O mundo ocidental é orientado pela lógica e valoriza o pensamento racional e abstrato. Assim, os aspectos emocionais e intuitivos nos parecem menos importantes. Temos sentimentos e intuições como menores, ou "coisas de mulher". Mas, em nossa própria vida, são muitos os exemplos de como a razão e a lógica perdem a força e os argumentos diante de uma explosão emocional.
No mundo atual, aparência, consumo, posses e juventude parecem ter mais valor para nós do que alma e coração. Esse exagero, que não leva os sentimentos em conta, faz com que eles acabem aparecendo de forma violenta.
O envolvimento crescente com drogas, o alcoolismo, as neuroses, as pílulas da felicidade e o trabalho em excesso mostram a procura por alguma coisa que se perdeu, uma maneira de preencher a vida diante de uma incapacidade de introspecção, de valorizar os sentimentos e de nos contentarmos com pequenas coisas que nos emocionam. Não basta mais um jantar caseiro com um bom vinho e amor. Precisamos de vinho caro, restaurantes de luxo, comida sofisticada e carros potentes e blindados caríssimos, até para disfarçar a convivência com alguém que não amamos.
A desvalorização das emoções atrapalha nossas relações, já que desvalorizamos os sentimentos dos parceiros e também os próprios. Quando alguém tem uma doença e os exames não mostram, dizemos que "não é nada, é só emocional". Mas o emocional é muito importante, somos dependentes dele, nos domina nas horas menos convenientes.
Nas relações, o exemplo típico é o dos que escolhem parceiros só pelos valores materiais, sem se preocupar com sentimento. Escolhem por poder, beleza, dinheiro, não por qualidades como o caráter, a ética e afeto. No início pode funcionar, mas depois a rejeição aparece, seja em comentários sarcásticos ou brigas, seja em rejeição sexual. Sexualmente, é mais fácil para a mulher fingir. Para o homem, é quase impossível, só se for tão cínico e desligado de sentimentos que consiga se relacionar sexualmente com alguém apenas pelas vantagens. Mas felizmente não é assim. Se o corpo rejeita, é quase impossível forçá-lo. Razão e vantagens não bastam, mandam os sentimentos.
Em algumas relações, como no casamento aberto, no qual se aceita que o parceiro tenha outras experiências amorosas, em hipótese tudo funciona bem, mas, se amamos alguém, dificilmente aceitamos a infidelidade. As explosões de ciúme são terríveis. Todos já "perdemos a cabeça" e fomos dominados pelas emoções consideradas "inferiores" e desprezadas.
A ênfase na razão faz os sentimentos serem reprimidos e guardados num lugar "profundo e escuro", onde se acumulam e ganham força, como um pit bull criado preso numa corrente que, se for solto, sai matando e depois é tido como um animal agressivo. Como nossos sentimentos, ele não é feroz, só não foi criado com carinho e liberdade. Emoções reprimidas e incapacidade de expressá-las transformam-se em uma energia potencialmente violenta. Na terapia, podemos percebê-las em sonhos ou em expressões simbólicas, que deixam transparecer os conteúdos inconscientes.
Por isso devemos ensinar filhos e parceiros a expressar e cultivar o que sentem, a valorizar e cuidar com muito carinho dos sentimentos, para que depois eles não se transformem em uma fera que pode se voltar contra nós.