Violência contra a mulher começa com constrangimento psicológico

por Leniza Castello Branco* Publicado em 14/10/2010, às 11h24 - Atualizado às 11h55

Violência contra a mulher começa com constrangimento psicológico -
Os números assustam. No Brasil, 73 mulheres são violentadas e 12 assassinadas todo dia. Cerca de 40% dos casos ocorrem dentro de casa e o agressor é o próprio marido. Os episódios recentes, da advogada Mercia Nakashima e de Eliza Samudio, são macabros, verdadeiras histórias de terror. Violência desse tipo ocorre em todas as classes sociais e começa com ciúme e rejeição, na maioria das vezes sem base concreta. As denúncias são raras; a maioria das vítimas aguenta e continua a viver com aquele que pode vir a matá-las. Por que isso ocorre? Por medo, vergonha, carência, machismo e porque elas não acreditam que dormem com o perigo, potencializado pelo uso de drogas e bebidas alcoólicas. O machismo perdoa os homens e culpa as mulheres. "Se ouviu um gracejo pesado é porque estava vestida para isso", argumentam alguns. "Se foi violentada é porque se ofereceu e depois negou", dizem outros. Se um homem tem várias mulheres é um dom-juan, um sedutor, tem esse direito. Se é a mulher que se relaciona com vários parceiros, é considerada fácil, uma sem-vergonha. O senso comum é machista. Uma mulher que usa saia curta pode ser quase linchada, como ocorreu em São Bernardo do Campo (SP) com a estudante Geyse Arruda. Se um homem vai de short à escola, pode até ser proibido de entrar, mas isso jamais afetará sua honra ou ameaçará sua integridade física. É importante que a mulher fique atenta, pois a violência não é repentina. Um homem não é gentil e tranquilo e de uma hora para outra passa a ser violento com a mulher ou os filhos. Aquele que faz isso em geral é covarde, sem caráter. Tirando raras exceções, seu comportamento não tem nada a ver com doença mental. Ele começa a agredir com palavras, com proibições, com descaso. A mulher vai "engolindo" a violência psicológica, as reclamações sobre o vestido, "curto demais", as unhas, "compridas demais", os amigos, que "não prestam", as irmãs, "péssima companhia". E ele ainda diz que age "para o bem dela", o que a faz confundir seu desejo de dominar com amor e cuidado. Nesse ambiente, a mulher vai se isolando, passa a depender totalmente dele - e, quanto mais dependente, mais difícil reagir às agressões. Para piorar, como tende a ser maternal, está sempre pronta para perdoar. A mulher precisa saber que não deve, nunca, aguentar violência de marido, namorado ou amante. Se o namorado começa a proibir amizades, roupas ou atitudes, já está demonstrando o desejo de dominar. Se gosta dela, deve aceitá-la como é - ou que procure outra, que se vista como ele espera. Se o companheiro proíbe visitas de sua mãe ou de seus parentes, ela deve lembrar, a si e a ele, que a casa também é sua e que, quando casou, já tinha essa família e amigos. A situação atinge também as crianças, obrigadas a viver num lar violento. A mulher precisa valorizar-se e defender os filhos, para que não se tornem futuros agressores. Sua única culpa, se tem alguma, é tudo aceitar, não denunciar, proteger o agressor, continuar dependente dele. É premente que trabalhe para sua independência financeira e emocional, de modo a só ficar com quem a respeite e a trate como ser humano, com os mesmos deveres e direitos. Os casos recentes servem de alerta, mais uma vez, para que as terríveis estatísticas não cresçam.
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