Todos os anos, com a chegada da primavera, Porto Alegre sedia, na charmosa Praça da Alfândega, um dos mais tradicionais eventos culturais do Estado, a Feira do Livro. A cada edição, um escritor gaúcho é escolhido para ser o patrono do evento, tornando-se um símbolo da Feira. Em seu 55º ano, o evento tem como representante
Carlos Urbim. Imortal da Academia Rio-Grandense de Letras, onde ocupa a cadeira de nº 40, Urbim equilibra uma carreira respeitada como jornalista e autor de livros para crianças e jovens. Nascido em Santana do Livramento, em 1948, tem entre suas obras mais conhecidas verdadeiros clássicos da literatura para os pequenos no Estado, como
Um Guri Daltônico,
Diário de um Guri e
Saco de Brinquedos - muitos deles adaptados para o teatro. Seu livro mais recente é o infanto-juvenil
Admissão ao Ginásio, sobre as angústias de um menino que teme não passar nos exames orais e escritos que serão aplicados para sua admissão ao ginásio - sistema que vigorou no Brasil dos anos 1930 aos 1970. Casado com a jornalista gaúcha
Alice Urbim e pai de dois filhos, o escritor que desde 2003 é indicado todos os anos ao posto de patrono da Feira, falou ao Portal CARAS.
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Ao todo, foram sete indicações. Que sabor tem esta vitória?
- Eu fiquei extremamente emocionado e feliz. Eu já não aguentava mais ficar na fila, por isso, eu agarro este troféu com as duas mãos.
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A que você atribui esta conquista?
- Eu acredito que meu trabalho, aos poucos, se credenciou junto ao público leitor e principalmente junto a entidades de literatura. Outra coisa importante foi eu passar a ocupar a cadeira 40 da Academia Riograndense de Letras, o que me alça a condição de imortal gaúcho. Ao ser indicado, se confirmou que 2009 é o meu ano, pois eu comemoro nesta feira 25 anos de literatura. Foi aqui, na Feira do Livro de 1984, que eu lancei meu primeiro livro,
Um Guri Daltônico.
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Qual a responsabilidade de um patrono da Feira do Livro?
- É estar completamente aberto para tudo que a feira solicita e exige. Eu quero representar o bloco da alegria de ler, espalhar sorrisos e felicidade pela feira. O meu maior objetivo é que o interesse da leitura se mantenha por atitudes divertidas, brincalhonas e lúdicas, que é o que eu tento refletir em cada texto que eu produzo.
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Por que você escolheu as crianças como foco dos seus livros?
- Escrevo para crianças na tentativa de recuperar o que a vida contemporânea nos tirou, que é a vivência maior de pais com seus filhos. Ver se ainda é possível, na correria moderna, abrir espaços para exercer literatura oral de pai, mãe, tio, avô. Quero que todos possam relembrar causos, reproduzir para suas crianças o que uma vez nossos avós e pais nos transmitiam nos finais de dia, depois dos jantares.
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Suas histórias são autobtiográficas?
- O material que eu utilizo é totalmente autobiográfico. Eu comecei descobrindo a infância dos meus próprios filhos. Meus primeiros livros eram histórias que eu contava para os meus filhos.
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Uma lembrança antiga da infância....
- Eu venho de uma família classe média onde não havia muito livro em casa. Tão logo me dei conta de que eu estava alfabetizado, me inscrevi na biblioteca da escola. Eu podia levar um livro por semana. Lembro que eu chegava em casa e pedia para minha mãe forrar o livro com papel de pão porque eu gostava de levar pra cima da árvore que tinha no meu pátio e eu lia comendo um pão com geleia ou manteiga e sempre caía um pingo no livro.
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E nas horas vagas o que gosta de fazer?
- Gosto de fazer coisas com minhas próprias mãos, artesanato. Como sou daltônico, eu não sei usar cores, então tendo a trabalhar só com materiais de cor natural. Adoro cozinhar. Eu faço desde feijão até salmão e bacalhau que eu adoro. E para mim é um ritual, deixo tudo limpinho e organizado.