guitarrista
Andy Summers (64) executaram
Roxanne,
hit de 1978, e confirmaram para 2007 a primeira turnê internacional juntos depois de 20 anos.
Sentados nas primeiras filas, famosos tiveram seu momento de tietagem explícita, aplaudindo entusiasmados o grupo britânico. A fila do gargarejo, aliás, era ocupada por alguns dos artistas que seriam os grandes laureados da noite, como
Mary J. Blige (36) - indicada para oito categorias e vencedora em três - e as meninas do The Dixie Chicks,
Emily Robison (34),
Natalie Maines (32) e
Martie Maguire (37), que levaram para casa cinco gramofones dourados.
Dourado também era o
corselet usado por
Shakira (30), que cantou seu
Hips don't Lie acompanhada por bailarinos. Sempre carismática e sensual, a colombiana encantou a audiência, mas não os fashionistas, que a apelidaram na noite de "Shock Ira", por conta da cabeleira um tanto selvagem demais para o clássico longo Carolina Herrera que ela usava.
"Sinto que tenho muitas coisas para compartilhar com este país. De alguma forma, vivo o meu próprio sonho americano", disse a colombiana, alheia às críticas.
Veteranas de Grammy,
Fergie (32), do The Black Eyed Peas,
Beyoncé Knowles (25) e
Christina Aguilera (26) apostaram em vestidos curtos com bordados ou em tecidos metalizados para subir ao palco e receberam aplausos extras. Coube a Christina fazer uma das homenagens da noite ao pai do
soul,
James Brown, morto aos 73 anos, em dezembro, em razão de pneumonia.
"Confesso que estava emocionada e nervosa. Brown foi um dos cantores que sempre me inspirou, por isso, fiz questão de rever seus DVDs e ouvir os CDs antes desta apresentação. Foi incrível", confessou Christina. A loira, bronzeadíssima, circulou no
red carpet com longo claro que marcava a silhueta e levou para casa também o prêmio de Melhor Performance Pop Feminina com
Ain't No Other Man.
Vestidos longos também foram eleitos pela atriz
Christina Ricci (27), que apresentou um dos prêmios ao lado de
Samuel L. Jackson (58), e pelas cantoras
Natalie Cole (57) e
LeAnn Rimes (24).
"Natalie é uma verdadeira força da natureza! Uma mulher na casa dos 50, mas que não deixa nada a dever a meninas de 20. Esse vestido Zac Posen ficou perfeito nela", afirmou
Mary Alice Stephenson, editora da revista
Harper's Bazaar, uma das bíblias da moda.
"Adoro a cor turquesa. Escolhi este modelo porque achei sexy e confortável, aliás, fator mais importante para mim. Me sinto realmente linda com ele", confessou LeAnn sobre seu
look by Monique Lhuillier, com detalhes de pedraria turquesa logo abaixo do busto.
Toda prosa com seu figurino - outro longo com decote em V profundo -,
Mary J. Blige (37) contou como o escolheu ao lado do marido,
Kendu Isaacs.
"Há cerca de três meses, fui a loja de Michael Kors, justo em um dia que a mãe dele, Joan Kors, promovia um trunk
show. Vi o vestido e logo pedi para que uma das modelos, que tinha a mesma estrutura física que eu, experimentasse. Na hora, falei: 'esse vai ser o meu vestido para o Grammy!'", disse a rapper, que, ao receber um de seus prêmios, citou mais de 50 nomes em agradecimento.
Conhecida pelas tatuagens,
piercings e cabelo sempre inusitado - ela já tingiu as madeixas de preto, azul e rosa - a cantora
Pink (27) causou
frisson com um pretinho feminino e ousado.
"Adoro moda, gosto de acompanhar tendências e saber sobre novos estilistas. Uso de tudo, menos pele", afirmou a roqueira, que contou ainda ter planos para visitar o Brasil em breve.
"Um dos meus guitarristas é brasileiro, o cara é muito bom! Definitivamente é um dos destinos que quero conhecer, para fazer shows ou descansar", emendou Pink que nos intervalos da premiação engatou animado bate-papo com
Portia De Rossi (34) e
Ellen DeGeneres (49), escalada para apresentar o Oscar, e
Lisa Marie Presley (39).
Já a canadense
Nelly Furtado (28), que voltou às paradas com
hits dançantes e visual
sexy, deixou a desejar com vestinho de gosto duvidoso. Com modelitos também acima dos joelhos, porém sem exageros, a cantora
Corinne Bailey Rae (28) e a atriz
Alyson Hannigan (32) se deram melhor. Também na turma das novatas que preferiram não arriscar no visual, a cantora
Carrie Underwood (23), revelada no programa
American Idol, usou dois vestidos da grife Badgley Mischka - prateado para o tapete vermelho e preto para sua apresentação no palco - e poderosas jóias Johnathon Arndt, que incluíam um anel estimado em 2,8 milhões de dólares na mão direita.
"Tudo é incrível; me sinto uma verdadeira princesa. Várias pessoas trabalham para deixar você pronta e linda", contou ela, entusiasmada.
"É tudo maluco, todos em Los Angeles estão gritando! Só em uma premiação como o Grammy é possível ver os caras do Red Hot espirrando espuma por todos os lados", emendou ela, que acompanhou a folia dos roqueiros ainda na chegada ao Wilshire Ebell Theater.
Os californianos
John Frusciante (36),
Flea (44),
Anthony Kiedis (44) e
Chad Smith (45), do Red Hot Chili Peppers, tinham mesmo muito a comemorar: terminaram a noite com quatro prêmios com o disco duplo
Stadium Arcadium, dentre eles, Melhor Canção de Rock por Dani California.
O 49º Grammy ainda contou com uma série de homenagens a
Maria Callas (1923-1977), The Doors, The Grateful Dead e a cantora
Joan Baez (65) pelo conjunto da obra. Símbolo do movimento antiguerra dos anos 1960, Joan Baez afirmou que sua volta aos palcos é por causa do presidente americano
George W. Bush (60).
"Ele é o melhor agente de publicidade que eu poderia ter. As pessoas me pedem para comparar os anos passados com os dias de hoje. É praticamente uma reprise", ironizou ela.
A política também influenciou na grande revanche da noite: a premiação do grupo
country Dixie Chicks, laureado com cinco estatuetas.
"Acho que hoje o povo usou sua liberdade de expressão", disse, emocionada, a vocalista
Natalie Maines (34). A cantora foi centro da controvérsia que envolveu o presidente americano em 2003 quando, em um show em Londres, ela disse à platéia que o grupo se sentia envergonhado pelo fato de Bush também ser texano. Na época, o comentário ofendeu fãs do
country, que boicotaram o trio em shows e nas emissoras de rádio. Curiosamente, a ressurreição do grupo coincide com o pior momento político do presidente.
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