Ficam juntos casais que aprendem a unir intimidade e individualidade

Redação Publicado em 24/04/2012, às 11h02 - Atualizado em 16/05/2012, às 14h48

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Em seu poema Amar, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pergunta: “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?/ amar e esquecer,/ amar e malamar,/ amar, desamar, Amar?/ sempre, e até de olhos vidrados, amar?”. Amar é o que buscamos a cada encontro ou relação. E, quando encontramos o amor, uma mistura de leveza e encantamento nos invade. Mas, como ocorre em outros setores de nossa vida, o amor passa por fases e a vivência em cada uma delas é que vai fortalecê-lo ou matá-lo.

Se achamos que o amor é cego, logo na primeira fase, a do enamoramento, isso se confirma. É o período das fantasias, de certezas que nem sempre correspondem à realidade, do amor perfeito que não quer se desgrudar da outra pessoa, que não enxerga nada do que possa estragar a experiência. Como diz o dito popular “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. O amante não ama seu amado porque tem um corpo lindo ou porque tem o bom gosto de ouvir Jane Duboc (61). Nem por ser muito “educadinho”. Se fosse assim, os cafajestes seriam eternos solitários — o que está longe de ser verdade!

Pode-se amar por essas coisas, sim, mas também pelo cheiro e pela química da pele, pela voz que quando se ouve faz o coração estremecer. Amamos pelo que a pessoa tem de diferente e a gente nem sabe o que é, mas que nos encanta, e quando estamos perto sabemos que aquele é o amor de nossa vida. Nesse ponto os amados já estão na fase romântica.

A ciência diz que quando apaixonadas as pessoas ficam como que drogadas, devido a certas substâncias químicas produzidas pelo organismo que dão a sensação de satisfação. Nosso cérebro, que não é bobo, aumenta a produção de endorfina, considerada um analgésico natural, que reduz o estresse e a ansiedade e traz conforto, segurança e plenitude.

Porém nem tudo, no dia a dia, são flores e administrar essa relação, procurar ouvir e respeitar o outro, estando sempre atento às mudanças e nuances do cotidiano será fundamental a partir deste momento, para a manutenção do amor. Afinal, ninguém sabe quanto tempo vai durar esse “estado de graça” e, se o amor for malcuidado, a relação poderá entrar numa fase de desencanto, quando bate a sensação de que a pessoa dos sonhos parece ter se tornado uma pedra de gelo que se desfaz em nossas mãos. Sim, porque agora aquele “amor cego” começa a enxergar problemas que não via. Na dor, o amado se pune: “Eu não podia ter feito isso comigo, como pude me enganar tanto!”

O maior erro, neste momento, é, de novo, não encarar a realidade, refugiar-se no trabalho, achar que se trata de uma fase passageira e não procurar discutir o que está ocorrendo. Às 
vezes, em vez disso, o casal resolve ter um filho para “preencher o vazio” com uma criança. Isso pode até ajudar por um tempo, mas é um remédio com prazo curto de validade.

Quando o casal busca a conversa, adequando intimidade com individualidade, amando, mas sem sair da realidade, sem idealizar o outro, a relação entra na maturidade, atinge a fase da harmonia, na qual o que prevalece é a realidade, além do respeito ao outro e a si mesmo. A relação então poderá se reorganizar em bases sólidas. Mas isso exige dedicação e tempo. Afinal, o enamoramento pode ocorrer de repente, mas uma relação plena, não. 

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