Etimologia

por Deonísio da Silva* Publicado em 29/03/2010, às 14h34 - Atualizado às 14h40

Etimologia -
Brifar: do substantivo inglês briefing, resumo, do verbo to brief, resumir, que ganhou o sentido de instruções resumidas para fins militares e informação essencial. Depois se consolidou como informe oficial à imprensa. Brifar é dar instrução resumida, geralmente antes de alguma ação, com o fim de preparar uma pessoa ou um grupo para determinada maneira de agir. Como, além de fazer um briefing, se faz o debriefing, também do inglês, com o significado de relato sumário de como se deu a ação, está surgindo o neologismo debrifar. O dicionário Aulete já registra o verbo brifar. O Aurélio, o Houaiss e o Michaelis ainda não. Caixa-pregos: de caixa, do latim capsa, recipiente redondo no qual os romanos guardavam livros, então em forma de rolos, cujo étimo está presente também em cápsula; e prego, de pregar, do latim vulgar pliccare, com a pronúncia mudada para precare, depois precar e por fim pregar, alteração do latim culto applicare, aplicar, juntar. Passou a denominar lugar afastado, ermo, de difícil acesso, por influência da localidade denominada Cacha-Prego, no interior do município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, Bahia. Nas praias do lugarejo formavam-se antigamente piscinas rasas que ficavam cheias de peixes-pregos, que os pescadores pegavam com as mãos, sem necessidade de anzol ou rede. Pegar é sinônimo de catar, cuja variante dialetal nas redondezas é cachar. Esquimó: do algonquino askimowew, "ele a come crua", pelo francês esquimau, esquimó, que passou a designar os indígenas da América do Norte comedores de carne crua que, vestidos com peles de animais para suportar o frio intenso, moram em iglus. Quiasma: do grego khiásma, disposição em cruz, em forma da letra X, Khi em grego. O sinal, com o advento do cristianismo, recebeu também o nome de Cruz de Santo André, pois o apóstolo, a seu pedido, foi crucificado em duas peças de madeira inclinadas de modo a parecer uma cruz tosca. O sinal, posto à margem dos textos, indica discordância com a passagem assim assinalada. Quiasma é também uma figura de dupla antítese de termos cruzados, semelhando um trocadilho, de que são exemplos: "Vou sempre ao cinema, ao teatro não vou nunca"; "Meu filho abraçou-me carinhosamente, carinhosamente o abracei". O poeta carioca Olavo Bilac (1865-1918) apresenta o seguinte quiasma no poema Nel Mezzo del Camim, cujo título aproveita parte do primeiro verso de A Divina Comédia: "Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada e triste,/ E triste e fatigado eu vinha./ Tinhas a alma de sonhos povoada,/ E alma de sonhos povoada eu tinha...". Revalidar: de validar, do latim validare, fortificar, radicado em valere, ser forte, ter saúde, passar bem. Passou a designar ação de fazer com que um documento, válido no país de origem, seja oficialmente reconhecido também no Brasil, como hoje ocorre nos processos de reconhecimento de diploma obtido em outros países. Ziquizira: de origem controversa, mas provavelmente alteração de quizila, do quimbundo kijila, mandamento, do verbo kujila, jejuar. Quizila designa maldição que, em Angola, os negros lançavam sobre os filhos em forma de ameaça, se transgredissem as proibições de comer carne de veado, dizendo-lhes que, se assim procedessem, surgiriam manchas no corpo e eles morreriam. Os chefes tribais que arrebanhavam negros para serem vendidos como escravos lhes perguntavam se tinham quizila, isto é, se eram portadores de maldições. Quizila, claro, tornou-se sinônimo de má sorte, conflito, aborrecimento, alterando-se então para ziguizira e depois para ziquizira, forma que se consolidou, reduzida na gíria para zica apenas. Aparece nestes versos da antológica música do carioca Edu Lobo (66) e do paulista Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) tornados célebres principalmente pela cantora gaúcha Elis Regina (1945-1982): "Upa, neguinho, começando a andar./ Começando a andar, começando a andar/ E já começa a apanhar./ Cresce, neguinho, me abraça./ Cresce, me ensina a cantar./ Eu vim de tanta desgraça,/ Mas muito eu te posso ensinar/ Capoeira, posso ensinar,/ Ziquizira, posso tirar,/ Valentia, posso emprestar,/ Liberdade só posso esperar".
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