Ninguém é perfeito, por isso é fácil criticarmos nossos parceiros. Um atraso, um pouco de sal a mais na comida, o esquecimento de alguma coisa que precisava ser comprada, querer muito ou pouco sexo, ser bagunceiro ou arrumado demais, tudo é motivo para reclamarmos e exigirmos mudanças. No fundo, queremos moldá-los ao nosso próprio jeito de ser. Mas é bom refletir um pouco sobre até que ponto isso pode funcionar.
Claro que quanto mais parecido for o casal, menos pontos de atrito terá. Mas muitos parceiros têm gostos diferentes e, aí, sua única alternativa de entendimento é aprender a fazer concessões.
Temos um ideal romântico do casamento pelo qual imaginamos os casais juntinhos o tempo todo. Pensamos que casar ou ter alguém é uma forma de preencher nossas carências, nosso medo da solidão. Mas as pessoas têm necessidades diversas e muitas vezes precisam ficar sós. Aí é que começa a confusão. Alguns parceiros se ressentem se o outro reivindica um tempo apenas para si. Ficam desesperados e cobram a sua presença. Tal comportamento mostra insegurança e medo de perder, e em vez de atrair, prender, provoca o efeito oposto: a pressão afasta a pessoa, que se cansa de ser cobrada. Há, no limite, quem chegue a proibir o parceiro de se dedicar a uma vocação ou
hobby. Exige que faça uma opção:
"Ou o balé ou eu". No fundo, o temor é de que o ser amado, ao se apaixonar por um projeto ou desenvolver-se profissionalmente, passe a desprezá-lo ou desprezá-la.
No filme
Mentiras Sinceras, do diretor
Julian Fellowes (57), o marido pergunta à mulher por que o traiu. A conversa é mais ou menos assim:
"Sou por acaso cruel, descortês, ou ele é melhor do que eu? É mais bonito, mais rico, um amante mais eficiente?", ele pergunta. Ao que a mulher responde:
"Não é nada disso. É só porque é mais tranqüilo estar com ele. Não exige nada de mim, além do amor." O marido retruca:
"E isso é bom?" A mulher responde:
"Você é cheio de critérios, de certezas. Eu sempre o desaponto. Vivo tensa, com medo de fazer alguma coisa errada".
As exigências, as tentativas de mudar o parceiro ou a parceira por meio de críticas têm o efeito oposto. No mesmo filme, o marido ainda pergunta:
"Você me disse que não iria mais vê-lo, mas foi. Por quê?" E a mulher diz:
"Eu estava mentindo. Você exigiu que eu respondesse o que você pretendia e eu respondi."
Quando estamos com alguém que nos recrimina, nos critica e diz a todo momento que estamos errados, nosso corpo entra em tensão. Ao contrário, carinho e elogios têm o poder de nos relaxar, dão vontade de chegar perto, de nos entregar. Podemos fazer a experiência. Se apertarmos os músculos, franzirmos os olhos, cerrarmos os dentes e em seguida soltarmos, ficando relaxados, vamos sentir a diferença. O que é mais agradável, tensão ou relaxamento? Tentando segurar nosso parceiro e exigindo sua presença só conseguimos que ele se afaste aos poucos de nós.
O casal, além de uma vida em comum, deve ter interesses individuais, cada um desenvolvendo seu potencial e sua criatividade. Isso enriquece a relação. Se um gosta de pintura e o outro de dança ou de matemática, pode ser enriquecedor trocar conhecimentos, informações. Quem tem interesses próprios não vai ficar exigindo a presença constante do outro, nem perder tempo fazendo críticas. Quando ficarem juntos, um vai colaborar para o enriquecimento cultural e psíquico do outro e não sobrará tempo para mesquinharias como "você sempre..." ou "você nunca..."
Sugiro aos casais que se amam que deixem o outro livre para ser quem realmente é. Quanto mais usar seu potencial, mais alegre e relaxado ficará. A vida fora de casa, no trabalho, já é difícil e estressante. O lar deve ser o lugar onde podemos deixar de lado as convenções, sabendo que nosso companheiro ou nossa companheira nos ama como somos, sem qualquer tipo de recriminação.