Par ideal só existe dentro de nós. Tentar achá-lo é frustração certa

por <b>Leniza Castello Branco</b>* Publicado em 26/01/2010, às 15h57 - Atualizado em 27/01/2010, às 13h11

Par ideal só existe dentro de nós. Tentar achá-lo é frustração certa -
A busca pela perfeição, por alguém que nos preencha totalmente, não leva a lugar algum. No livro De Verdade, o húngaro Sándor Márai (1900-1989) afirma: "Não existe, nem na Terra, nem no céu, nem em lugar algum, aquela mulher de verdade. Existem apenas pessoas e em todas há um grão da verdadeira e nenhuma delas tem o que do outro esperamos e desejamos." Quando conhecemos uma pessoa, não sabemos como ela é. Podemos até nos apaixonar à primeira vista, mas é porque atribuímos ao outro nossa imagem interna ideal de homem ou de mulher. Esse alguém idealizado representa algo que nos faz falta, nos complementa. Enquanto a projeção existir, veremos a pessoa como perfeita, mas isso não dura para sempre. O psiquiatra suíço Carl G. Jung (1875-1961) chamou de anima, alma em latim, o aspecto interior feminino do homem e de animus o lado masculino interiorizado da mulher. São imagens formadas ao longo da vida, desde as primeiras experiências com o sexo oposto. Para uma menina, o primeiro homem e primeiro amor é o pai. A personalidade dele, o amor que manifesta ou não por ela, o valor que lhe dá como mulher, tudo isso influenciará seus relacionamentos futuros. Além do pai, um professor ou um avô podem ajudar a formar o animus da menina e terão papel decisivo na escolha de seus parceiros. Se o pai é forte e carinhoso, ela vai exigir isso dos homens. Um pai fraco, ausente ou violento pode levá-la a escolher homens que a maltratem, ou a fugir deles, escolhendo o oposto. Com o menino ocorre o mesmo. Sua mãe é a primeira experiência do feminino e ele vai buscar mulheres parecidas ou opostas a essa figura interna, sua anima. Pode ser sedutora, amiga e musa ou feiticeira, destruidora, terrível. Veja este exemplo: um homem carente procurava uma mulher que correspondesse aos seus ideais. Apaixonara-se várias vezes, mas logo a paixão diminuía. É que elas podiam ter algumas das qualidades, mas não todas, e quando tinham quase todas ele fugia, com medo de ser sufocado. Não entendia por que fugia, e as culpava. Quando compreendeu que elas não queriam sufocá-lo mas só ficar ao seu lado, e que ele projetava sobre elas a imagem da mãe dominadora, pôde finalmente encarar sem medo um relacionamento. Como Narciso, nos apaixonamos por nós mesmos no espelho. Como isso não existe, trocamos repetidamente de parceiro ou ficamos sós. As projeções que fazemos são instintivas. Não percebemos que buscamos algo que não existe e culpamos o outro por não corresponder à nossa idealização. A mulher encantadora do início do relacionamento torna-se ameaçadora, pois começa a cobrar compromisso, já que também se apaixona. O homem que parecia carinhoso e protetor começa a fugir ou a agredi-la. Nesse círculo vicioso, os dois vão se afastando. Como resolver o dilema? Conscientizando-se de que nunca vamos encontrar esse ser perfeito, que é só nosso príncipe ou princesa encantados, não resiste à convivência. E também conhecendo nossos defeitos, não culpando o outro por problemas que são dos dois. A verdade pura não existe. Cada um vê o parceiro pela sua ótica. Para convivermos com alguém temos de ser tolerantes e amá-lo até pelos defeitos, desde que haja lealdade, carinho, reciprocidade. Se esperarmos encontrar nosso ideal, vamos sempre nos frustrar.
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