EM CASA RECUPERANDO-SE DA PERDA DE BEBÊ, A PAULISTA TEM PERFORMANCE PREMIADA EM CANNES
por Alberto Santiago
Batendo
Angelina Jolie (32), por
The Exchange,
Julianne Moore (47), por
Ensaio Sobre a Cegueira, do paulistano
Fernando Meirelles (52), e
Catherine Deneuve (64), por
Un Conte de Noël,
Sandra Corveloni (43) foi a Melhor Atriz no 61º Festival de Cannes. Além destas três estrelas, estavam no páreo a argentina
Martina Gusman, por
Leonera, a espanhola
María Onetto, por
La Mujer Sin Cabeza, e a albanesa
Arta Dobroshi, por
Le Silence de Lorna. Com sua contundente interpretação da doméstica Cleuza, mãe de quatro filhos e grávida de um quinto, em
Linha de Passe, dos cariocas
Walter Salles (52) e
Daniela Thomas (48), Sandra foi eleita pelo júri presidido por
Sean Penn (47) e quebrou jejum na categoria 22 anos após
Fernanda Torres (41) levar o mesmo troféu pelo belo
Eu Sei Que Vou te Amar.
"Achava que o filme ia ganhar algo, mas não imaginava que iria ser eu. Mas claro que, nas filmagens, brincávamos. Quanto mais me 'enfeiavam' para o papel, mais piadas do tipo 'o que uma pessoa não faz para ir a Cannes?' eram feitas", contou Sandra, nascida em Flórida Paulista (SP).
"Estou muito feliz, claro, mas, mais que um prêmio para mim, este é um reconhecimento ao nosso cinema", afirmou ela, que recebeu a notícia em casa, em São Paulo. Casada há dez anos com o italiano
Maurizio De Simone (50) e mãe de
Orlando (6), ela não foi à França pois, no dia 6, perdera o bebê que esperava,
Ana Clara, no quinto mês de gestação.
"Em um mês minha vida deu um looping.
Perdi um filho e ganhei este prêmio", avaliou ela. Ao receber o troféu em seu nome ao lado de Salles, Daniela disse, em português:
"Querida, você não pôde vir com a gente, mas seu espírito sempre esteve conosco."
Formada pela PUC-SP e atriz há 23 anos, Sandra pertence à elite do teatro nacional, integrando há 15 anos o Grupo Tapa, de
Eduardo Tolentino (53), com quem divide a direção de
Amargo Siciliano, em cartaz em SP. Entre outras montagens com o grupo estão as memoráveis
Contos de Sedução e Do Fundo do Lago Escuro. Seu teste para
Linha de Passe, filmado na Cidade Líder, periferia na região leste da capital paulista, durou um ano.
"Eles sabiam o que queriam: que a família parecesse real. Por isso, demoraram para escolher. Mas valeu a pena", lembrou ela, que, antes do longa-metragem, havia feito os curtas
Flores Ímpares, de
Sung Sfai, e
Amor, de
José Roberto Torero (44).
O Brasil brilhou ainda na 40ª Quinzena dos Realizadores, mostra do festival, com o diretor pernambucano
Bruno Bezerra, o
Tião (25) recebendo o prêmio Olhar Novo pelo curta Muro, que traz no título o mesmo substantivo que nomeia o vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme, o francês
Les Murs. Sandra e Tião passam a integrar o panteão brasileiro consagrado no festival. A linhagem foi aberta em 1953, com
O Cangaceiro, de
Lima Barreto (1906-1982), Prêmio Internacional de Melhor Filme de Aventura. A Palma de Ouro, o prêmio máximo, veio em 1962, com
O Pagador de Promessas, de
Anselmo Duarte (88). Cinco anos anos depois
Glauber Rocha (1939-1981) levou o Prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica por
Terra em Transe. Em 1969, Glauber foi o Melhor Diretor por
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. Em 1977, seu curta
Di Cavalcanti também foi laureado. Em 1982,
Marcos Magalhães levou prêmio pelo curta-metragem de animação
Meow. Em 2002,
Eduardo Valente (32) ganhou o Cinéfondation por
Um Sol Alaranjado.