...de línguas africanas chamado banto, é especulação, dito maldoso. Fofoca comum consiste em tachar pessoas expansivas de dissolutas, do latim dissolutus, dissolvido, decomposto no que diz respeito aos cost
Bolha: do latim
bulla, bolha, palavra ligada ao verbo
bullire, ferver, que também tem o significado de bulir, mexer com os outros, agitando-os com palavras e gestos. No sentido mais corriqueiro, bolha é um globo cheio de vapor ou outra substância. Mas sapatos apertados também nos fazem bolhas nos pés, e os economistas usam ainda a palavra para denominar um crescimento sem fundamentos confiáveis, como ocorreu recentemente com os financiamentos imobiliários nos Estados Unidos. A bolha desses negócios ameaça explodir a qualquer momento, tendo levado os bancos centrais de vários países a tomar providências aguardando o pior.
Dissoluto: do latim
dissolutus, dissoluto, dissolvido, particípio do verbo
dissolvere, dissolver, soltar, desfazer. O conceito de que a vida em sociedade requer a observância de normas rígidas, inclusive do ponto de vista sexual, levou à metáfora de que as pessoas libertinas viviam como que soltas, dissolvidas as normas, desfeitos os contratos sociais como o casamento. Eram, portanto, dissolutas. O adjetivo aparece em
A Dama da Solidão (Companhia das Letras), livro de estréia de
Paula Parisot (26), revelação literária das mais promissoras:
"Eu era feliz, como eram felizes as cortesãs na antiguidade, mulheres belas, autônomas, muitas vezes influentes, que se vestiam com elegância, eram dignas e pagavam seus impostos. Quando nos chamam de dissolutas, cometem uma grande injúria. O dissoluto é um depravado, um desregrado. A nossa profissão exige disciplina e dedicação, é uma arte. Somos artistas do prazer e do entretenimento".
Fofoca: de provável origem banta, radicado no quimbundo
fuka, revolver, remexer. A origem banta é afirmada em estudo publicado pela Faculdade de Letras de Lubumbashi, no Zaire, de autoria da professora baiana
Yeda A. Pessoa de Castro (70), doutora em Etnolingüística e uma das fundadoras da Universidade de Ifé, na Nigéria, com décadas de pesquisa sobre a influência de línguas africanas no português do Brasil. A fofoca é quase sempre um dito maldoso, divulgação de detalhe da vida alheia que o outro gostaria que fosse ignorado. O inglês tem com significado semelhante a palavra gossip, neologismo que, segundo o
Aurélio, é "informação de caráter pessoal e privado sobre nomes conhecidos do público, veiculada, principalmente, em colunas sociais".
Gossip veio de
God-sib, confiado a Deus, originalmente o padrinho da criança no batismo. Conversas havidas em cerimônias cristãs, como batismos, casamentos e funerais, transformaram
gossip em fofoca, mexerico, boato.
William Shakespeare (1564-1616) já registrara
gossip em
Dois Cavaleiros de Verona, sobre dois homens daquela cidade italiana que vão para a corte do duque de Milão e lá se apaixonam pela bela Sílvia, filha do duque. Como apenas Valentino é correspondido, Proteu arma uma intriga para vê-lo expulso da corte. Mas Júlia, que tinha compromisso anterior com Proteu, se veste de homem e descobre a falta de caráter dele. Depois, ajuda Sílvia a reencontrar Valentino. Mexerico (que traz a idéia de remexer), fuxico e futrica são sinônimos de fofoca. No francês, há
foutre, bandalho, e
foutriquet, futriqueiro, homenzinho insignificante, de quem não se faz caso. Foutre, além de ser palavra ligada à fofoca, tem significado chulo, radicado no latim clássico
futuere (
futere, no latim vulgar), que significa ter relações sexuais.
Rum: do inglês
rum, aguardente obtida por fermentação alcoólica e destilação do caldo ou melaço da cana-de-açúcar, provavelmente redução de
rumbullion, palavra de origem desconhecida. Com grafia idêntica à inglesa (a bebida é típica do Caribe), foi parar no português, no holandês, no dinarmarquês, no italiano e no alemão, neste último sempre com a inicial maiúscula por se tratar de substantivo. Há vários drinques com rum, sendo um dos mais famosos o mojito, que o escritor norte-americano
Ernest Hemingway (1899-1961) costumava beber na Bodeguita del Medio, em Havana, durante os anos em que viveu em Cuba. No passado, o rum creosotado (com creosoto, óleo obtido da destilação do alcatrão) foi um expectorante famoso. Conhecidos versos de um anúncio do remédio, provavelmente de autoria do humorista pernambucano
Bastos Tigre (1882-1957), aparecem no livro
Casa 12, de
Leticia Constant:
"No bonde já andou alguém que gosta de fazer poesia como eu. Deve ter uma farmácia, porque escreveu verso bonito pra um remédio: veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado! E, no entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-o rhum creosotado". Naquele tempo, rum era escrito com h.