Etimologia

Redação Publicado em 23/10/2012, às 10h42 - Atualizado às 10h45

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Achaque: do árabe ax-xaka, mal-estar, indisposição, palavra abonada pelo escritor carioca Machado de Assis (1839-1908) no romance Memorial de Aires, narrado por velho que faz o balanço de sua existência: “Há dez dias não escrevo nada. Não é doença ou achaque de qualquer espécie, nem preguiça.” Achacar também veio do árabe xaka, queixa. Com a presença dos árabes na Espanha por sete séculos, deste étimo formou-se o hispano-árabe atxakka, aborrecer, incomodar e também extorquir, do Latim extorquere, torcer, obter algo por meio de violência física ou ameaça, fazendo extorsão, do Latim extorsione, que no Português recebeu também o significado de pagamento, tributo ou imposto indevidos. Assim, o guarda de trânsito que achaca o motorista não está sofrendo de achaque nenhum, a não ser a sem-vergonhice, a corrupção. Isto é, ele deixou, não de ter saúde, mas de ser íntegro, inteiro, foi rompido e corrompido.

Consultório: de consulta, e esta de consultar, do Latim consultare, pedir conselho, reunir-se com alguém para, ouvindo e falando, saber o que fazer. Consultório consolidouse para designar o local onde médicos e dentistas atendem seus clientes. Na antiga Roma, o trabalho do profissional de Medicina, sucessor do oráculo, oraculum, em Latim, resposta de um deus a uma pergunta feita no templo, estava ligado a funções sacerdotais. O templum era um quadrado, a céu aberto, traçado no céu e no chão pelo sacerdote, do Latim sacerdos, consagrando-o a algum deus.

Doente: do Latim dolente, que sofre dolor, dor. Na antiga Roma foi chamado também infirmus, enfermo, isto é, fraco, sem firmeza, que não conseguia ficar em pé. Depois da consulta, hoje um diagnóstico prévio, não mais uma bênção ou uma adivinhação para saber o que os doentes têm, poderão ser encaminhados a uma clínica, do grego kliniké, ali deitando-se em leitos, klinikó, diante dos quais os outros profissionais, com as devidas especialidades, poderão praticar cirurgia, do grego kheirourgia, trabalho com as mãos, pela formação kheirós, mão, e érgon, trabalho. Em Grego, dente é odontos. Por isso o ofício do dentista é chamado também odontologia. E ele mesmo pode ser designado odontólogo.

Escritório: do Latim scriptorium, lugar para scribere, escrever, com o stilus, estilo, varinha pontuda, de madeira ou de ferro, para marcar as letras em couros ou tábuas enceradas. Com o aproveitamento do papyrus, papiro, arbusto do Egito de cuja casca eram feitas as velas dos navios, estofos e papel para escrever, stilus, a varinha pontuda, foi substituída por penas de aves, molhadas em substância usada para tingere, tingir, de onde veio tincta, tinta, e o recipiente onde é posto o líquido, o tinteiro. Os locais onde trabalham advogados, contadores, financistas, negociadores e demais profissionais que dependem do ato de escrever, documentar, são chamados escritórios.

Sacerdote: do Latim sacerdos e também sacerdote, pela formação sacer, sagrado, e a raiz indo-europeia dhe, fazer, que foi parar no Grego e no Latim. O ofício do sacerdote é anterior ao do bispo, do Grego epískopos, guardião, protetor. No Antigo Testamento, temos o registro do primeiro sacerdote, Melquisedec. Até hoje, quando o bispo ordena sacerdote um clérigo, do Grego klerikós, de klêros, sorte, herança, ele diz as mágicas frases multisseculares: “Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melquisedec” (“Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”). O ofício da Medicina era sagrado porque o profissional era o mediador entre a deusa Sanitas, Saúde, e fazia as vezes de medicus, médico, intermediário entre o doente e a deusa para recuperar o dom da saúde.

Zureta: da redução do espanhol azoretado, alteração de azoratado, isto é, que se comporta como os habitantes da casa de orate, o hospício. Orat, em catalão, é louco, significado consolidado no Português. Marisa Raja Gabaglia (1942-2003), nas crônicas de Milho pra Galinha, Mariquinha, refere “um pobre louco manso, zureta completamente, mas inofensivo”. Atriz, jornalista e escritora, ela começou na TV Tupi, onde foi jurada do Programa Flávio Cavalcanti. Flávio (1923-1986) foi um dos primeiros telejornalistas do Brasil, famoso pelos cacoetes de tirar e pôr os óculos, e por levantar a mão e pedir “Um instante, maestro!”.

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