Joias e Acessório

A volta do artesão

Para recuperar a aura de exclusividade, grifes investem no trabalho feito à mão por especialistas

Redação Publicado em 22/06/2010, às 17h46 - Atualizado em 24/06/2010, às 15h22

Baú Louis Vuitton revestido de couro com compartimento para duas taças e balde de gelo - Reprodução
Aprodução em massa desviou os holofotes de tudo aquilo que era luxuoso. Mas, aos poucos, as pessoas se cansaram da mesmice. E hoje, quase na virada da década, estamos diante do renascimento do artesão. Um profissional que, acima das leis de mercado, faz o que sabe e se orgulha disso. Em um mundo onde as relações estão cada vez mais intermediadas - livros em leitores eletrônicos, amigos em redes sociais virtuais, compras on-line - é raro ter algo palpável, que tenha sido feito por alguém de verdade e possa te acompanhar. No século 19, o designer e filósofo Willian Morris disse que a alma do artesão está no produto que ele faz. E é isso que torna suas criações únicas. Desde que abriu seu ateliê, há dez anos, a joalheira Patrícia Centurion desenha, supervisiona e vende as cerca de 200 joias produzidas por ano. "Minha presença é um diferencial", diz. Aproximidade com os clientes faz com que eles se sintam à vontade para perguntar coisas que, em outras circunstâncias, não perguntariam. "Às vezes, eles querem entender por que um anel de citrino custa mais do que um de diamante ou por que dois rubis têm preços diferentes", diz a joalheira. "Entender como a joia é feita aumenta a satisfação na hora da compra, porque a pessoa leva exatamente o que queria", afirma. Outra vantagem do trabalho feito à mão, sob medida, é a possibilidade de brincar com materiais e formas. "Há coisas que não se consegue fazer com máquina", diz Cristiano Rodrigues, designer de sapatos da Zeferino. Seus calçados são cheios de pregas, origamis, dobraduras, rendas francesas e até tachas de pérolas. "O que nós fazemos é alta-costura", diz Rodrigues. Um escarpim básico demora dois dias para ficar pronto. Apenas um bordado com rebites gasta metade desse tempo. O produto final é mais fino, com pontos mais sutis, um shape mais delicado e confortável. Com a recente crise mundial, a Louis Vuitton mudou sua estratégia e voltou a destacar os artesãos. Três deles, inclusive, estavam nas campanhas publicitárias impressas da grife. E em seu histórico e tradicional Atelier de Asnières, perto de Paris, a Louis Vuitton faz uma distinção entre pedidos feitos sob encomenda e feitos especialmente. Os primeiros representam um serviço exclusivo, que permite que determinados itens da coleção permanente sejam reinterpretados em outros materiais. Mas os outros são, verdadeiramente, especiais. E únicos. São o resultado da união entre os desejos dos clientes, as técnicas e normas de design da marca e o talento extraordinário de seus artesãos. Todo o departamento é supervisionado por um artesão particularmente importante, Patrick-Louis Vuitton, representante da quinta geração da família que fundou a marca, no século 19. Especialmente dentro do mercado de luxo, as pessoas têm procurado cada vez mais produtos exclusivos que as diferenciem das outras e que tragam status e satisfação pessoal. "O relógio de pulso é ideal para isto, pois, diferentemente de um quadro ou de um carro, pode acompanhar o dono e ser até um patrimônio familiar", diz César Rovel, especialista em relógios e editor do website Relógios & Relógios. De olho nesse filão, a indústria suíça, a mais tradicional no assunto, tem investido na alta relojoaria. Mas não somente na produção de peças cada vez mais mecanicamente sofisticadas, como também na revitalização de antigas técnicas de decoração, como o esmaltado e a gravação.Os recém-lançados Vacheron Constantin Métiers D'Art, por exemplo, possuem mostradores laqueados manualmente que levam mais de três semanas para serem feitos. O status de obras de arte é merecido, afinal, não é tarefa fácil encaixar até mil peças em um finíssimo mostrador de relógio. O custo é alto, mas materializar o tempo, os desejos, as diferentes personalidades e o conforto nunca foi barato. Felizmente, no mercado há lugar para todos. E a excelência volta a ganhar espaço. No fundo, objetos assim, minuciosamente trabalhados, são um símbolo da capacidade realizadora do homem.
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