No início dos vôos, o ar nos aviões é quase o mesmo que as pessoas respiravam fora deles. Mas, no decorrer da viagem, o aumento crescente da altitude causa um declínio constante da temperatura, com a redução da umidade relativa do ar, que chega a ficar entre 15% e 30%, nível classificado pelos organismos de saúde como "de atenção". O ar se torna, então, cada vez mais seco e frio. Além disso, ao passar pela turbina, é aquecido e perde mais água ainda.
E mais: o ar que se respira em terra, ao nível do mar, tem 21% de oxigênio. Nos aviões, com a pressurização da cabine, é como se as pessoas respirassem 15,1% de oxigênio ao nível do mar. Com isso, tendem a ter menos oxigênio nos pulmões e no sangue.
Nesse ambiente, o organismo das pessoas sadias em geral se adapta e, se não fizerem grandes esforços, não enfrentam problemas graves. A maioria tem mais sede e sente, no máximo, a pele e o nariz mais secos e os olhos irritados. Tais sintomas podem ser aliviados com a ingestão de líquidos durante o voo e a umidificação da mucosa nasal e da ocular com soro fisiológico. Essas medidas devem ser adotadas principalmente por quem já tem rinite e é mais suscetível a apresentar piora dos sintomas nasais, tendo espirros, obstrução nasal e, às vezes, até sangramento nasal.
Mas o ar mais seco e com menos oxigênio pode causar problemas sérios não só para quem tem rinite, como também para os que sofrem de sinusite crônica, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, bronquiectasias e doencas intersticiais pulmonares. O ar seco irrita a mucosa de suas vias respiratórias, a inflamação piora e suas defesas orgânicas perdem forca, o que os deixa mais suscetíveis a infecções como sinusite aguda, otite, faringite e pneumonia. Já os asmáticos, pelo aumento da inflamação nos brônquios, apresentam piora dos sintomas, como aumento da falta de ar, chiado no peito, tosse e dor torácica.
Portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica e de doenças intersticiais, que já têm menos oxigênio no sangue, podem apresentar piora importante da falta de ar e até evoluir para insuficiência respiratória, caso não estejam medicados adequadamente e com complementação de oxigenioterapia durante a viagem, principalmente se já fazem uso de oxigênio em casa. Tais pacientes devem ser alocados perto das toaletes para, em caso de necessidade, não precisarem se locomover por grandes distâncias.
Pacientes submetidos a cirurgias torácicas há menos de 15 dias ou com antecedentes de pneumotorax também devem conversar com seu médico sobre possíveis complicaçõoes no voo.
Um grupo pode ter ainda distensão abdominal, ou seja, aumento do volume do abdome por distensão dos gases no intestino, dificultando a expansão do tórax e prejudicando ainda mais a respiração. Para evitar que isso ocorra, não devem exagerar em comidas nem em bebidas alcoólicas durante o voo.
Diante do exposto, portadores de doenças respiratórias crônicas que precisam viajar devem, antes, consultar o seu médico. Só ele é capaz de fazer uma avaliação correta da gravidade do quadro de seu paciente, indicar medicamentos e orientá-lo sobre como agir se tiver problemas respiratórios numa viagem.