Etimologia

por Deonísio da Silva* Publicado em 13/07/2010, às 14h26 - Atualizado às 14h27

Etimologia -
Intercâmbio: de câmbio, palavra derivada do verbo latino medieval cambiare, trocar, mas influenciado pelo italiano cambio, troca, permuta. O prefixo latino inter, presente em tantos outros vocábulos da língua portuguesa, indica entre, no interior, envolvendo dois ou mais. Intercâmbio aparece em muitos textos da mídia designando principalmente relações comerciais e culturais entre dois ou mais países. Estudantes brasileiros fazem proveitosos intercâmbios com colegas dos Estados Unidos e da Europa. Manha: do latim vulgar mania, habilidade no uso da manus, mão. Passou a designar astúcia, destreza, competência. E também birra, choradeira, queixa infantil sem causa. Neste caso, a origem é outra: mãe. Quando descobrimos um profissional muito talentoso no desempenho de seu ofício, dizemos que ele tem a manha para aquilo. É semelhante a artimanha, palavra igualmente procedente do latim, de arte magna, grande arte. Ócio: do latim otium, ócio, tempo de repouso, retiro, solidão. Entre os antigos romanos, designava o tempo de paz, tranquilidade, sossego, felicidade. Ócio é título de livro recente da artista plástica paulista Helena Carvalhosa (72). Comentando a notória habilidade e talento da autora, escreve na capa a estudante de Pedagogia da USP Marina Melo (19): "E juntando essa coleção de olhares ela cria novos objetos, objetos que não nos dão as respostas que nossos olhos procuram nos objetos: são só as sensações". O livro tem prefácio e versos do poeta matogrossense Manoel de Barros (93), que diz: "Gosto dos seus desobjetos. Também já fiz alguns, mas com letras. Assim: o prego que farfalha; uma presilha de prender silêncio; um abridor de amanhecer etc.". E a autora diz: "Não sei falar sobre o que faço, não tenho palavras, nem quero. Minha força vem de não saber. Mas os escritos de Manoel de Barros vieram ao encontro de meus sentimentos e por aí fui me entendendo nas palavras dele e me sentindo abastecida". Helena nos mostra como vê objetos quase inexprimíveis, para ela desobjetos. Patacoada: de pataca, antiga moeda portuguesa de cobre do século XVI, que valia muito pouco - cerca de 3 réis ao tempo de dom João III (1502-1527). Quem tivesse muitas dessas patacas não tinha grande coisa. Grande quantidade dessas moedas de pouco valia, por força do baixo valor. Passou por metáfora a designar lorota, mentira, palavras inúteis. Nos séculos seguintes, as pataca foi moeda também no Brasil, no México e no Uruguai. Mas não se deve confundir com a pataca de prata, que chegou a valer 340 réis. Atualmente os dicionários dão patacoada como sinônimo de bazófia, ostentação, jactância. Soltar: de solto, do latim soltus, redução de solvitus, utilizado em lugar de solutus, de solvere, solver, livrar, saldar, desatar. Ao saldar uma dívida, o devedor como que se solta do credor. É verbo de muitos significados. Soltar a mão da criança ao atravessar a rua pode ser perigoso. Ao conceder o habeas corpus, o juiz solta o prisioneiro. Quem quer cavalgar mais depressa, solta as rédeas do animal. E, por fim, soltar a franga, é desinibir-se em excesso. A expressão aplica-se a homens que de repente adotam gestos e falas afetados, próprias de certas caricaturas homossexuais. O professor Ari Riboldi explica em seu livro O Bode Expiatório: "O sentido literal refere o ato de soltar uma galinha que estava presa entre as mãos de uma pessoa. Ao sentir-se livre e solta, a franga ouriça-se toda e saltita". Como se vê, a galinha tornou-se franga na expressão porque o comportamento buliçoso é mais característico dos jovens do que dos maduros, mesmo entre os galináceos. Acrescentouse ainda o adjetivo leve em expressão semelhante: livre, leve e solta. Tipoia: de origem controversa. O mais provável é que proceda do quimbundo kipoia, dito também tipoia, padiola, rede para transporte de pessoas, que no quicongo é tipóoyu. Mas o tupi tinha tipoi, vestido sem mangas, camisola. Veio a designar tira de pano que se prende ao pescoço para apoio de mão ou braço machucados. Ortopedistas recomendam seu uso para imobilizar os membros superiores em caso de contusões, fraturas, luxações, artrites, bursites, lesões. Em geral a tipoia é feita de algodão reforçado. Antes do Acordo Ortográfico era escrita "tipóia".
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